

Na semana passada, a Selic foi mantida em 15% ao ano, após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil. Os juros futuros indicam uma expectativa de que as taxas só recuem no primeiro trimestre de 2026.
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Na semana passada, a Selic foi mantida em 15% ao ano, após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil. Os juros futuros indicam uma expectativa de que as taxas só recuem no primeiro trimestre de 2026.
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Entre os analistas, as opiniões são distintas. A Suno Research, por exemplo, projeta a Selic em 13% até o fim do ano que vem, enquanto a Ativa Investimentos acredita que o patamar de 15% deve durar ao menos até meados de 2026.
“Esta manutenção é necessária para consolidar o processo de desinflação e preservar o compromisso do Banco Central com a convergência da inflação em direção à meta no horizonte relevante de 2026 e 2027”, avalia Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
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Juros altos por mais tempo pressionam o caixa das companhias e reduzem espaço para dividendos. Dívidas ficam mais caras, investimentos menos atrativos e a renda fixa com altas taxas passa a competir diretamente com ações.
Esse cenário já é perceptível no mercado: as empresas que conseguem pagar dividend yield (retorno em dividendos) acima da Selic estão cada vez mais raras. Levantamento de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, para o E-Investidor, mostra que apenas três ações ainda superam 15% ao ano. São companhias cíclicas, com dividend yields de até 51,91%, mas com risco elevado de não sustentar essa rentabilidade no médio e longo prazo.
O estudo considerou o retorno em dividendos nos últimos 12 meses até 15 de setembro, em ações dos índices Ibovespa, IDIV e Small Caps, desde que tenham liquidez (registrem algum volume de negócios todos os dias). Também foram feitas projeções para os próximos 12 meses, mas a estimativa leva em conta que as companhias vão ter lucro igual ou maior ao registrado no último ano e manter a mesma política de distribuição de dividendos dos últimos 12 meses.
Para dar mais consistência, foi calculada ainda a mediana dos últimos cinco anos (ou desde o IPO, no caso de empresas mais recentes). Veja abaixo:
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Numericamente, estas ações parecem oferecer um retorno em dividendos elevado. Mas como isso se traduz na prática? Daria para bancar o aluguel de um imóvel só com os proventos delas? Seria a escolha certa?
Com a ajuda de Fábio Sobreira, analista e sócio da Rocha Opções de Investimentos, simulamos quanto seria necessário investir nessas ações para que os dividendos cubram o aluguel de imóveis de 1, 2 e 3 dormitórios. O estudo mostrou que, com um patrimônio de R$ 61.944, já seria possível garantir a renda mensal para um aluguel. O cálculo usa a mediana dos dividendos dos últimos cinco anos (ou desde o IPO), o que traz um retrato mais realista.
A simulação considerou dados do Índice FipeZAP de agosto. O preço médio do m² está em R$ 66,99 para imóveis de 1 dormitório, R$ 46,52 para dois e R$ 42,59 para três dormitórios. Os tamanhos definidos foram de 40 m², 70 m² e 90 m², respectivamente. Os valores finais de aluguel foram:
Para quem ainda não tem todo o patrimônio, é possível acumular aos poucos, com aportes mensais e reinvestimento dos dividendos. O estudo considerou que o investidor comece do zero com aportes de R$ 500 ou R$ 1 mil nas ações todo mês e reinvestimento de todos os proventos recebidos.
Na Syn (SYNE3), por exemplo, aportes de R$ 500 por mês, mais o reinvestimento dos proventos, poderiam gerar renda suficiente para pagar o aluguel de um imóvel de 1 dormitório em 4 anos. Para três dormitórios, o prazo seria de 4 anos e 9 meses. Veja abaixo simulações.
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Em casos como Syn e Unipar, a alta rentabilidade em dividendos e o tempo curto para gerar renda parecem atrativos. Mas será que é “esmola demais”?
Essas ações são cíclicas, com lucros e proventos elevados em determinados períodos e queda brusca no seguinte. No caso da Syn (SYNE3), que atua com incorporação e empreendimentos imobiliários, os dividendos são fruto da venda de ativos, e não da operação recorrente. “A empresa está devolvendo capital aos acionistas após vender imóveis e considerar seu caixa ‘excessivo’. É um evento pontual. Quando as vendas acabarem, esses pagamentos cessarão”, explica Sobreira, da Rocha Opções de Investimentos.
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A Marfrig (MRFG3) também sofre com margens de lucro apertadas nos EUA e a exposição ao ciclo global da carne. Observando fundamentos, Jayme Simão, sócio-fundador do Hub do Investidor, projeta dividend yield de 3% a 4% para os próximos 12 meses, bem abaixo dos 10,87% do estudo. Embora tenha sido a maior pagadora de 2024, com dividend yield de 29,21%, dificilmente repetirá esse retorno em 2025, mesmo após as sinergias com a fusão da BRF.
Já a Unipar (UNIP6) possui histórico mais consistente de dividendos e figura no ranking de maiores pagadoras em 2025 até agosto, com dividend yield de 9,95% e R$ 6 por ação. Ainda assim, a companhia é dependente dos preços internacionais da soda e PVC. “Os dividendos recentes foram turbinados por um momento favorável no ciclo e por um ganho não recorrente de arbitragem”, ressalta Sobreira.
Simão acrescenta que, embora mais estável que Syn e Marfrig, a Unipar também sofre com volatilidade de margens de lucro e preços de insumos. “Não é razoável esperar dividendos sempre acima da Selic no longo prazo”, aponta.
Na visão dos analistas, nenhuma dessas três ações seria a melhor escolha para bancar despesas fixas, como aluguel. Todas dependem de ciclos e alternam fases de geração de caixa com retração. “Para renda previsível, estas ações exigem diversificação e não funcionam isoladamente”, conclui Simão.
Mas fique tranquilo, investidor, pois não faltarão alternativas. Levantamos as maiores pagadoras de dividendos dos últimos cinco anos, considerando a mediana do dividend yield e o patrimônio necessário para bancar aluguel de imóveis de 1, 2 e 3 dormitórios. A lista inclui cíclicas, mas também nomes mais perenes, como Petrobras, Copasa e Cemig. Veja os cálculos abaixo.
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Para Marco Saravalle, estrategista-chefe e sócio da MSX Invest, mesmo cíclicas, empresas como a Petrobras (PETR3; PETR4) geram muito caixa e mantêm forte política de distribuição, o que deve sustentá-la entre as maiores pagadoras em 2026. Ele também destaca Copasa, no saneamento, a Metal Leve, com controladora internacional interessada em proventos, e a elétrica Cemig. O estrategista projeta dividend yield de 13,5% para Petrobras nos próximos 12 meses, 8,5% para Copasa e 7,5% para Cemig. Para a Metal Leve a projeção de dividendos sinaliza retorno de 7,5%.
Na avaliação de Simão, do Hub do Investidor, são praticamente as mesmas ações que se encaixam na estratégia de renda para aluguel. No caso da Petrobras, ele vê potencial de dividendos expressivos em ciclos favoráveis do petróleo, mas com risco político e dependência da commodity. O dividend yield esperado é de 10% em 12 meses.
Sobre a Copasa, Simão destaca a previsibilidade regulatória, embora a companhia seja sensível a crises hídricas e decisões tarifárias. O retorno estimado é de 5% a 6%. Já na Cemig, o analista elogia a diversificação em geração, transmissão, distribuição e comercialização de gás, com fluxo de caixa estável, mas ressalta a necessidade de investimentos em modernização. O dividendo projetado é de 8% para os próximos 12 meses.
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