- Vanderlei Rigatieri, além de CEO, é um dos fundadores da WDC, juntamente com Francisco Sergio Day de Toledo
- Fundada em 2003, a companhia foi criada com o objetivo de comercializar produtos de tecnologia wireless e de transmissão por rede de dados
- Atualmente, nesta sexta-feira (2), as ações LVTC3 estão em queda de 5,81%, cotadas à R$ 24,00. Desde seu IPO, a companhia já obteve uma valorização de 8,65%.
A tecnologia 5G é a próxima geração de rede de internet móvel. A promessa é que ela trará mais velocidade para downloads e uploads, maior cobertura e conexões mais estáveis.
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Diante disso, muitas pessoas apostavam que com a chegada do 5G no Brasil, a internet banda larga fixa estaria com os dias contados. Entretanto, Vanderlei Rigatieri, CEO da WDC Networks, fornecedora brasileira de produtos de fibra óptica, acredita que as duas tecnologias irão coexistir e que a transformação será uma grande oportunidade para a companhia.
Segundo o executivo, o motivo por trás da oportunidade é o fato de que, para o 5G oferecer a baixa latência anunciada, as empresas que comprarem as frequências terão que instalar mini data centers espalhados ao redor da rede.
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“Hoje, os data centers estão muito concentrados nos grandes centros. Para fazer com que as redes tenham esse delay (reduzido) que está sendo prometido, os data centers terão que ser mais próximos dos assinantes. Com isso, essa implementação vai demandar muita fibra óptica para interligar a estrutura toda”, diz.
O 5G promete uma velocidade até 100x superior ao 4G e uma latência extremamente baixa. A proposta é tornar tudo conectado, como celulares, carros, máquinas de lavar, geladeira e câmeras de segurança. Ela também é considerada o alicerce para a implementação de cirurgias à distância e automóveis autônomos. “A tecnologia 5G é muito importante para a comunicação móvel e está sendo muito esperada não só aqui no Brasil, mas como no mundo todo”, destaca Rigatieri.
Para Rigatieri, essa revolução é sinal de oportunidade e a companhia abriu capital para expandir os negócios. A WDC Networks (LVTC3) estreou na B3 (B3SA3) no dia 26 de julho, movimentando cerca de R$ 450 milhões com o IPO. Em seu primeiro dia de pregão, no entanto, a companhia registrou uma queda de 6,55% nas ações.
Fundada em 2003, a WDC é líder no fornecimento de tecnologia para provedores de serviços de internet (ISPs), emprega 310 funcionários e registrou um faturamento de R$ 864 milhões em 2020.
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No fechamento da sexta-feira (3), as ações LVTC3 estavam em alta de 3,36%, cotadas a R$ 24,92. Desde seu IPO, a companhia já registrou uma valorização de 12,81%.
O E-Investidor conversou com o CEO sobre desafios e estratégias de crescimento da companhia. Confira os principais trechos da entrevista:
E-Investidor – Muitas empresas sofreram com perdas de receita e clientes causadas pela pandemia da covid-19. Quais as lições aprendidas até agora?
Vanderlei Rigatieri – A pandemia não foi boa para ninguém, foi terrível no Brasil e no mundo. No nosso caso acabou acontecendo uma aceleração dos negócios, por incrível que pareça, porque a WDC está presente em três grandes mercados: o de Telecom, com a banda larga fixa por fibra óptica; o corporativo, com a parte de câmeras de vigilância, cibersegurança e redes Wi-fi, e o mercado de energia solar, sendo que tínhamos acabado de inaugurar a fábrica em Extrema(MG), para a produção de kits de geração doméstica e profissional de energia solar.
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A princípio ficamos preocupados, mas em março de 2020 batemos o primeiro recorde de vendas. Quando todo mundo adotou o home office, criou-se uma demanda por produtos de fibra óptica. As próprias operadoras tiveram uma aceleração muito grande dos serviços de banda larga com melhor qualidade, já que se você não tem uma rede de internet com acesso de qualidade, não consegue trabalhar remotamente.
