Os quatro principais bancos do País devem somar lucro de R$ 24,8 bilhões no terceiro trimestre de 2025 (3T25); balanços começam nesta quarta-feira (29). (Foto: Adobe Stock)
Os quatro maiores bancos listados na Bolsa brasileira devem atingir lucro de R$ 24,8 bilhões no terceiro trimestre de 2025 (3T25), queda de 14,45% na comparação com o lucro de R$ 29,06 bilhões do mesmo período do ano passado. As estimativas foram retiradas de relatórios de Ágora Investimentos, Genial Investimentos, Banco Safra e UBS BB.
O setor, que tenta se equilibrar em um cenário de juros elevados e alta da inadimplência, deve trazer o Bradesco (BBDC3; BBDC4) como surpresa positiva, com o banco recuperando a rentabilidade equivalente ao custo de capital. Ainda assim, o melhor resultado deve continuar com o Itaú (ITUB3; ITUB4), que também possui as melhores estimativas de dividendos.
A temporada de balanços dos grandes bancos do terceiro trimestre de 2025 começa nesta quarta-feira (29) com os resultados de Santander (SANB11) antes da abertura da Bolsa de Valores e Bradesco, após o fechamento do mercado. O calendário segue com Itaú no dia 4 de novembro e Banco do Brasil (BBAS3) no dia 12.
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Santander: estabilidade no lucro e ROE sob pressão
Para o Santander, as estimativas são de estabilidade do lucro e desaceleração da rentabilidade medida pelo retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês). As projeções do 3T25 apontam para um ganho de R$ 3 bilhões para o banco.
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O UBS BB é o mais otimista em relação à companhia e estima um resultado líquido de R$ 3,77 bilhões para o terceiro trimestre de 2025, alta de 3% na comparação com o mesmo período do ano anterior. O banco suíço é o único a estimar crescimento na rentabilidade do Santander, com o ROE chegando a 16,2%, melhora de 0,2 ponto porcentual em relação aos 16% do período anterior.
“Após um modesto segundo trimestre de 2025, o Santander Brasil deverá apresentar melhores tendências operacionais no terceiro trimestre de 2025, resultando em uma expansão sequencial dos lucros e alguma recuperação na rentabilidade, mesmo considerando maiores perdas nos resultados de trade com o mercado”, afirmam Thiago Batista, Olavo Arthuzo e Beatriz Shinye, que assinam o relatório do UBS BB.
A casa vê melhora na concessão de empréstimos do Santander devido ao crescimento de 1% na carteira de crédito, ainda que a valorização do real ante o dólar continue pressionando a carteira de empréstimos corporativos, mas em menor intensidade.
Já os demais bancos e corretoras enxergam um trimestre de desaceleração do Santander. Os analistas do Safra calculam queda de 1,1 ponto porcentual em relação ao ROE de 17% do terceiro trimestre de 2024. O banco também tem a menor estimativa de lucro para a companhia, de R$ 3,64 bilhões, baixa de 0,5% na base anual.
“A margem financeira com o mercado deve ter uma contribuição negativa de R$ 840 milhões, provavelmente a pior do ano, dado o maior número de dias úteis e a maior diferença em 12 meses na taxa média de juros. Além disso, a inadimplência deve permanecer sob pressão em relação ao trimestre anterior, refletindo a aceleração da inadimplência de curto prazo no segundo trimestre”, explicam Daniel Vaz, Maria Luisa Guedes e Rafael Nobre, que assinam o relatório do Safra.
Veja as projeções para o balanço do Santander na tabela a seguir.
Bradesco: rentabilidade no mesmo nível do custo de capital
O Bradesco será o segundo banco a divulgar seus números do 3T25. O grande destaque fica por conta da retomada da rentabilidade medida pelo ROE, que deve ficar entre 14,5% e 15%. O Safra é o mais otimista e calcula a rentabilidade do Bradesco em 15%, com crescimento da margem financeira de 5% no trimestre, enquanto o segmento de seguros tende a apresentar resultados fortes, o que impulsionará o balanço do Bradesco.
Os analistas preveem lucro entre R$ 6,22 bilhões e R$ 6,30 bilhões no 3T25, altas entre 19,15% e 20,68% respectivamente, na comparação com o mesmo período do ano passado. A Genial diz que o banco deve apresentar tal melhora, mas reforça que esse é somente um degrau de uma longa escada que o Bradesco vem subindo desde o 1T24.
“A prioridade segue sendo a qualidade dos ativos e a recuperação da rentabilidade. Mantemos visão construtiva para o ano e esperamos uma normalização mais consistente do ROE a partir de 2026, quando o banco pode superar o custo de capital de forma mais sustentável”, dizem Eduardo Nishio, Luis Degaspari e Luis Assis, que assinam o relatório da Genial.
Veja as perspectivas para o balanço do Bradesco na tabela a seguir.
Itaú deve lucrar quase o mesmo valor que todos os concorrentes juntos
Para analistas, uso de tecnologia pode elevar a rentabilidade do Itaú para acima de 25%. (Foto: Adobe Stock)
Em meio ao cenário macroeconômico difícil para o setor bancário, o Itaú deve se isolar na liderança com o maior lucro entre todos os pares e quase igualar seus ganhos com os dos demais concorrentes juntos. A estimativa mais conservadora para o balanço do Itaú aponta para lucro de R$ 11,78 bilhões, enquanto as projeções de cenário base de Santander, Bradesco e Banco do Brasil, somadas, chegam a R$ 13,08 bilhões.
