Conheça o método que une psicologia e finanças. Foto: Adobe Stock
O dinheiro pode ser um dos maiores gatilhos de estresse na vida adulta e, para algumas pessoas, até motivo de fobia. Mais do que números e planilhas, lidar com finanças envolve um mergulho profundo no campo emocional. Nesse cenário, a chamada terapia financeira vem ganhando espaço como alternativa para quem precisa reorganizar o orçamento e a relação com o dinheiro.
Conforme matéria do E-Investidor, pesquisa da Serasa mostra como o dinheiro e saúde mental estão relacionas. A paulistana Maria Clara Campos, 49 anos, sentiu esse peso.
“Eu costumava acordar às três da manhã pensando no que estava devendo e não conseguia mais dormir. Só melhorou quando comecei a fazer terapia”, conta ela.
Professora universitária, Campos hoje desembolsa cerca de R$ 2.800 por mês com tratamento psiquiátrico, terapia e medicamentos.
“Eu achava que era fraca por não dar conta dos boletos, mas entendi que precisava cuidar da cabeça antes de resolver qualquer coisa”, disse Campos.
Para a psicóloga Valéria Meirelles, especialista em finanças comportamentais, a vergonha de pedir ajuda é um obstáculo que prolonga o sofrimento. Ela defende que empresas e instituições ofereçam apoio psicológico e orientação financeira, já que dívidas afetam produtividade e bem-estar no trabalho.
“Não se trata de incompetência, mas de um desgaste emocional que poderia ser evitado com suporte psicológico e financeiro”, afirma Meirelles.
Especialistas concordam que o equilíbrio financeiro começa com um diagnóstico claro do orçamento, mas que a organização só funciona quando a mente está saudável.
Entenda sobre a terapia financeira
A terapia financeira é uma abordagem que une técnicas de psicologia e educação financeira para ajudar as pessoas a entenderem e mudarem sua relação com o dinheiro.
Mais do que ensinar a fazer um orçamento ou investir, ela investiga a raiz emocional de comportamentos financeiros, como gastos impulsivos, medo de abrir o extrato ou dificuldade em poupar, e trabalha para reprogramar padrões prejudiciais.
O objetivo da terapia financeira é que o indivíduo consiga alinhar suas decisões financeiras aos seus valores e metas pessoais, reduzindo o estresse e conquistando mais equilíbrio emocional e econômico.
Caso real da aplicação da terapia financeira
A redatora freelancer Anna Davies, de Nova Jersey (EUA), descobriu na prática o resultado da terapia financeira e compartilhou com o BBC.
Mãe, solo e especialista em finanças pessoais, ela sabia, na teoria, como economizar e investir, mas não conseguia aplicar no próprio dia a dia. O impasse a levou a buscar um terapeuta financeiro.
“É mais fácil falar sobre sexo e relacionamentos românticos do que sobre dinheiro”, admite Davies à BBC, lembrando do desconforto que sentiu ao mostrar extratos bancários durante a primeira sessão.
Segundo Brendan Burchell, professor de ciências sociais da Universidade de Cambridge, o chamado “medo de lidar com o dinheiro” é um fenômeno real e pode se manifestar de formas diversas, desde evitar abrir o extrato bancário até gastar compulsivamente para aliviar a ansiedade.
“Realmente parece uma fobia, em muitos aspectos”, disse à Burchell.
Para casos assim, ele recomenda abordagens estruturadas como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que ajuda a reconhecer gatilhos e reprogramar padrões.
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No entanto, a terapia financeira, portanto, não é uma “cura rápida”, mas um caminho para compreender como emoções moldam escolhas financeiras. Ao alinhar hábitos de consumo aos valores pessoais e desenvolver estratégias para lidar com gatilhos emocionais, é possível construir não só um orçamento mais sólido, mas também uma relação mais saudável com o dinheiro.