Mesmo com a Selic em 15% ao ano, a poupança continua rendendo apenas 0,5% ao mês, perdendo atratividade frente a outros investimentos conservadores (Foto: Adobe Stock)
O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic em 15% ao ano na decisão desta quarta-feira (17). A escolha já era amplamente esperada pelo mercado, diante do cenário de inflação ainda pressionada e da necessidade de preservar o diferencial de juros em relação ao exterior. No entanto, a manutenção do juro básico em patamar tão elevado reacende uma discussão antiga: como fica o rendimento da poupança e quais são as alternativas para o investidor conservador?
Paulo Cunha, CEO da iHUB Investimentos, lembra que a regra da poupança não sofre alteração quando a Selic está acima de 8,5% ao ano.
“Ela continua rendendo 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR), que atualmente é muito baixa, próxima de zero. Ou seja, mesmo com a manutenção da Selic em um patamar elevado, o rendimento da poupança permanece praticamente estático, em torno de 0,5% a 0,6% ao mês, sem capturar os benefícios da taxa básica de juros”, explica.
Antônio Sanches, analista de alocação da Rico, reforça que o desempenho da caderneta gira em torno de 8% ao ano, enquanto o Tesouro Selic, mesmo com desconto do Imposto de Renda, consegue entregar um resultado líquido superior. Ele compara:
Praticamente, o investidor tem hoje 1% líquido ao mês numa aplicação no Tesouro Selic, enquanto ele vai ter ali 8% ao ano na poupança.
Além disso, lembra Sanches, o Tesouro rende diariamente, diferentemente da poupança, que só remunera no aniversário do depósito – detalhe que pode fazer diferença em resgates no meio do mês.
A planejadora financeira CFP Patrícia Palomo também destaca a fragilidade da poupança em cenários de juro alto.
Para ela, “com a Selic em 15%, a poupança se mantém com um rendimento baixo em termos reais, porque a regra de cálculo prevê remuneração fixa em 0,5% ao mês acrescida da TR que hoje está próxima de zero, o que resulta em um retorno anualizado perto de 6,17% ao ano, muito abaixo da taxa básica de juros”.
Paulo Cunha reforça que, diante desse cenário, o investidor conservador não precisa abrir mão da segurança para buscar retornos melhores. O CEO da iHUB Investimentos explica:
O Tesouro Selic é ideal para reservas de emergência, com liquidez diária e rendimento atrelado à taxa básica de juros. Já o Tesouro IPCA+ combina uma taxa prefixada com a variação da inflação, garantindo proteção do poder de compra no médio e longo prazo.
“Hoje, o Tesouro IPCA+ 2029, por exemplo, remunera em torno de IPCA + 7,72% ao ano”, acrescenta.
Segundo Sanches, além da atratividade, alguns desses produtos oferecem isenção de IR ou remuneração superior, ainda que exijam prazos de carência.
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Patrícia Palomo reforça: para o investidor conservador que busca segurança, existem alternativas igualmente protegidas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), mas que conseguem entregar muito mais do que os modestos 0,5% mensais da poupança.
A decisão do Copom, portanto, reforça um quadro já conhecido: em um país de juros altos, a poupança perde relevância como instrumento de investimento.
Apesar da liquidez e da isenção de Imposto de Renda, a baixa rentabilidade deixa claro que há opções seguras, igualmente simples, mas bem mais vantajosas para quem deseja preservar o poder de compra e valorizar o patrimônio.
Cuidado! Você pode estar cometendo esses erros sem perceber
Para além da comparação direta de rentabilidades, especialistas alertam para erros comuns cometidos pelos investidores que permanecem na poupança em um cenário de juros tão elevados.
Cunha, da iHUB Investimentos, destaca:
O principal erro é não aproveitar o cenário de juros elevados para buscar investimentos que remunerem mais de acordo com a Selic ou o CDI.
Ele explica que a poupança fica travada em 0,5% ao mês e não acompanha essa alta, entregando retornos menores. “Outro ponto é subestimar os efeitos da inflação: mesmo que o saldo nominal cresça, o investidor pode perder poder de compra se a inflação estiver acima do rendimento real”, complementa.
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Ele acrescenta que muitos concentram todo o patrimônio na caderneta por comodidade, ignorando alternativas igualmente seguras e mais promissoras.
Na mesma linha, Antônio Sanches, analista de alocação da Rico, reforça que a falta de comparação é um equívoco frequente.
Para ele, “o primeiro erro que a gente pode dizer é não fazer essas comparações, entender que existem outros investimentos de mesma classe de risco e mesma liquidez que oferecem rentabilidade maior. Outro erro comum é não calcular a rentabilidade real frente à inflação. Se a poupança rendeu cerca de 8% em 12 meses, mas a inflação foi de 5,13%, estamos falando de um ganho real de menos de 3% ao ano”.
Esse detalhe é relevante porque juros altos, em geral, convivem com inflação pressionada.
Assim, explica Sanches, o investidor que permanece em aplicações de baixa remuneração como a poupança tende a ver sua rentabilidade real ser corroída.
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Já a planejadora financeira CFP Patrícia Palomo alerta para outro equívoco recorrente: a ilusão de que a isenção do imposto de renda compensa a baixa remuneração.
“O erro mais comum cometido por quem insiste em deixar o dinheiro parado na poupança é acreditar que a isenção do IR compensa a baixa remuneração, o que na prática significa perder poder de compra ao longo do tempo, sobretudo quando a inflação permanece alta e persistente”, afirma.
Diversifique sua carteira e ganhe mais
Antônio Sanches lembra que a tendência é de queda gradual da Selic apenas em 2026, para algo próximo de 12,5%.
Nesse cenário, a diversificação ganha importância:
Hoje, para um perfil conservador, recomendamos 70% da carteira em pós-fixados, como Tesouro Selic; 15% em ativos atrelados à inflação, como Tesouro IPCA+; e 2,5% em prefixados.
“Dessa forma, o investidor se protege contra diferentes movimentos de juros e inflação, algo que a poupança não permite”, defende.
Conheça as regras para não perder dinheiro: como funciona a poupança?
Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos, chama a atenção para o impacto do desconhecimento das regras da poupança.
“Muitos investidores acham que, com a Selic a 15% ao ano, a poupança vai andar, vai bombar. Mas não é assim. A regra é travada: acima de 8,5% a.a., ela rende apenas 0,5% ao mês mais TR. Isso dá entre 6% e 8% ao ano, bem longe dos 15% da Selic”.
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Ele faz uma comparação direta para ilustrar:
Um investidor com R$ 1 milhão aplicado pode ganhar até R$ 40 mil a mais por ano fora da poupança, em CDBs ou Tesouro Selic, por exemplo.
O problema, segundo ele, é que muitos mantêm recursos na caderneta por hábito ou falta de informação.
O especialista ainda alerta para um ponto frequentemente esquecido: o “aniversário” da poupança.
Quem resgata antes da data perde o rendimento daquele mês, um detalhe que reduz ainda mais sua atratividade.
Há esperança para a poupança em 2026?
“Se a Selic começar a cair, a poupança vai render ainda menos, porque passa a seguir 70% da Selic mais a TR. Por isso, a diversificação é essencial. O investidor precisa rever seus investimentos, buscar alternativas que protejam contra a inflação, como o Tesouro IPCA+, e contar com apoio profissional para não perder oportunidades em um mercado dinâmico”, conclui Boragini.