Ou seja, o Itaú deve lucrar 90% dos resultados de seus concorrentes somados, conforme as estimativas das casas.
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Para a Ágora Investimentos, mesmo que o Itaú seja um grande destaque na comparação anual, com crescimento de 10,4% do lucro, os analistas esperam que o banco reporte resultados razoavelmente estáveis na comparação com o segundo trimestre de 2025. Isso porque, tanto sua margem com clientes quanto com o mercado devem se contrair, enquanto as provisões provavelmente permanecerão praticamente estáveis.
A Ágora calculalucro líquido de R$ 11,78 bilhões para o Itaú no 3T25, alta anual de 10,4%. Já na base trimestral o crescimento deve chegar a 2,4%.
O UBS BB detém a perspectiva de maior ganho para o banco, de R$ 11,93 bilhões no terceiro trimestre de 2025, alta de 11,8% na comparação com o mesmo período de 2024. Em média, os analistas estimam rentabilidade do Itaú (ROE) de até 23,2%, crescimento de 0,5 ponto porcentual em relação ao ano anterior. Veja as estimativas a seguir.
Banco do Brasil terá resultado ainda pior
Já o BB deve entregar um resultado ainda mais deteriorado que o do 2T25. O Safra possui a projeção mais branda para a companhia e estima lucro líquido de R$ 3,48 bilhões no terceiro trimestre de 2025, tombo de 63,4% na comparação com o mesmo ciclo do ano anterior. E outra baixa de 7,9% na comparação com o resultado do 2T25, que ficou muito abaixo do esperado pelo mercado.
“O terceiro trimestre será provavelmente o pior do ano para o Banco do Brasil. Dada a sazonalidade no segmento rural, a maioria da deterioração nos estágios da carteira deve ocorrer entre julho e setembro. Com isso, a inadimplência acima de 90 dias do agronegócio deve alcançar 5,1% no 3T25, alta anual de 3,1 pontos porcentuais e piora de 1,7 ponto porcentual na comparação com o trimestre anterior”, explicam Daniel Vaz, Maria Luisa Guedes e Rafael Nobre.
A rentabilidade do Banco do Brasil é outro tema que pode assustar o investidor. Os analistas projetam um ROE por volta de 7%, muito abaixo do custo de capital, que está em 15%. Segundo a Genial Investimentos, nem mesmo a Medida Provisória 1.314 deve salvar o BB. Publicada no dia 5 de setembro, ela criou um programa de renegociação de dívidas com duas frentes.
A primeira prevê até R$ 12 bilhões via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para alongar dívidas de produtores afetados por eventos climáticos. A segunda permite que as instituições usem recursos próprios: a cada R$ 1 emprestado, o banco terá R$ 1 de benefício no capital regulatório ao reduzir o ajuste negativo dos passivos fiscais diferidos, o que é positivo para o capital do BB.
Para a Genial, a medida dá fôlego ao produtor que está com créditos em atraso, com possibilidade de alongamento do pagamento em até nove anos e um ano de carência.
“Acreditamos que o banco só captura o efeito positivo no capital se gerar operações com recursos próprios. A MP tem prazo de 120 dias para a concessão das operações. Acreditamos que o impacto total dessa medida em 2025 será marginal, com efeito cheio somente em 2026. Ou seja, o balanço do terceiro trimestre não deve sentir efeitos da medida”, explica a equipe da corretora.
Confira as estimativas para o balanço do Banco do Brasil no 3T25.
Qual banco deve pagar mais dividendos nos próximos 12 meses?
Num cenário deteriorado, com dois bancos tentando se equilibrar (Santander e Bradesco) e um terceiro buscando sair do fundo do poço (Banco do Brasil), os analistas enxergam que o Itaú será o maior pagador de dividendos em um horizonte de 12 meses.
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As perspectivas para os dividendos do Itaú chegam a dividend yield (rendimento de dividendos) entre 8,3% (UBS BB) e 10,7% (Ágora Investimentos). O UBS BB diz que parte desse rendimento tende a vir dos dividendos extraordinários, retirados do excesso de capital.
“A combinação de sólida rentabilidade e expansão moderada do crédito deve levar a uma geração adicional de capital. O índice CET1 (índice de capital principal) do banco deve se aproximar de 13,5% no terceiro trimestre de 2025, excesso de capital estimado em R$ 21 bilhões que podem virar dividendos extraordinários no balanço do quarto trimestre de 2025”, explicam Thiago Batista, Olavo Arthuzo e Beatriz Shinye.
O Bradesco é o segundo banco com maior perspectiva de dividendos, com rendimento de 8,1% para os próximos 12 meses, conforme UBS BB e Safra. O pior desempenho deve ficar com os dividendos do Banco do Brasil, com estimativas entre 4,9% (Ágora Investimentos) e 5,3% (Safra). Já o Santander deve entregar um retorno em proventos entre 5,7% (Ágora Investimentos) e 7,9% (Safra).