Não foi apenas por causa da pandemia que nós crescemos, pois já vínhamos em um ritmo de crescimento de quase 40% ao ano. Então, como a pandemia não nos afetou com perda de receita, pelo contrário, garantiu a manutenção do nosso ritmo de crescimento. Percebemos que tivemos muita sorte na escolha dos nichos de mercado que atuamos, porque são três frentes que estão muito associadas ao futuro.
E-Investidor – O senhor acredita que o apetite do mercado por IPOs está desaquecido?
Rigatieri – Eu acredito que o mercado de investimentos, assim como os investidores, estão ficando um pouco mais seletivos. Nós passamos por isso no nosso IPO, ou seja, aquela exuberância que teve no passado, no qual havia uma tremenda liquidez nos fundos de ações, uma busca tremenda por renda variável e taxas de juros pequenas não tão atrativas para a renda fixa, fez com que tivesse um boom.
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Hoje, nós estamos vivendo uma situação diferente, ainda existe apetite, não tenho dúvidas que teremos vários IPOs ao longo do ano, mas o mercado aprendeu que as empresas e os fundos de investimentos perceberam que o Brasil tem poucas empresas abertas perto do tamanho do País. Não acredito que vá se perder o apetite por IPOs, mas o funil é mais estreito, ou seja, você precisa realmente estar preparado com um bom plano de negócios e ter consistência no que está oferecendo.
E-Investidor – Mas diante das incertezas pela variante Delta do vírus e os riscos políticos no radar, muitas empresas acabaram desistindo da abertura de capital. Por que a WDC decidiu continuar com os planos?
Rigatieri – Nós temos um modelo de negócio que chama-se TaaS, Tecnologia as a Service. Esse formato exige muito capital e o IPO era a saída natural para que a gente pudesse se capitalizar, balanceando entre a alavancagem com os bancos e a emissão de ações (equity) para manter o ritmo de crescimento.
Então, mesmo durante a pandemia, nós mantivemos essa ideia do IPO. Entretanto, nós tivemos uma mudança em março para o modelo da oferta com esforços restritos (CVM-476), na qual você só conta com investidores qualificados. Fizemos essa mudança que foi extremamente importante para o sucesso da oferta.
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E-Investidor – Quais foram as vantagens oferecidas pela oferta com esforços restritos?
Rigatieri – Nós estávamos no ritmo da oferta pública convencional em janeiro, mas logo em seguida, em março, o mercado deu uma balançada. Com isso, o sindicato e os bancos que nos assessoraram, o BTG Pactual, Bradesco BBI, Itaú BBA e o City, nos aconselharam a listar a companhia como aberta, divulgar os dados do primeiro trimestre e entrar no modelo CVM 476, que é um processo muito mais flexível, muito mais rápido e, desta forma, nós estaríamos prontos para a abertura no momento que o mercado desse um sinal de recuperação.
Isso foi fundamental porque ganhamos muita agilidade e uma facilidade em termos de tempo, porque o IPO tradicional tem um ritual de tempo muito maior exigido pela CVM.
E-Investidor – Quais foram os maiores desafios de fazer a abertura de capital?
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Rigatieri – Fazer um IPO é um processo extremamente complexo e rigoroso, há toda uma legislação e um compliance, pois a CVM e a B3 exigem que a empresa esteja em um nível muito alto de governança corporativa. Então, tem um desafio grande de deixar a empresa preparada com conselho de administração, conselheiros independentes e, ainda, uma auditoria independente que siga os padrões das entidades.
A outra coisa importante é que há um processo de conversa com os investidores antes do IPO, que é super desgastante para quem está pilotando o processo. Fizemos muitas reuniões com os investidores, tivemos muita interação e ainda somos questionados pelo investidor, que quer saber exatamente como é o modelo de negócios, os resultados, o track record e o plano de futuro.
Ou seja, quem passa pelo IPO foi sabatinado e tem um selo de qualidade na governança importantíssimo para deixar o investidor mais tranquilo.
E-Investidor – O que pretendem fazer com os recursos levantados com a oferta?
Rigatieri – A nossa oferta foi apenas primária e levantamos R$ 450 milhões. A maior parte desses recursos e toda a tese de investimentos da empresa é justamente acelerar o modelo TaaS. Grande parte do capital será destinado, ao longo do próximo ano, ao funding para esse modelo crescer.
