Para Thiago Godoy, educador financeiro e cofundador da BEM Educação, esse tipo de iniciativa pode facilitar o aprendizado. “Existe um caminho em que você vai evoluindo para ganhar mais pontos. O processo de gamificação é algo positivo porque oferece uma sensação de progresso para o jovem e até para o adulto”, afirma.
Ele ressalta que o jogo sozinho, no entanto, não é suficiente para oferecer uma experiência completa de educação financeira. Os filhos se inspiram no exemplo dos pais e podem ser influenciados por eles a planejarem ou não os seus gastos. Por isso, é importante envolvê-los nas decisões diárias.
A educadora financeira Aline Soaper entende que os jogos apresentam uma linguagem próxima dos mais novos, usando a dinâmica de premiações. “A gamificação é importante para que os jovens se interessem pelo assunto”, ressalta.
Segundo ela, esses projetos podem ser considerados ferramentas complementares ao processo educativo trabalhado em casa e nas escolas. Soaper desenvolve o projeto Efinckids, que leva educação financeira para as salas de aula, e vê as crianças compartilhando com os pais os ensinamentos aprendidos no colégio.
Para quem deseja se aprofundar de forma lúdica em assuntos ligados a dinheiro, o E-Investidor selecionou opções de jogos sobre diferentes temas, desde planejamento financeiro até criptomoedas. Confira a seguir:
Duelo dos investimentos
Em 2024, o PagBank, em parceria com a B3, lançou o jogo Duelo dos Investimentos, inspirado no clássico Super Trunfo. Nele, o jogador escolhe um entre seis oponentes, cada um com um perfil de investidor diferente, e participa de disputas usando 27 cartas que representam formas diversas de poupar e investir dinheiro.
Banco Imobiliário
No ano passado, outro clássico foi reinventado: o Banco Imobiliário. Na versão reformulada pelo PagBank em colaboração com a Estrela, o jogo inclui elementos contemporâneos como cartões e maquininhas de pagamento. O jogo gira em volta da compra e venda de propriedades.
Crushing Cripto
Em fevereiro de 2025, o PagBank decidiu apostar em um game voltado para o universo dos criptoativos: o Crushing Cripto, lançado com o apoio da B3. Nele, os jogadores avançam por diferentes ilhas temáticas, passando por fases e elementos que explicam os conceitos e o ciclo do mercado de criptomoedas.
Universo CAIXA
Na plataforma Roblox, usuários podem encontrar o Universo CAIXA, da Caixa Econômica Federal. Os Poupançudos são os personagens da experiência digital e os participantes podem acumular moedas – as CAIXA Coins – ao completar desafios, para poupar, investir e desbloquear novas fases e ganhar acessórios, como bonés, mochilas e óculos, que melhoram o desempenho dentro do ambiente.
Rolê que Rende
O Banco do Brasil possui o jogo Rolê que Rende no Roblox. Voltado para crianças, adolescentes e universitários, ele permite a participação simultânea de até 4 participantes. O jogo de tabuleiro digital simula, de forma lúdica, o dia a dia dos jovens, abordando imprevistos, desafios e conquistas. A experiência incentiva a busca de soluções estratégicas para lidar com questões financeiras, promovendo um equilíbrio entre gestão de dinheiro e vida social.
Jogos para menores de idade: quais cuidados tomar?
Enquanto existem jogos que aproximam os jovens da educação financeira, outras modalidades podem oferecer riscos aos mais novos ao envolverem transações e pagamentos em troca de prêmios. Nesses casos, é preciso ter alguns cuidados para que o uso seja feito de maneira responsável.
Gustavo Biglia, sócio do Ambiel Advogados e especialista em regulação de jogos e apostas, diz ser essencial, antes de tudo, que os pais conversem e orientem os filhos para utilizar os jogos, fazendo-os entender que as atividades podem envolver o gasto de dinheiro de verdade, e não fictício. Além disso, destaca ser importante um mecanismo de proteção dentro das plataformas que são destinadas para menores de idade.
“As plataformas podem usar como exemplo o que tem sido feito dentro dos sites de apostas, com reconhecimento facial e envio de documentação”, avalia Biglia. “Vale ter um nível de restrição para menores, com dupla verificação na hora de efetuar o pagamento e vinculação com o telefone de um responsável”, acrescenta.
Outro ponto que merece atenção não somente das famílias, mas também das autoridades, é em relação à legislação específica dos jogos pensados para esse público. Marcel Belfiore, sócio do Ambiel Advogados e especialista em Direito Desportivo, com atuação em Jogos Eletrônicos e eSports, explica que muitos games, apesar de envolverem transações financeiras, acabam passando longe do radar da fiscalização.
“É necessário olhar um pouco para esse mercado naquilo que se refere a transações financeiras, sobretudo porque é o tipo de atividade que acaba também envolvendo menores, então, a preocupação fica ainda maior”, avalia.
Segundo ele, limitações específicas têm que ser pensadas para esses tipos de jogos que englobam pagamentos, mas apresentam uma dinâmica diferente das apostas. “Para esse setor, ainda não existe uma regra geral e o próprio provedor do jogo coloca as normas que deseja”, explica Belfiore.
Outras iniciativas para conquistar o público jovem
Além dos jogos, outras instituições buscam desenvolver estratégias para ampliar o acesso à educação financeira. Esse é o exemplo da Academia Quanta de Educação Financeira, com a plataforma ACQUA, e da B3.
A ACQUA é gratuita e oferece cursos voltados para finanças pessoais, investimentos, previdência e comportamento financeiro. “Na ACQUA a gente traz conteúdos para vários níveis de entendimento, desde finanças básicas, descomplicando o mercado financeiro, até como começar a investir”, detalha Mayara Santos, Head de Gente, Cultura e Educação na Quanta Previdência.
Os jovens Henrique Lana, de 19 anos, e Marina Verzola, de 25 anos, contam que já realizaram cursos na plataforma, o que os possibilitou ampliar os seus conhecimentos na área. “Sou estudante de economia e meu interesse é pelo mercado financeiro. Já fiz alguns cursos e ouvi podcasts sobre o tema, o que ajuda muito o jovem que está passando para a fase adulta agora e começando a trabalhar”, explica Lana.
Verzola, por sua vez, relata que realizou cursos introdutórios ao mundo das finanças. “Já fiz um módulo de educação financeira e como eu não sou da área, sou da parte de comunicação, é algo que me auxiliou a entender melhor o que é o Tesouro Direto, renda variável e aquilo que eu não tinha conhecimento”, conta.
Atualmente são 41 cursos disponíveis na ACQUA, sendo que os mais acessados são “Finanças e comportamento”, que explora a influência de hábitos e crenças no uso do dinheiro; “Descomplicando o mercado financeiro”, para quem quer começar a investir; “Educação financeira de longo prazo”; “Planejamento previdenciário”, voltado a quem deseja estruturar seu futuro financeiro e “Investimentos para longevidade”, que incentiva o planejamento para a aposentadoria.
A B3 também oferece cursos gratuitos e on-line. Direcionados para variados níveis de conhecimento, usuários podem encontrar temas que vão desde fundamentos teóricos do mercado de capitais até aulas sobre assuntos como criptomoedas. Um exemplo de curso pensado para iniciantes é o “Comece por aqui: para investir”. Com duração de três horas, ele ensina sobre os fundamentos do mercado de capitais, renda fixa, renda variável e a importância de investir de forma consciente, diversificando suas aplicações e planejando seus objetivos.
Para quem se interessar e quiser explorar mais opções de curso sobre finanças, basta acessar o site da B3 Educação e escolher o que mais se encaixa com os seus objetivos.