“A gente foi mais eficiente na qualidade da venda. Se você olhar o quanto que a gente lançou menos o segundo trimestre deste ano e o terceiro, percentualmente é muito menor o gap do que o que a gente vendeu, o que levou nosso VSO [Venda sobre Oferta, divisão do número de unidades vendidas pelo número total de unidades oferecidas] a subir ainda mais. O VSO da Moura Dubeux é o melhor entre as empresas de médio e alto padrão, sem dar descontos”, afirmou o executivo em entrevista exclusiva ao E-Investidor.
Para os próximos trimestres, a empresa pretende crescer na classe média baixa. Em parceria com a Direcional (DIRR3), ela vai construir empreendimentos para as pessoas que se enquadram nas faixas 3 e 4 do programa Minha Casa Minha Vida. A faixa 3 destina-se a famílias com renda bruta mensal entre R$ 4,7 mil e R$ 8,6 mil, enquanto a faixa 4 destina-se a famílias com renda bruta mensal entre R$ 8,6 mil e R$ 12 mil.
“Quando a gente olha para a nossa região [Nordeste], a gente vê nesse segmento de renda e de produto imobiliário, a gente vê a mesma característica que a gente enxergou em 2019 para os imóveis de alto padrão. Ou seja, tem mais demanda do que o que está sendo ofertado, e não tem nenhum grande player ascendendo. Temos boas empresas na região, que entregam bons produtos, mas ainda assim não tem sido suficiente para atender a essa demanda”, afirmou o CEO.
O executivo disse ainda que o potencial de crescimento da empresa através da parceria entre as subsidiárias Riva (da Direcional) e Mood e Única (da Moura Dubeux) vai exigir que a companhia amplie seu landbank em 2026 e 2027. Atualmente, o landbank da companhia tem um VGV (Valor Geral de Vendas, a soma do preço de todas as unidades de um empreendimento imobiliário, representando a receita total que se espera arrecadar com a venda de um projeto) estimado em R$ 9,7 bilhões, com cerca de 70% em permuta.
“Se olhar de 2020 para cá, a gente cresce cerca de 40% ano a ano em lançamentos e vendas. É um valor bem robusto. Mesmo assim, se você olhar a dinâmica do landbank, ele está próximo aos R$ 10 bilhões já tem um tempo por conta da nossa disciplina com caixa e com o nosso modelo de negócios. Quando eu olho o potencial que nós temos de avenida de crescimento com a JV da Única e Direcional, da Mood e Riva, vocês vão ver naturalmente um crescimento de landbank em 2026 e 2027 porque agora a gente vai mudar de patamar neste segmento”, destacou Villar.
Mão de obra em falta
O aumento do custo de obra é um desafio para os planos otimistas da companhia. De acordo com o CEO, o avanço médio foi de 30% se compararmos a base orçamentária de 2020/2021 com a de 2024/2025. Dois fatores pesaram sobre este desempenho, segundo Villar: um repique inflacionário de materiais em 2022, por conta da pandemia, o que já se estabilizou, além da falta de mão de obra.
“A mão de obra não vem querendo entrar na construção civil. Normalmente os entrantes, os auxiliares de obras, são jovens que receberam infelizmente o nível de qualificação mais raso, sem ensino fundamental completo ou até pessoas analfabetas. O que a gente viu nos últimos anos foi um aumento significativo dos programas sociais no Brasil e, ao mesmo tempo, surgiram dinâmicas de mercado que favoreceram a informalidade”, disse.
Segundo Villar, há dificuldade em encontrar pessoas para trabalhar nos canteiros de obra, uma vez que estes jovens “têm preferido a soma do Bolsa Família com a renda vinda da informalidade”. Portanto, afirma o executivo, a Moura Dubeux tem oferecido formação técnica para quem quer seguir nesta área, além de pensar em soluções para reduzir a necessidade de pessoal nos canteiros de obra, como a adoção de kits de instalações e o uso de fachadas e alvenarias pré-fabricadas, por exemplo.
Dividendos e recompra de ações
A Moura Dubeux mantém seu programa de recompra de ações aberto e, segundo Villar, deve seguir utilizando esse recurso para agregar valor aos seus acionistas. O CEO também destacou que a companhia quer seguir distribuindo lucro desde que ela continue apresentando crescimento. “A gente quer crescer, e esse crescimento tem que vir com melhora de qualidade, percebida pelo cliente e pelo acionista, mas a gente não quer se alavancar e nem deixar de pagar dividendos aos nossos acionistas”, disse.
Junto com o balanço do terceiro trimestre, a Moura Dubeux reportou que vai pagar R$ 50,7 milhões em dividendos, correspondendo a R$ 0,60 por ação. Terão direito ao valor os titulares de ações da companhia em 14 de novembro de 2025. Os papéis passarão a ser negociados ex-dividendos na B3 a partir de 17 de novembro de 2025 e o pagamento ocorrerá em 26 de novembro.
O CEO falou ainda sobre o aumento do volume financeiro negociado com as ações da Moura Dubeux nos últimos trimestres, sobre a possibilidade de expansão da companhia para outras regiões do País, além do Nordeste, sobre a expectativa de corte de juros em 2026 e como isso pode ajudar o setor, além do menor nível de distratos que a companhia registrou entre julho e setembro deste ano, na comparação com igual período de 2024. Veja a entrevista na íntegra acima, ou clique aqui.
O balanço em números
No terceiro trimestre de 2025, a Moura Dubeux reportou lucro líquido de R$ 117,6 milhões, 32,1% maior que o valor reportado no mesmo período de 2024. O Ebitda (lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado ficou em R$ 130,1 milhões, um crescimento de 42,3% na mesma base de comparação. Já a margem Ebitda ajustada atingiu 23,7%, um avanço de 5,5 pontos percentuais sobre o 3T24.
A receita líquida da companhia somou R$ 548,3 milhões entre julho e setembro deste ano, o que representa um crescimento de 9,3% sobre o mesmo intervalo de 2024. Enquanto isso, a dívida líquida da Moura Dubeux foi para R$ 246,4 milhões, 35,6% maior que o segundo trimestre deste ano. O indicador de alavancagem financeira, medido pela dívida líquida sobre o patrimônio líquido, ficou em 13,6%, aumento de 2,9 pontos percentuais na comparação trimestral.
O desempenho, no geral, agradou o mercado. “Estamos otimistas em relação aos resultados do terceiro trimestre de 2025 da MDNE. No geral, os lucros continuam a refletir o notável desempenho operacional da empresa nos últimos trimestres, com uma contribuição robusta do segmento de condomínios. Assim, mantemos nossa recomendação de compra para as ações, considerando que o domínio regional da MDNE apoia a continuidade do forte desempenho operacional no futuro, ao mesmo tempo em que acreditamos que o segmento de baixa renda é uma via de crescimento sólida para a empresa”, disse a XP Investimentos em nota.