A Ambipar (AMBP3) viveu um 2025 turbulento. De maior alta da Bolsa de Valores brasileira em 2024, a ação da empresa agora é negociada na casa dos centavos, em meio ao avanço da crise que culminou no pedido de recuperação judicial.
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A Ambipar (AMBP3) viveu um 2025 turbulento. De maior alta da Bolsa de Valores brasileira em 2024, a ação da empresa agora é negociada na casa dos centavos, em meio ao avanço da crise que culminou no pedido de recuperação judicial.
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No final do ano passado, os papéis da Ambipar chegaram a ser negociados acima de R$ 100, após passarem por uma valorização de 730% em 2024. A empresa também figurou entre as mais valiosas da B3, atingindo um valor de mercado de R$ 44,8 bilhões na sua máxima histórica.
O movimento surpreendeu analistas que o atribuíram, em parte, ao CEO da empresa, Tércio Borlenghi Junior, e à gestora Trustee. O aumento na posição desses players na Ambipar gerou, na visão de especialistas, uma movimentação conhecida como short squeeze. Ela ocorre quando investidores com posições vendidas (short) desfazem suas apostas na queda do papel e recompram a ação para zerar a posição.
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Em 2025, a Ambipar iniciou o ano sob a sombra de uma possível Oferta Pública de Aquisição (OPA), obrigação que foi descartada meses depois. Apartir de setembro, a companhia começou a relatar dificuldades financeiras, que culminaram primeiro em um pedido de proteção a credores e, posteriormente, em uma recuperação judicial.
A seguir, confira a linha do tempo das principais notícias que movimentaram a Ambipar em 2025:
A Superintendência de Registro de Valores Mobiliários (SRE) da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinou, em março, que fosse realizada uma OPA envolvendo a Ambipar.
Segundo a área técnica da CVM, a Trustee teria atuado de forma coordenada com o controlador da Ambipar, Tercio Borlenghi Júnior, nas compras de ações feitas entre julho e agosto de 2024.
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Esse movimento levou, em 12 de julho do ano passado, à ultrapassagem do limite de 1/3 das ações em circulação. Diante disso, a SRE entendeu ser necessária a realização de uma OPA por aumento de participação – um mecanismo criado para proteger investidores minoritários sempre que o controlador amplia sua fatia acionária a ponto de reduzir a liquidez e o volume de papéis disponíveis no mercado.
As partes envolvidas recorreram e o caso foi levado ao colegiado da CVM. Em reunião realizada no final de junho, o então presidente da autarquia, João Pedro Nascimento, e a diretora Marina Copola votaram favoravelmente à realização de uma OPA na Ambipar. Eles entenderam, porém, que a obrigatoriedade da oferta deveria recair apenas sobre o controlador da empresa, Tercio Borlenghi Junior.
Na ocasião, o então diretor Otto Lobo pediu vista do processo, o que suspendeu a deliberação. A análise foi retomada um mês depois, no final de julho, quando Lobo – agora atuando como presidente interino – e João Accioly votaram contra a exigência de OPA na Ambipar, encerrando a discussão.
No início de agosto, a Assembleia Geral Extraordinária da empresa aprovou o processo de desdobramento na proporção de 1 para 10. Ou seja, o investidor da Ambipar viu sua quantidade de ações ser multiplicada por 10, enquanto o preço do papel foi dividido por 10. O ativo passou a ser negociado em torno de R$ 17, sendo que antes ultrapassava os R$ 100.
Um processo como esse envolve a divisão das ações existentes, aumentando o número de ativos em circulação, mas mantendo o valor de mercado da empresa. De acordo com a companhia, o desdobramento buscava ampliar a liquidez das ações AMBP3 e possibilitar um ajuste na cotação dos papéis, tornando o preço mais atrativo e acessível a um maior número de investidores.
Ao final de setembro, novas notícias começaram a mexer com as ações da companhia. A empresa informou que o então CFO (diretor financeiro), João Daniel Piran de Arruda, deixou o cargo. A vaga foi ocupada por Ricardo Rosanova Garcia, que já era diretor de Relações com Investidores (RI) e passou a exercer as duas funções.
Arruda havia entrado na Ambipar em agosto de 2024, depois de acumular mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro, cobrindo indústrias de geração de resíduos, energia, saneamento e infraestrutura de empresas no Brasil e no exterior. Antes de atuar na companhia de soluções ambientais, sua última passagem havia sido pelo Bank of America (BofA), onde ficou quase 15 anos.
Na mesma semana, a empresa anunciou que conseguiu uma tutela cautelar na 3.ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. Na prática, a decisão protegeria a companhia de exigências de credores por 30 dias, prorrogáveis por mais 30.
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Em comunicado, a Ambipar explicou que a medida buscava garantir a continuidade de suas atividades e proteger seus ativos. A companhia destacou ainda que seguiria dedicada a manter um diálogo construtivo com credores.
Na petição entregue à Justiça, a companhia informou que o aditivo em um contrato de empréstimo com o Deutsche Bank no exterior começou a esvaziar o caixa da empresa, com uma saída contabilizada de mais de R$ 200 milhões.
No mesmo documento, a Ambipar calculou o risco de um rombo acima de R$ 10 bilhões, levando em consideração que os seus compromissos financeiros continham cláusulas de vencimento antecipado em caso de inadimplência de qualquer uma de suas dívidas.
Em 20 de outubro, a empresa anunciou que havia entrado com pedido de recuperação judicial na Justiça. A decisão foi tomada em caráter de urgência pelo conselho de administração.
Já no dia 30 de outubro, a juíza Caroline Fonseca, da 3ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, aprovou o pedido de recuperação judicial. Com a decisão, as ações e execuções movidas contra a Ambipar ficaram suspensas. Todos os fornecedores de bens e serviços essenciais para o funcionamento da companhia também tiveram que continuar mantendo as entregas, sem interrupções.
Em novembro, quando os investidores aguardavam o balanço da empresa para entender a sua saúde financeira, a Ambipar adiou a divulgação das informações referentes ao terceiro trimestre, originalmente prevista para 12 de novembro.
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Segundo a companhia, o adiamento ocorreu devido ao processo de recuperação judicial, que impactou a conclusão dos trabalhos de revisão pela empresa, seus assessores e auditores independentes.
Além disso, de acordo com a Ambipar, as alterações na diretoria financeira demandaram ajustes nos processos internos de reporte e validação de informações contábeis e financeiras, impactando o cronograma inicialmente previsto para a conclusão e divulgação do balanço.
Em comunicado enviado à CVM, a Ambipar afirmou que suas políticas e controles internos passam por monitoramento contínuo e avaliações periódicas.
Ainda segundo a empresa, esse processo levou à identificação de “falhas graves na execução das melhores práticas de governança e gestão de riscos”, o que resultou na demissão de 35 diretores e gestores. A estrutura responsável pelas áreas foi desmobilizada e estava sob comando do ex-CFO, João Daniel Piran de Arruda.
A Ambipar também respondeu a um ofício da B3, recebido em 31 de outubro, que tratava de seu plano de reestruturação. De acordo com a companhia, as mudanças na governança e na gestão de riscos estão sendo analisadas e executadas gradualmente, com o objetivo de tornar a estrutura “mais enxuta, eficiente e alinhada à realidade operacional” da empresa. A Ambipar espera concluir essa implementação até fevereiro de 2026.
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