Em termos de comparação, até a segunda-feira (17), antes da decisão do BC, um CDB pós-fixado do Pleno pagava 115% do CDI.
Não é uma coincidência: além da liquidação do Master pelo BC, a Polícia Federal deflagrou uma operação para apurar suspeitas de crimes envolvendo a venda da instituição para o Banco de Brasília (BRB), em março deste ano. Daniel Vorcaro, dono do Master, foi preso. Junto com ele, Augusto Lima, seu ex-sócio no negócio e atual dono do Banco Pleno. Procurado, o banco ressaltou que não é alvo da operação Compliance Zero e não há nenhuma participação os fatos apurados; assim como não mantém mais nenhuma relação societária com o Master. Veja o posicionamento na íntegra ao final.
Lima era sócio no Master desde 2019, sendo um dos responsáveis por um dos braços de negócios mais importantes do banco, o CredCesta. Trata-se de um cartão de crédito consignado para servidores e aposentados.
Por anos, ele foi, ao lado de Vorcaro, um dos três grandes acionistas do Master. O terceiro era Maurício Quadrado – hoje sócio da Banvox Holding, que há poucos meses foi alvo da Operação Carbono Oculto, que investiga o uso de fintechs e gestoras para lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Lima saiu do Master este ano, trocando sua participação na instituição pelo controle do antigo Banco Voiter, uma banco de crédito corporativo e agro que pertencia ao mesmo conglomerado, mas foi vendida por Vorcaro em meio ao redesenho societário que vinha sendo feito para avançar com o acordo com o BRB.
Ao assumir o Voiter, trocou o nome da instituição para Banco Pleno.
Por que as taxas dos CDBS dispararam
Os CDBs do Pleno que nesta amanhã ofereciam retornos bem acima da média do mercado eram de vencimentos curtos, entre este ano e o próximo. Isso pode ser um sinal de que investidores desses ativos optaram por resgatar os valores investidos após a notícia envolvendo o Master.
Como mostramos aqui, quem tinha CDBs do Master na carteira vai precisar recorrer ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para recuperar o dinheiro. Veja o passo a passo para acessar a garantia.
O receio de que o mesmo possa acontecer com o Pleno poderia ter levado investidores a resgatar as aplicações antes do vencimento. Nesse caso, para não ficar com os ativos em caixa, as plataformas aumentam o spread, para fazer o título ganhar tração no mercado secundário. Por isso as taxas sobem.
O mesmo aconteceu com os CDBs do Master em abril deste ano, logo quando a venda ao BRB foi anunciada. À época, era possível encontrar títulos pagando 160% do CDI e especialistas diziam que era um movimento de resgate antecipado de investidores.
“A contaminação nas taxas dos ativos do Pleno vai muito além de um movimento de manada, pois se trata de uma instituição financeira cujo controlador está diretamente envolvido na operação, e com histórico de grande proximidade do banco liquidado”, destaca Bruno Perri, economista-chefe, estrategista de investimentos e sócio-fundador da Forum Investimentos.
Qual o risco dos CDBs do Pleno?
No mercado financeiro, um dos ditados mais populares é aquele que diz que “não existe almoço grátis”. Quando um CDB ou um título de renda fixa oferece uma taxa muito acima da média dos pares, isso significa que o risco também é proporcionalmente maior.
Otávio Araújo, consultor sênior da Zero Markets Brasil, destaca que retornos de 165% do CDI ou taxas prefixadas de 21% ao ano são “completamente fora da curva”, em um momento em que emissores mais sólidos raramente pagam mais do que 105% do CDI. “Em finanças, costumamos dizer que rentabilidade exorbitante quase sempre é o primeiro sinal de risco elevado, pois quando um banco está disposto a pagar caro para captar, isso reflete urgência e fragilidade na estrutura de confiança institucional”, pontua.
O Pleno e o Master tem hoje operações independentes. Não dá para dizer, portanto, que o CDB emitido pelo banco de Augusto Lima se torna mais arriscado por causa dos problemas na instituição de Vorcaro. Mas ambos surgiram de uma mesma linha de negócios arriscada.
“Ofertas de CDBs originadas dessas instituições têm sido historicamente ligadas a promessas de retornos muito acima da média, atraindo milhares de investidores em busca de ‘rentabilidade garantida’. Mas, por trás desse marketing, está o risco real de inadimplência ou até mesmo de liquidação bancária, eventos nos quais o investidor acaba dependendo do famoso FGC”, destaca Araújo.
Para quem já tem esses títulos na carteira, a orientação é manter sempre as aplicações inferiores ao limite de cobertura do FGC, de R$ 250 mil – vale lembrar que esse “teto” inclui os rendimentos do produto. Já para aqueles que estão dentro do limite, é melhor esperar. Essa é a recomendação de Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research.
“O pior dos cenários que pode ocorrer é a liquidação do banco e esse investidor receber o ressarcimento via FGC. Não recomendo que quem está dentro do limite realize a venda agora porque é bem provável que faça isso com forte deságio, um prejuízo que, no fim das contas, não precisa incorrer”, diz.
O que diz o Banco Pleno
Em nota, o Banco Pleno afirmou que:
“O Banco Pleno S.A., instituição financeira autorizada a funcionar pelo Banco Central desde agosto de 2025, ao reafirmar seu compromisso com a ética, a transparência e a conformidade com as regras regulatórias, esclarece que:
– O Banco Pleno, sucessor do Banco Voiter, não é alvo da operação Compliance Zero e não há nenhuma participação da Instituição nos fatos apurados;
– As investigações referem-se ao Banco Master, com o qual o Banco Pleno não mantém nenhuma relação societária;
– Como instituição financeira regulada, o Banco Pleno atua estritamente em conformidade com as normas do Sistema Financeiro Nacional e sua trajetória comprova a solidez e a governança com controles internos robustos e práticas rigorosas de prevenção à lavagem de dinheiro;
– Mantém suas operações funcionando normalmente, dentro das normas do Banco Central, e assegura a continuidade de todos os seus serviços;
– O Banco Pleno agradece a confiança do regulador, de seus clientes, dos parceiros e investidores.”