Painel da B3 mostra o Ibovespa. | Foto: Taba Benedicto/Estadão
O mês de outubro apresentou variação positiva nos principais mercados, em um ambiente caracterizado pela combinação entre o corte de juros nos Estados Unidos e a permanência das incertezas fiscais no Brasil. A trajetória dos ativos refletiu a interação entre fatores externos e domésticos, com dados econômicos heterogêneos e políticas monetárias ainda restritivas nas principais economias.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve reduziu a meta dos Fed Funds em 25 pontos-base, para o intervalo de 3,75% a 4,00%, em decisão de 29 de outubro. O comunicado indicou que as próximas deliberações dependerão da evolução da inflação e do mercado de trabalho. O corte foi descrito pelo Comitê como uma medida de calibração, sem sinalização de início de um ciclo de afrouxamento monetário. As curvas de juros reagiram com leve elevação, e as probabilidades de novo corte em dezembro diminuíram.
O período foi marcado também por negociações diplomáticas entre Estados Unidos e China, que resultaram na manutenção de parte das tarifas sobre produtos industriais, com possibilidade de revisões graduais. A medida reduziu a percepção de escalada tarifária. No campo bilateral, o encontro entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva representou um gesto de reaproximação diplomática entre os dois países, mas sem anúncios ou medidas concretas até o momento.
Panorama dos Mercados
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No ano
Fechamento
DJIA
4,70%
-1,58%
-4,20%
-3,17%
3,94%
4,32%
0,08%
3,2%
1,9%
2,5%
10,4%
46987
NASDAQ
1,64%
-3,97%
-8,21%
0,85%
9,56%
6,57%
3,70%
1,6%
5,6%
4,7%
19,1%
23005
S&P 500
2,70%
-1,42%
-5,75%
-0,76%
6,15%
4,96%
2,17%
1,9%
3,5%
2,3%
14,4%
6729
Fonte: Plataforma DataBay
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No mercado acionário americano, as maiores empresas de tecnologia divulgaram resultados trimestrais com lucros acima das estimativas, o que contribuiu para o desempenho dos índices no mês. O Dow Jones encerrou outubro com alta de 2,5% (+10,4% no ano), o S&P 500 subiu 2,3% (+14,4%) e o Nasdaq, 4,7% (+19,1%).
Na Europa, o Banco Central Europeu manteve a taxa de referência inalterada em 30 de outubro. A inflação da área do euro atingiu 2,1%, próxima à meta. O bloco segue com crescimento limitado e sujeito aos efeitos das sanções energéticas à Rússia.
Na China, os indicadores industriais permaneceram em zona de contração pelo sétimo mês consecutivo, e o setor imobiliário continua em processo de reestruturação financeira. Esses fatores mantêm a incerteza sobre a trajetória de crescimento global.
Mercado brasileiro
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set/25
out/25
No ano
Fechamento
IBOV
4,86%
-2,64%
6,08%
3,69%
1,45%
1,33%
-4,17%
6,28%
3,40%
2,26%
28,08%
154.064
IBXX
4,92%
-2,68%
5,94%
3,33%
1,70%
1,37%
-4,18%
6,23%
3,47%
2,10%
27,71%
65.089
IBXL
4,82%
-2,79%
5,96%
2,55%
1,26%
1,46%
-3,93%
6,15%
3,44%
2,11%
26,41%
25.801
IDIV
3,50%
-2,78%
5,52%
3,88%
1,31%
1,76%
-2,97%
5,36%
2,82%
1,78%
24,48%
10.999
BDRX
-4,23%
-2,80%
-9,44%
0,21%
7,94%
1,55%
6,15%
-0,63%
3,96%
5,90%
3,42%
24.666
SMLL
6,11%
-3,87%
6,73%
8,47%
5,94%
1,04%
-6,36%
5,86%
1,58%
0,43%
28,53%
2.112
IFIX
-3,07%
3,34%
6,14%
3,01%
1,44%
0,63%
-1,36%
1,16%
3,25%
0,12%
15,41%
3.597
IFNC
10,83%
-3,11%
9,08%
9,27%
1,56%
1,52%
-7,91%
8,26%
4,23%
0,18%
41,69%
16.762
ICON
1,87%
-5,51%
12,27%
12,67%
2,37%
-1,78%
-8,83%
8,29%
1,49%
0,45%
26,81%
3.084
Fonte: Plataforma DataBay
No Brasil, o comportamento dos ativos refletiu tanto o cenário externo quanto as condições internas. O Ibovespa encerrou outubro em 149.540 pontos, com variação de 2,26% no mês e 28,08% no acumulado de 2025 até o presente momento. O IFNC registrou 0,18% (+41,69% no ano), seguido pelo SMLL (+0,43%, +28,53% no ano) e pelo ICON (+0,45%, +26,81%). O BDRX, que acompanha os BDRs de empresas estrangeiras, apresentou alta de 5,90% (+3,42% no ano). O IFIX teve estabilidade, com 0,12% em outubro e 15,41% no acumulado.
