Gestão de risco: saber como o investimento funciona é tão importante quanto a rentabilidade. (Foto: Divulgação/ Master)
O recente decreto de liquidação extrajudicial do Banco Master, motivado por uma grave crise de liquidez e suspeitas de irregularidades que podem ultrapassar os R$ 12 bilhões, é um evento que abala o mercado, mas, acima de tudo, serve como um estudo de caso prático sobre a importância da gestão de risco na carteira de investimentos.
Temos aqui um ponto essencial para qualquer investidor: se você não entende o evento, não entende o risco.
De maneira geral, o investidor médio se concentra no quanto vai ganhar, em quanto tempo, com qual rentabilidade. Entretanto, ignorar o processo, os controles e os riscos envolvidos é justamente o que transforma um evento isolado em uma perda financeira que poderia ser evitada.
Risco inerente e o papel do FGC
Todo investimento possui risco. Isso não significa que todo risco é igual, mas que todo movimento, e até a ausência dele, traz consequências. Há dois tipos fundamentais de risco:
Risco inerente: é o risco natural de um ativo ou atividade, antes de qualquer controle ou mitigação ser aplicado. Por exemplo, o risco inerente de um banco é a possibilidade de ele quebrar.
Risco residual: o que sobra mesmo depois que você tentou controlar tudo o que era possível.
No sistema financeiro brasileiro, o principal mecanismo de proteção é o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que funciona como um seguro. Ele transforma o risco inerente da quebra de uma instituição em um risco residual limitado ao valor que excede o teto de cobertura.
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Ao garantir R$ 250 mil por CPF ou CNPJ, por instituição, o FGC zerou o risco de perda para quem estava dentro do limite. Para quem tinha, por exemplo, R$ 600 mil, o risco residual é o saldo de R$ 350 mil que não está coberto.
Esse saldo não coberto só será recuperado conforme a liquidação dos ativos do banco e as decisões judiciais subsequentes e isso pode demorar muitos anos. Essa exposição, sem o devido controle, demonstra a falha na gestão pessoal de risco.
Todos nós fazemos seguro para evitar problemas e mitigar o risco, não para eliminá-lo. Concentrar valores acima do limite do FGC em um único Certificado de Depósito Bancário (CDB) de alto prêmio acaba se tornando um risco assumido pelo próprio investidor, e não apenas uma característica do produto.
O caso Banco Master: por que entender processos importa
Quando uma instituição é liquidada, a pergunta-chave deveria ser: quais riscos eram inerentes e quais controles existiam para mitigá-los?
Como investidor, você deve sempre avaliar fundamentos, exposição financeira, liquidez, qualidade da gestão e capacidade operacional. Em instituições financeiras, isso inclui:
adequação de capital;
governança;
composição e qualidade da carteira de crédito;
exposição a ativos de difícil mensuração;
compatibilidade entre prazos, garantias e recursos.
O Master distribuía retornos elevados porque carregava uma carteira de crédito de difícil mensuração, baseada em precatórios e em fundos de direitos creditórios (FIDCs) que, no jargão do mercado, carregavam ativos com alto grau de incerteza, os famosos “ativos podres”. Quanto maior a incerteza, maior o prêmio exigido pelo mercado.
O prêmio de risco do CDB “milagroso”
A relação risco-retorno é o princípio fundamental do mercado, e o caso do Banco Master o ilustra perfeitamente. O banco, assim como outras instituições de menor porte, frequentemente oferecia CDBs pagando remunerações significativamente acima da média de mercado, como 120% do CDI ou mais.
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Essa taxa alta, ou o chamado prêmio de risco, é o retorno adicional que o mercado exige para compensar o investidor por aplicar seu dinheiro em um ativo mais arriscado do que um título público (livre de risco).
Quanto maior o risco, maior deve ser esse prêmio. E ele só faz sentido se você compreende o processo, os riscos envolvidos e os mecanismos disponíveis para preveni-los. Buscar a maior taxa sem compreender o porquê dela é abrir mão da gestão de risco.
Risco não é vilão, desconhecimento sim
O risco está ligado às leis da probabilidade e o problema não está nele, mas na falta de entendimento. Por isso, antes de perguntar qual investimento rende mais, o correto seria perguntar: eu entendo o que esse investimento faz, como faz e por que faz?. Afinal, nenhum investidor consegue controlar riscos que sequer conhece.
O investidor que entende processos, fundamentos, controles e probabilidades toma decisões melhores. Portanto:
não negligencie controles;
não ignore riscos inerentes;
não superestime seu perfil;
nunca coloque seu patrimônio nas mãos do acaso.
A gestão de risco não elimina riscos, mas te prepara para eles.
O balanceamento é o seu controle
Um evento como a liquidação do Banco Master, embora grave, não representa risco sistêmico graças à atuação do Banco Central e do próprio FGC. Para os investidores, a principal recomendação é manter a serenidade e voltar aos fundamentos.
O seu controle primário é o balanceamento e a diversificação.
Defina seu “porquê”: antes de investir, trace suas metas, prazos e tolerância a perdas;
Mapeie seus riscos e consequências: se der errado, o que acontece? Você tem reserva? Há FGC? Qual é o impacto real no seu patrimônio?;
Busque informações sobre os produtos: um investimento só fará sentido se você for capaz de explicar do que se trata e por que o seu dinheiro está nele;
Diversificação é mitigação: distribua seus ativos em diferentes classes (renda fixa, ações, fundos), para que um evento isolado, ou até mesmo um “Cisne Negro” (situações que mudam paradigmas e eram consideradas de baixíssima probabilidade) não aniquile seu patrimônio.
A maioria dos investidores perde dinheiro não por movimentos macroeconômicos, mas por negligência, concentração e desconhecimento. Lembre-se sempre que rentabilidade é importante, mas sem controle ela se torna apenas sorte. E sorte não é estratégia.
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Entenda seus riscos antes de implementar seu planejamento. A proteção começa com o conhecimento.