- O que o bitcoin e o Superman têm em comum? Os dois foram criados durante graves crises financeiras para suprir demandas da sociedade
- A valorização expressiva em um curto período atraiu cada vez mais investidores para a criptomoeda. Contudo, após o pico, em maio deste ano o bitcoin registrou a segunda maior queda mensal desde meados de 2012
- Segundo especialistas a queda é de curto prazo, mas a criptomoeda tende a se valorizar no futuro
Em outubro de 1929, a Bolsa de Nova York desmoronava e jogava os EUA em uma crise financeira profunda, de proporções mundiais, que ficou conhecida como ‘A Grande Depressão’. No ano de 1938, o maior herói dos quadrinhos, o Superman, era lançado como uma junção de tudo que a sociedade americana carecia após à grave recessão: força, coragem e esperança, além de uma pitada de contestação política.
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De forma semelhante foi originado o bitcoin. Os primeiros registros da criptomoeda aconteceram em meados de 2008, quando um usuário chamado Satoshi Nakamoto, psudônimo usado pelo o autor ou autores da moeda, publicou em um fórum o arquivo “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”. Em janeiro de 2009, houve o primeiro registro de mineração (processo que gera novos bitcoins).
Na época, o mundo passava pela maior recessão econômica desde a Grande Depressão, devido ao estouro de uma bolha imobiliária nos EUA. O mercado acionário foi duramente afetado e novamente ações de empresas viraram pó, bancos quebraram e milhares perderam as economias – ou seja, o sistema financeiro tradicional entrou em colapso.
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A criptomoeda, assim como o famoso personagem dos quadrinhos, veio para suprir as demandas da sociedade e a então desilusão com os agentes econômicos tradicionais. Desta vez, não mais por um herói imaginário, mas por meio de um projeto de sistema financeiro alternativo e descentralizado.
“O processo de aumento de confiança em relação ao bitcoin é um fator que é muito aderente a como a sociedade vê as finanças hoje”, explica Guilherme Quintino, country manager da SatoshiTango Brasil, exchange de criptomoedas. “Aos poucos vamos entendendo que existem outras maneiras de gerir as finanças, que não aquela em que a moeda é controlada por um órgão intermediador.”
Barreiras de curto prazo
A valorização expressiva em um curto período atraiu cada vez mais investidores para a criptomoeda. Contudo, após o pico, em maio deste ano o bitcoin registrou a segunda maior queda mensal desde meados de 2012, com uma desvalorização de 35,28%.
A queda foi impulsionada por restrições à atividade de mineração na China, além de personalidades do mundo da tecnologia, como Elon Musk, que passaram a questionar o impacto ambiental da criptomoeda. Para minerar o criptoativo, é necessário um uso muito grande de energia, já que o processo é complexo e feito por meio de computadores.
Musk foi inclusive acusado de manipular o mercado por meio dos seus tweets polêmicos, que jogavam os criptoativos ora para cima, ora para baixo.“Existem também algumas regulamentações que alguns países querem aplicar nas criptomoedas. Isso fez com que o sentimento de medo dos investidores afetasse o preço do bitcoin”, afirma Wilton Gomes, analista de operações financeiras da BlueBenx.
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Gomes alerta, no entanto, que no longo prazo a perspectiva é de alta. “Quando olhamos a visão macro do bitcoin, temos uma visão de tendência de valorização no futuro. As questões que estão levando a criptomoeda a cair hoje são de curto a médio prazo. Nos últimos dois meses as notícias são majoritariamente pessimistas, mas uma hora as coisas vão se estabilizar.”
Essa também é a visão de Quintino. “O que é interessante é que mesmo com esse ‘ataque’ (à mineração) feito pela China, a rede continua funcionando. Os computadores usados (para minerar) podem ser levados facilmente para outros países, o que faz a rede ser muito flexível, ter uma estrutura muito forte”, afirma.
Além disso, grandes instituições financeiras passaram a oferecer produtos de investimento com foco no mercado de criptoativos. É o caso do Itaú, que disponibilizou ETF de criptoativos para os clientes, BTG e até mesmo XP.
Investimento ou reserva de valor?
Segundo Tiago Reis, fundador da Suno Research, o bitcoin no futuro tende a funcionar mais como uma reserva de valor semelhante ao ouro ou dólar, para proteger poder de compra dos investidores em épocas de crise, do que realmente como um investimento.
Isso porque, tal como o ouro e dólar, investir em bitcoin não faria sentido no longo prazo uma vez que esses ativos não geram caixa. Em vez disso, tem altos e baixos conforme a busca por proteção e, no longo prazo, os ganhos tendem a ficar estáveis.
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“É preciso destacar, porém, que dificilmente esse mecanismo financeiro deverá ser visto como investimento e, assim como o ouro, deve ser considerado como uma reserva de valor que foi criada recentemente. Portanto, de fato, investir em bitcoins não se traduz numa aplicação sustentável no longo prazo”, afirmou Reis, em artigo escrito para a Suno.
Com a queda dos últimos meses, Reis vê a moeda se comportando de forma mais próxima a uma moeda forte, ou seja, após alguns altos e baixos, os ganhos revertem para a média. O especialista ainda questiona se o fato de o bitcoin caminhar para o comportamento de outras reservas de valor, com menor volatilidade, agradaria ou desagradaria os investidores.
Nos últimos 2 meses foi queda. Nos últimos 12 foi alta.
Minha dúvida é: a estabilidade que uma moeda traz, deixa feliz os investidores de cripto?
— Tiago Guitián Reis (@Tiagogreis) June 20, 2021
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Quintino concorda que o bitcoin é uma reserva de valor e que, em um futuro mais distante, a volatilidade da criptomoeda deve ser menor. Porém ainda vê muito chão para valorização e a ampliação do escopo de usabilidade do ativo, com a adição de outras funcionalidades.
“A partir do dia 14 de julho terá uma atualização que implementa algumas outras funcionalidades ao bitcoin para além da reserva de valor”, explica o especialista. “Por meio do bitcoin será possível fazer o processamento de microtransações financeiras. Novas camadas serão criadas que irão possibilitar fazer várias transações por segundo, sem saturar a rede. Já temos empresas não só investindo mas aceitando a criptomoeda nas operações de compra e venda, como o Mercado Livre, Sephora e Subway. O BTC veio revolucionar e está só no começo.”