

Se 2024 foi um ano de glória para a Ambipar (AMBP3), não se pode dizer o mesmo de 2025. Atualmente, os papéis da empresa são cotados a R$ 1,4, enquanto investidores digerem os problemas financeiros da companhia de soluções ambientais.
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Se 2024 foi um ano de glória para a Ambipar (AMBP3), não se pode dizer o mesmo de 2025. Atualmente, os papéis da empresa são cotados a R$ 1,4, enquanto investidores digerem os problemas financeiros da companhia de soluções ambientais.
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Na sexta-feira (3), as ações tombaram 49,09%, passaram por leilões na B3 e a empresa perdeu R$ 2,25 bilhões em valor de mercado, segundo a consultoria de dados financeiros Elos Ayta. A empresa agora é avaliada em R$ 2,33 bilhões. Desde a máxima histórica dos ativos, em 13 de dezembro de 2024, viu seu valor de mercado despencar R$ 42,51 bilhões.
A situação complicou no final de setembro, quando a Ambipar conseguiu uma tutela cautelar na Justiça do Rio de Janeiro. A medida protege a empresa de exigências de credores por 30 dias, prorrogáveis por mais 30. Na prática, permite que a companhia tente acordo ou entre com um pedido de recuperação judicial.
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“Via de regra, a cautelar é preparatória ao pedido de recuperação. O mercado foi pego de surpresa. Aparentemente parece se repetir uma estratégia de gestão da companhia por ferramentas que seriam excepcionais”, afirma Eduardo Silva, presidente do Instituto Empresa. Veja os destalhes nesta matéria.
Em esclarecimentos apresentados à Justiça do Rio de Janeiro na sexta-feira, a Ambipar reforçou que a tutela foi prudente e indispensável para evitar o “colapso de um grupo empresarial estratégico para o país, cuja atuação projeta o Brasil no cenário internacional da sustentabilidade”. “A companhia reafirma confiança de que a Justiça manterá a medida em vigor até a apresentação do pedido de recuperação judicial, garantindo a preservação da empresa, dos empregos, dos contratos ambientais e da sua contribuição econômica ao Brasil”, afirma.
O Deutsche Bank, junto ao qual a Ambipar teria compromissos financeiros de US$ 550 milhões, está no centro da decisão da Justiça de suspender as cobranças contra a empresa. Ao pedir a tutela cautelar, a empresa informou que o aditivo em um contrato de empréstimo com o banco no exterior começou a esvaziar o seu caixa, com uma saída contabilizada de mais de R$ 200 milhões.
A companhia calcula o risco de um rombo de mais de R$ 10 bilhões, levando em consideração que os seus compromissos financeiros contêm cláusulas de vencimento antecipado em caso de inadimplência de qualquer uma de suas dívidas.
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Segundo apuração da Coluna do Broadcast, alguns credores da Ambipar têm buscado identificar onde estaria o caixa da companhia, reportado no balanço do segundo trimestre em R$ 4,7 bilhões, dado que no pedido de proteção contra cobranças a empresa sugere insuficiência de recursos para seguir honrando compromissos financeiros. Fontes afirmam que apenas US$ 80 milhões (R$ 425 milhões) teriam sido encontrados.
Com as notícias recentes, agências cortaram a nota de crédito da Ambipar. A S&P Global rebaixou a classificação da companhia de BB- para D, o correspondente a um default (classificação que equivale a um calote da dívida). A Fitch também cortou a nota, mas em menor proporção, de BB- para C. A agência explicou que, caso a Ambipar anuncie formalmente um plano de reestruturação de sua dívida, as classificações serão rebaixadas para RD, a fim de refletir um evento de inadimplência restrita, ou para D, se a empresa entrar com pedido de recuperação judicial.
Nomes como Bank of America (BofA), Itaú BBA e XP Investimentos colocaram o ativo sob revisão em 2024, diante da alta dos papéis, que chegaram a disparar mais de 730% em um único ano. Em abril de 2025, no entanto, o UBS BB seguiu o caminho contrário e passou a ter recomendação neutra para AMBP3.
