As preocupações relacionadas à sustentabilidade financeira do mercado de inteligência artificial se acentuaram nas últimas semanas, em especial nos Estados Unidos. Por anos, as grandes empresas de tecnologia e de IA americanas funcionaram como um imã de capital e sustentaram o desempenho das bolsas de Nova York.
Toda essa euforia que fez companhias, como NVIDIA, chegarem a bater US$ 1 trilhão de valor de mercado está sendo questionada. O estouro de uma “bolha de IA” poderia puxar rapidamente para baixo os preços desse mercado e, aos moldes da bolha da internet nos anos 90, provocar grandes prejuízos.
Contudo, para Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos, a bolha de IA pode até existir, mas não há risco iminente de estouro. Para ele, falta um detalhe principal e comum a estouros de bolha: a alavancagem. Por mais que estejam supervalorizadas, no geral, ele não vê as empresas do segmento com um alto nível de endividamento.
A maior parte do dinheiro investido em IA, aponta Gardimam, ainda sai do fluxo de caixa das empresas. “Na bolha da internet foi exatamente o contrário, as empresas se penduraram em dívida bancária e quando houve elevação de juros, a bolha estourou”, disse o economista-chefe.
Na visão dele, os investidores devem continuar acompanhando a saúde financeira das empresas de IA, mas sem pânico.
“Esse padrão de financiamento é muito importante para o investidor ter em mente. Quando o mercado é financiado por dívida e quando é financiado por fluxo de caixa. Hoje há alguma tranquilidade”, diz o economista-chefe.
“Primazia da renda fixa” com Bolsa barata
Se no mercado americano há alguma preocupação sobre o valor das empresas, no mercado brasileiro não existe espaço para dúvidas. Mesmo após uma alta de 30% em 2025, a Bolsa segue barata e com oportunidades.
O economista-chefe da Ágora destaca o bom desempenho de empresas boas pagadoras dividendos, que continuam sob os holofotes em termos de recomendação de compra. As ações de Allos, Isa Energia, Itaú, Vale e Telefônica Brasil compõem a carteira de dividendos da corretora.
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“São empresas mais consolidadas, com negócios já no nível maturação. Poderíamos adicionar empresas como Vale e Petrobras, mas elas possuem um nível de volatilidade que preferimos não adicionar à carteira”, diz Gardimam. “E em time que está ganhando, não se mexe.”
A renda fixa também não perdeu a majestade. A taxa básica de juros Selic está hoje em 15% ao ano, a maior em duas décadas. Para o ano que vem são esperados cortes nos juros, mas os retornos devem continuar competitivos.
“Estamos falando de uma taxa real (descontando inflação) esperada de 8%, é uma oportunidade muito vantajosa”, diz o economista.
Gardimam participou de uma entrevista exclusiva com o E-Investidor sobre o que esperar dos mercados, interno e externo, nos próximos meses.