O dólar hoje encerrou as negociações de quinta-feira (3) a R$ 5,4050, menor nível desde agosto de 2024, após sofrer uma queda de 0,28%. O desempenho da divisa americana refletiu a entrada de investidores estrangeiros no mercado brasileiro. Ao Broadcast, Anilson Moretti, head de câmbio da HCI Advisors, avaliou que os gringos continuam com migração de capital para os mercados emergentes, como a Bolsa e renda fixa do Brasil, porque ainda há dúvidas sobre o ciclo de corte de juros nos Estados Unidos.
“No exterior, apesar da inflação controlada nos EUA, a disputa tarifária e o pacote fiscal de Trump podem adiar cortes de juros, sustentando o dólar e os rendimentos dos Treasuries”, diz Moretti. Dados mais recentes da B3 mostram que o saldo do capital estrangeiros no Brasil já soma um total de R$ 26,8 bilhões. O mercado acompanhou também a divulgação do relatório oficial de empregos dos Estados Unidos (payroll) que mostrou um mercado de trabalho mais resiliente do que o previsto. Segundo o Departamento do Trabalho no país, a economia americana criou 147 mil empregos em junho, em termos líquidos. Já a taxa de desemprego caiu 4,1% no mês.
“O número forte de geração de empregos traz uma expectativa de continuidade do crescimento robusto da economia americana, após um período de receio de desaceleração econômica ou recessão mais firme”, diz Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad. Os números, segundo a especialista, também estimulam a tomada de risco globalmente, o que ajudou o Ibovespa, principal índice da B3, a renovar a sua máxima histórica no fechamento.
Os investidores repercutiram também a aprovação do pacote orçamentário do presidente americano, Donald Trump, na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos. A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, anunciou que Trump assinaria o projeto de lei na sexta-feira (4) às 17h (horário dos EUA) em cerimônia na Casa Branca.
Dólar em queda
Na sessão de quarta-feira (2), o dólar fechou o dia com uma queda de 0,75%, a R$ 5,4202 – o seu menor valor desde agosto de 2024. Como mostramos nesta reportagem, a política monetária do Brasil, que ainda permanece bastante restritiva, teve forte peso no desempenho do mercado de câmbio. Com a Selic a 15%, os investidores internacionais encontram no Brasil uma oportunidade de ganhar dinheiro com a diferença de juros em relação a outras economias, especialmente as desenvolvidas.
No entanto, a apreciação do real frente ao dólar não deve ser interpretada como sinal de equilíbrio. Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T XP, ressalta que, para que a valorização do real frente à moeda americana siga consistente, será necessário que haja avanços na agenda econômica doméstica, como a redução do risco fiscal. “A valorização do real segue sustentada por fatores técnicos e globais, mais do que por fundamentos domésticos”, diz.
Mercado aguarda desfecho sobre IOF
No entanto, desde a semana passada, o mercado acompanha o impasse em torno do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que, a depender do desfecho, pode azedar o humor dos investidores. Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) na tentativa de manter a validade do decreto responsável pelo aumento do tributo que foi derrubado pelo Congresso.
A decisão deve acirrar ainda mais a relação entre o Poder Executivo e o Legislativo. Já entidades empresariais, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), pediram ao STF para manter a decisão dos parlamentares. “A judicialização do decreto do IOF, a ameaça de novas propostas no Congresso que ampliam a rigidez orçamentária, amplia a percepção de falta de articulação na política fiscal”, diz Costa.
Apesar do cenário incerto no exterior e do risco fiscal doméstico, a Porto Asset reduziu a projeção do dólar para o fim de 2025 de R$ 6,25 para R$ 5,25 ao enxergar uma apreciação significativa do câmbio no primeiro semestre do ano. Para 2026, a gestora estima uma cotação de R$ 5,80 para a moeda americana.