A história mudou no final de setembro, quando o banco colocou sua análise sob revisão, após as últimas notícias sobre a Ambipar. De acordo com o UBS, a empresa passa por uma ruptura em sua capacidade de gerir liquidez e governança.
“Após anos de expansão por meio de mais de 70 operações de M&A (fusões e aquisições) e crescente complexidade financeira, eventos recentes expuseram fragilidades na governança e na solidez do balanço”, destacam os analistas Giuliano Ajeje e Henrique Simões, que assinam o relatório.
O banco observa que acordos financeiros antigos, realizados sem supervisão e divulgação, prejudicam a confiança nos números reportados e no controle estratégico da companhia. Os analistas também apontam que os desdobramentos recentes podem afetar a competitividade da empresa em relação a seus concorrentes.
Antes da tutela cautelar, outras notícias sobre Ambipar já tinham levantado preocupações no UBS. No final de setembro, o então CFO (diretor financeiro), João Daniel Piran de Arruda, deixou o cargo. A vaga foi ocupada por Ricardo Rosanova Garcia, atual diretor de Relações com Investidores (RI), que passará a exercer cumulativamente as duas funções.
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Arruda havia entrado na Ambipar em agosto de 2024, depois de acumular mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro. Antes de atuar na companhia de soluções ambientais, sua última passagem havia sido pelo Bank of America (BofA), onde ficou quase 15 anos. Para o UBS, o executivo era visto como uma força estabilizadora na governança e na comunicação com o mercado, tendo transmitido confiança aos investidores quando foi contratado.
Conforme mostramos aqui, Arruda marcou uma reunião com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para a próxima segunda-feira (6). A audiência será feita com servidores da Superintendência de Relações com Empresas (SEP) da CVM, responsável por fiscalizar as empresas listadas na Bolsa, e o executivo será acompanhado por dois escritórios: o Vieira Rezende Advogados, especialista em mercado de capitais e arbitragem, e David Rechulski Advogados, com atuação forte no segmento criminalista.
Procurada, a SEP confirmou a reunião e apontou que “o conteúdo tratado nessas audiências não é comentado pela CVM”. Os escritórios não responderam aos contatos. A Ambipar também não se manifestou.
Em esclarecimento à Justiça, a companhia diz que a piora da sua situação financeira foi desencadeada por “operações questionáveis” conduzidas por Arruda. Ele teria migrado contratos de swap do BofA para o Deutsche Bank e firmado aditivos sem autorização do conselho de administração, alterando garantias e expondo a empresa a exigências desproporcionais.
O recado dos analistas é claro: manter cautela máxima. Gustavo Moreira, planejador financeiro e especialista em investimento, explica que quem não tem posição deve evitar a empresa, pois existem um risco alto e uma falta de clareza sobre o futuro.
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“Quem já é acionista precisa avaliar o peso dessa posição na carteira. Se for relevante, pode ser mais seguro reduzir. E se for pequeno e a pessoa estiver disposta a correr risco, até pode segurar, mas entendendo que pode perder quase tudo. Na prática, entendo que o melhor agora é acompanhar de fora, esperar transparência sobre o caixa e um plano real de reestruturação antes de pensar em qualquer movimento”, destaca.
Na mesma linha, Gabriel Jardim, CEO e fundador da Trade Arena, aponta que a credibilidade da companhia está muito abalada. Mesmo que parte das informações seja posteriormente explicada ou relativizada, o cenário já é de grande desconfiança. “No caso da Ambipar, quem ainda não tem posição no papel precisa avaliar com cautela. O investimento hoje é altamente arriscado e, de acordo com os sinais do mercado, a situação pode piorar ainda mais”, afirma.
Ele ressalta que, embora a queda acentuada das ações da Ambipar possa dar a impressão de uma oportunidade de compra pelo preço baixo, existe um risco elevado. “Desvalorizações de 60% podem sugerir ganhos rápidos, mas muitas vezes não há recuperação”, alerta.
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