Sede do Banco do Brasil em Brasília: balanço do 2º trimestre expôs desafios com inadimplência no agro e menor pagamento de dividendos. (Foto: Adobe Stock)
A crise recente do Banco do Brasil (BBAS3) gerou intensos debates no mercado financeiro e entre influenciadores de investimento. A piora dos resultados no 2º trimestre de 2025, a redução do payout de dividendos e o aumento da inadimplência, sobretudo no agronegócio, acenderam sinais de alerta para os investidores. Enquanto parte do mercado adota uma postura mais cautelosa, outros enxergam no cenário uma oportunidade de longo prazo, desde que os riscos sejam bem compreendidos.
O balanço divulgado em 14 de agosto confirmou o pessimismo que já rondava o banco. O lucro líquido ajustado somou R$ 3,784 bilhões, uma queda de 60% em relação ao mesmo período de 2024 e bem abaixo das projeções da London Stock Exchange Group (LSEG), que estimavam R$ 5 bilhões.
A instituição também revisou suas estimativas de lucro líquido ajustado para 2025, agora entre R$ 21 bilhões e R$ 25 bilhões, inferior a faixa anterior de R$ 37 bilhões a R$ 41 bilhões. Em paralelo, reduziu o payout para 30%, contra 40% a 45% previstos inicialmente.
Segundo analistas, os principais fatores para a deterioração dos resultados foram o aumento expressivo das provisões para devedores duvidosos (PDD), que cresceram cerca de 80% no comparativo anual, retirando quase R$ 14 bilhões do balanço.
A deterioração da carteira de crédito no agronegócio e nas micro, pequenas e médias empresas (PMEs), combinada à Resolução 4.966 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que antecipou perdas futuras, pressionou ainda mais os números.
Além disso, o retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROE) caiu ao menor nível desde 2016, o ROI (Retorno sobre Investimentos) recuou a 8,4%, o segundo pior índice desde 2000 entre grandes bancos – e o aumento do custo de funding reduziu a margem financeira.
O que dizem os influenciadores?
Na Live da AGF, plataforma de investimentos, Louise Barsi, investidora profissional, criticou o comportamento de acionistas que tentam se guiar pelo curto prazo.
“Quem planta vento, colhe tempestade. Se vocês ficarem tentando adivinhar cotação de curto prazo, vão perder dinheiro”, afirmou. Para ela, a decisão sobre manter ou não ações do Banco do Brasil (BBAS3) deve estar ligada à confiança na capacidade de recuperação da instituição, não em movimentos momentâneos de mercado.
Já o analista Pedro Galdi (CNPI) também da AGF, com exclusividade ao E-Investidor, defendeu uma visão mais otimista. Ele classificou a piora dos resultados como pontual e não estrutural. Galdi afirmou:
Nossa visão para as ações do Banco do Brasil continua com viés positivo, mesmo considerando a piora do resultado do 1S25, que entendemos ser um evento pontual e que não fere os fundamentos da instituição.
Para ele, a redução dos dividendos deve ser temporária, associada ao aumento de provisões, e tende a se normalizar já no próximo ano. Em sua avaliação, as ações do Banco do Brasil continuam sendo um “excelente ativo para formação de carteira previdenciária”.
Na visão de Thiago Nigro e Bruno Perini, investidores profissionais e fundadores do canal O Primo Rico, a comparação inevitável foi com o Nubank (ROXO34).
“O resultado do Nubank veio muito bom, com 12 anos de história está lucrando igual o Banco do Brasil que tem quanto? Mais de 100 anos de história”, ressaltouPerini. Nigro completou lembrando que ambos registraram lucro líquido de R$ 3,8 bilhões no último balanço, ressaltando que o desempenho do banco estatal foi impactado pela queda de 60%.
Outro ponto levantado pelos dois influenciadores foi a defasagem tecnológica do BB frente às fintechs.
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“Me parece que tá bem antiquada, mas fiquei sabendo que o pessoal tá começando a colocar lá dentro IA”, disse Nigro. Para Perini, é difícil uma estatal competir nesse campo: “O Nubank é case da OpenAI, então eles tão usando muito bem”.
As fragilidades também aparecem no crédito. Perini contou que, em reunião com uma gestora que prefere não ser mencionada, ouviu críticas ao modelo de concessão do BB, especialmente no agronegócio, onde as garantias seriam menos sólidas. Ele destaca:
Não é que o banco vai quebrar, nada disso, mas o lucro deve diminuir e ficar pressionado por mais tempo do que o mercado enxerga hoje.
Nigro, por sua vez, lembrou que a inadimplência ultrapassou 6% – um recorde – e, somada à queda das commodities, cria um cenário desafiador. Ainda assim, ele ponderou que a queda de juros prevista para 2026 pode mudar a equação.
Não é o fim do mundo!
A analista e educadora financeira Beatriz Aguilar, do canal Papo de Bolsa, reforça que a situação é grave, mas não inédita. “Acho que inclusive lá em 2016 a gente viu um cenário pior”, comentou.
Para ela, a teleconferência com executivos do BB (realizada dia 15 de agosto) trouxe algum alívio ao mercado, já que as ações naquela sexta-feira chegaram a subir mais de 2% mesmo após a divulgação de resultados piores do que o esperado.
Aguilar destacou que a margem financeira bruta caiu 1,9% em relação a 2024 e que a inadimplência no agro atingiu 3,49%, bem acima da média histórica do setor.
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Ela explicou que o modelo de crédito rural, em que os pagamentos acontecem geralmente após a safra, faz com que o risco se acumule ao longo de ciclos de até 36 meses.
Isso impacta muito mais o Banco do Brasil justamente pelo perfil da dívida do Agro e como é feito o pagamento desse crédito.
Outro ponto de preocupação foi a redução do payout, que caiu de 45% para 30%. Segundo Aguilar, essa medida reflete a necessidade de preservar capital diante da maior pressão com provisões.
O efeito direto é a queda na expectativa de dividendos, que deve cair para algo entre 5% e 6% ao fim de 2025, metade do patamar atual. Apesar disso, ela reforçou que o banco não corre risco de quebrar: “São ciclos, e ele tende a se recuperar”.
No fim, os especialistas concordam que o Banco do Brasil atravessa um momento de turbulência, puxado pela exposição ao agronegócio e pelo avanço da inadimplência.
A divergência está no impacto de longo prazo: alguns enxergam lucros comprimidos e risco de volatilidade política, enquanto outros destacam a solidez do BBAS3 e a capacidade de recuperação do banco — fatores que podem transformar a fase atual em oportunidade de compra, desde que o investidor esteja disposto a enfrentar a tempestade no curto prazo.