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A curva de juros doméstica manteve estabilidade nos vértices curtos e redução discreta nos médios e longos, entre 15 e 25 pontos-base. O Banco Central reiterou, em seu comunicado de 5 de novembro, que o atual patamar dos juros é compatível com o objetivo de convergência da inflação à meta. As projeções para 2025 e 2026 permanecem acima do centro da meta, e a autoridade monetária considera adequada a manutenção de política contracionista por período prolongado.
O quadro fiscal de 2025 continua marcado por desequilíbrio estrutural e pela limitação do espaço orçamentário. Segundo dados do Tesouro Nacional, o Governo Central registrou déficit primário de R$ 14,5 bilhões em setembro, acumulando saldo negativo de R$ 100,4 bilhões nos nove primeiros meses do ano. A receita líquida apresentou crescimento real de 3,5%, impulsionado por ganhos em Imposto de Renda, IOF e arrecadação previdenciária, enquanto as despesas avançaram 2,8% em igual período, refletindo o aumento de benefícios previdenciários, assistenciais e da folha de pessoal. O resultado indica que o esforço de controle de gastos tem se concentrado em despesas discricionárias, sem alteração significativa na dinâmica dos gastos obrigatórios.
De acordo com o IPEA, o déficit primário consolidado do setor público permanece em torno de 1% do PIB, e a dívida bruta estabilizou-se em patamar próximo a 77% do PIB, mas com tendência de elevação gradual. O comportamento das contas públicas evidência que o equilíbrio fiscal segue dependente de receitas extraordinárias e de medidas pontuais de recomposição tributária, enquanto a consolidação de médio prazo depende do avanço de propostas ainda em tramitação. A incerteza em torno da execução orçamentária e da revisão das metas fiscais reforça a percepção de que a política fiscal continua sendo um dos principais elementos de cautela na avaliação de risco doméstico.
Em perspectiva, a evolução dos mercados brasileiros continuará condicionada à capacidade do país em promover ajustes estruturais de caráter fiscal. A sustentabilidade das contas públicas e a previsibilidade das regras de gasto permanecem como variáveis centrais para o comportamento dos ativos domésticos. Sem avanços concretos nessa frente, tende a prevalecer um ambiente de aversão a risco e pressão vendedora, independentemente do cenário eleitoral de 2026. A consistência do ajuste fiscal — mais do que o resultado pontual de arrecadação — será o fator determinante para a redução do prêmio de risco e para a retomada de um ciclo de valorização sustentável no médio prazo.
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*Colaboraram no artigo Guilherme Carter, que é economista e especialista em finanças, com carreira dedicada à análise de mercados e inovação em investimentos. Mestre pela FGV-EESP, é professor de Finanças na FGV e coordenador dos programas de Finanças da FBNF. Também é Managing Director da DataBay, fintech de inteligência de dados para o mercado de capitais, e presença constante em debates na mídia sobre economia, renda fixa e investimentos.