Publicidade

Colunista

OPINIÃO: Bolsa Família virou maquiagem do pleno emprego

A matemática não fecha: mais gasto social, menos força de trabalho e mais imposto para quem produz

Receba esta Coluna no seu e-mail
Taxa de desemprego em mínima histórica contrasta com aumento recorde do Bolsa Família, déficit fiscal crescente e queda na participação da força de trabalho no Brasil. (Imagem: Adobe Stock)
Taxa de desemprego em mínima histórica contrasta com aumento recorde do Bolsa Família, déficit fiscal crescente e queda na participação da força de trabalho no Brasil. (Imagem: Adobe Stock)

O governo comemora. Manchetes anunciam a menor taxa de desemprego da história. Os números parecem perfeitos: 5,7% em agosto, quase metade do que era em 2019, quando o desemprego estava em 11%. Mas será que essa fotografia traduz a realidade? Para entender, basta olhar outro número que corre em paralelo. Em 2019, o Bolsa Família custava ao governo cerca de R$ 32 bilhões por ano. Em 2024, o programa consome quase R$ 170 bilhões. Um aumento de seis vezes em apenas cinco anos. No mesmo período, o desemprego caiu quase pela metade. Dois movimentos que não acontecem por acaso.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Hoje, 38 milhões de brasileiros recebem o benefício, o equivalente a 21 milhões de famílias. Numa população de 213 milhões, estamos falando de praticamente um quinto do país vivendo de alguma forma do Estado. E aqui está o ponto que desmonta a narrativa oficial: quem recebe Bolsa Família, e tem idade e saúde para trabalhar, mas opta por não procurar emprego para não perder o benefício, não entra na estatística do desemprego do IBGE. Para a metodologia, simplesmente deixou de existir. Ou seja, o dado “histórico” é construído com uma matemática que não fecha. O desemprego cai porque milhões saem da força de trabalho. Não porque estão empregados, mas porque desistiram de procurar oficialmente. É um truque estatístico que permite o governo vender uma fotografia otimista, mas que não encontra eco na vida real.

Basta conversar com empresários da construção civil, do agronegócio, da indústria de serviços. Encontrar mão de obra qualificada virou desafio diário. Pedreiro, marceneiro, pintor, diarista. Em várias áreas, sobram vagas e falta gente disposta a ocupar. É o paradoxo brasileiro: desemprego baixo no papel, escassez de trabalhadores na prática. Esse arranjo não sai barato. Primeiro, reduz a produtividade. Pessoas que poderiam gerar renda, pagar impostos e movimentar a economia ficam fora da roda. Segundo, corrói o orçamento público. Multiplicar por seis os gastos de um programa em cinco anos sem cortar despesas em outras áreas é uma escolha que pressiona o déficit. Terceiro, exige mais tributação. E aí está a engrenagem que aperta cada vez mais quem produz e investe.

Veja a movimentação recente. O governo decidiu tributar LCIs e LCAs. O ministro Fernando Haddad disse que a medida não busca arrecadar, mas disciplinar o mercado. Qualquer investidor experiente sabe que é o contrário. Quando o governo fala que não é arrecadação, é exatamente arrecadação. Com rombo nas contas públicas e crescimento da despesa social, não existe disciplina que feche a conta sem mais imposto. O contraste fica ainda mais claro quando olhamos para outros países. Em economias maduras, o pleno emprego acontece quando a taxa de desemprego fica entre 3% e 5%. Mas esse dado vem acompanhado de forte participação da força de trabalho, com a maioria da população em idade ativa contribuindo para o PIB. No Brasil, não. Temos uma taxa que parece baixa, mas uma participação cada vez menor. O que significa menos gente trabalhando, mais gente dependendo do Tesouro e uma pressão fiscal insustentável.

A narrativa oficial é de que tudo vai bem. Mas não há como sustentar uma economia com menos gente produzindo e mais gente recebendo benefício. O programa social é necessário para famílias em vulnerabilidade real. Mas, quando se torna alternativa à formalidade, gera distorção estrutural. Substitui trabalho por dependência. Substitui produtividade por estatística conveniente. O que vemos hoje é um círculo vicioso. O governo aumenta gastos sociais para mostrar que o desemprego caiu. O déficit cresce, e a saída é aumentar impostos. O contribuinte produtivo perde poder de compra. A economia desacelera. E, para segurar os mais frágeis, o governo amplia ainda mais os programas. É uma espiral que destrói a confiança de quem investe, mina a competitividade e esconde a realidade com maquiagem estatística.

No fim, a matemática não fecha. Mais gasto, mais déficit, mais imposto. O desemprego em mínima histórica é uma vitrine que brilha, mas atrás do vidro a loja está vazia.

Encontrou algum erro? Entre em contato

O que este conteúdo fez por você?
Quer ler as Colunas de Fabrizio Gueratto em primeira mão? Cadastre-se e receba na sua caixa de entrada
Inscrição feita com sucesso
Últimas: Colunas

X

Publicidade