BBAS3: Banco do Brasil diz ter testado intermediação de créditos de carbono e defende criar certificadora e bolsa nacional para dar escala ao mercado voluntário. (Foto Adobe Stock)
O Banco do Brasil (BBAS3) divulga nesta quinta-feira (14) o balanço do segundo trimestre de 2025, mas, para além do resultado, a instituição já acena para um novo campo de negócios: o mercado de créditos de carbono. A presidente da instituição, Tarciana Medeiros, revelou que o banco realizou os primeiros testes de intermediação financeira com esses ativos e defende a criação de uma certificadora e uma bolsa nacional para negociá-los.
“Fizemos as primeiras operações de intermediação de contratos de crédito de carbono. Então, tenho empresas ou clientes ou produtores que têm o crédito de carbono disponível para comercialização e a gente tem as empresas que têm como objetivo o net zero na sua produção”, disse, durante evento “A Transição Energética e a Sustentabilidade do Futuro” na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no Rio de Janeiro, em 9 de julho.
Net zerorefere-se à neutralidade em relação aos gases de efeito estufa (GEE), ou seja, estado em que existe equilíbrio entre a emissão e a remoção dos poluentes.
Segundo Medeiros, o objetivo é posicionar o BB não apenas como participante, mas como agente central da cadeia de valor do carbono no Brasil, oferecendo serviços que vão da certificação à intermediação de contratos. A iniciativa está sendo discutida com o BNDES, que também atua na estruturação de um mercado doméstico para o setor.
O que são créditos de carbono
Os créditos de carbono são certificados que representam a redução ou remoção de uma tonelada de dióxido de carbono (CO₂) ou gás equivalente da atmosfera. Eles podem ser gerados por projetos como reflorestamento, preservação de áreas nativas, energias renováveis ou tecnologias que evitem emissões.
Empresas, investidores e o próprio poder público compram esses créditos para compensar suas emissões, atendendo metas ambientais ou voluntárias de sustentabilidade.
No mercado voluntário, como o que o Banco do Brasil pretende intermediar, organizações, empresas e indivíduos podem comprar e vender créditos de carbono a fim de compensar seu impacto ambiental no que tange a emissão de gases de efeito estufa, de forma voluntária, isto é, sem obrigações legais. Para entender mais do assunto, confira a matéria do E-Investidor neste link.
Potencial e impacto do mercado de crédito de carbono
A entrada do BB no segmento pode criar novas fontes de receita para a instituição e abrir oportunidades para diferentes públicos:
Produtores rurais poderão monetizar projetos de preservação ou recuperação florestal com maior segurança jurídica;
Empresas terão mais facilidade para adquirir créditos de forma transparente, atendendo às metas de redução de emissões;
Investidores podem se beneficiar da liquidez e da padronização de um mercado nacional, o que tende a reduzir custos e ampliar a confiança nas operações.
“É um mercado novo no Brasil, mas com grande potencial de escala. Se conseguirmos estruturar uma plataforma nacional, poderemos ampliar a participação de produtores e compradores”, disse Medeiros em vídeo produzido pela TV 247.
Desafios pela frente
Apesar do avanço, ainda há obstáculos para o mercado voluntário de carbono, como a padronização de metodologias, o risco de greenwashing (prática enganosa de promover produtos e ações como se fossem sustentáveis) e a sobreposição de iniciativas internacionais. A criação de uma certificadora nacional do porte do BB poderia minimizar esses riscos, mas dependerá de critérios técnicos sólidos e reconhecimento por parte de compradores globais.
O BB não informou detalhes sobre os testes realizados – como número de operações, setores envolvidos ou valores negociados. Também não há um cronograma público para a implementação da certificadora e da bolsa de carbono, caso o projeto avance.
Enquanto os investidores aguardam os números do segundo trimestre de 2025, o movimento sinaliza que o banco está de olho em um setor que combina sustentabilidade, inovação financeira e potencial de monetização de ativos ambientais. A consolidação desse mercado no País, contudo, vai depender tanto da regulação quanto do apetite de empresas e produtores para participar das negociações.