Eu sempre digo que a WDC é um V8 e precisa de gasolina para acelerar, sendo a gasolina, o capital. Ou seja, nós colocamos gasolina no nosso tanque e vamos manter o ritmo de crescimento. Mas é claro que temos no radar pequenas aquisições estratégicas, então podemos usar um pouquinho desses recursos para algum tipo de M&A (fusões e aquisições) que traga expertise ou a tecnologia que acreditamos ser importante para complementar a nossa oferta.
E-Investidor – A WDC atua no Brasil, Panamá, Colômbia e Estados Unidos. A abertura de capital deve impactar nos planos de expansão da empresa? Já existem novos mercados no radar?
Rigatieri – Com certeza, a partir de agora vamos conseguir expandir esses escritórios no exterior, porque eles sim foram muito afetados com a pandemia. Alguns países tiveram lockdowns mais severos, e está no nosso plano uma expansão de portfólio nesses locais. E, eventualmente até abrir alguma outra operação dentro da América Latina, sempre com esse objetivo de crescimento.
E-Investidor – Unifique e Brisanet também fizeram IPOs esse ano. Na sua avaliação, por que tantas empresas de fibra óptica estão abrindo capital?
Rigatieri – Eu conheço esse mercado de ISP (Internet Service Provider, na sigla em inglês) há muitos anos. Em 2011, eu fiz uma aventura: comprei uma caminhonete e andei 50 mil quilômetros pelo Brasil e fui conhecer esses provedores in loco. Isso mudou muito a WDC, porque vimos o grande potencial que essas empresas tinham e que está se concretizando agora.
Vimos que o caminho do IPO para os provedores é um via de crescimento, ou seja, eles têm uma necessidade de capital para fazer as construção das suas redes e aumentar a implementação de fibra óptica no mercado. Para isso, porém, eles precisam de uma fonte de recurso. O IPO é um passo importante para que esses provedores maiores, muitos dos quais já receberam investimentos de private equity, venham ao mercado.
E-Investidor – Há espaço para esse segmento na Bolsa?
Rigatieri – Hoje existem mais de seis mil provedores de internet no Brasil e acredito que haja espaço para um número razoável dessas empresas na Bolsa. Esses três que abriram capital, por exemplo, Brisanet, Unifique e Desktop, educaram o mercado. À medida que esses provedores tiverem sucesso na Bolsa, virão mais companhias do mesmo segmento.
E-Investidor – A chegada da tecnologia 5G no País é um dos assuntos mais comentados do momento. O Sr. acredita que ela vai realmente revolucionar a internet móvel ?
Rigatieri – Eu já vivi várias fases de Telecom no País. A tecnologia 5G é muito importante para a comunicação móvel, principalmente a dos celulares, e está sendo muito esperada não só aqui no Brasil, mas como no mundo todo.
Eu tenho a visão de que existem certas aplicações que serão fundamentais para o uso do 5G, principalmente as aplicações de automação, Internet da Coisas (IOT) e até as de carros autônomos, que demandam de uma latência extremamente baixa, um atraso na comunicação muito menor que o 4G tem hoje.
Em telecomunicações, a minha experiência mostra que as tecnologias vão conviver muito bem juntas. Você terá aplicações que vão se dar muito bem em cima da fibra óptica que está sendo investida pelas operadoras, as Infracos e os próprios ISPs.
E tem outras aplicações que serão muito boas rodando em 5G. Meu único receio é que haja uma frustração do mercado com a velocidade de implementação do 5G e com todos os benefícios que estão sendo vendidos em cima dele.
E-Investidor – Uma das principais vantagens que ela traz é a velocidade. Segundo especialistas, pode ser até 100x superior ao 4G. Como essa nova tecnologia impacta os negócios da WDC?
Rigatieri – Para nós o 5G pode ser uma oportunidade única para o futuro, porque para ele oferecer a latência que está prometendo para os assinantes, as operadoras e as empresas que comprarem a frequência terão que instalar mini data centers espalhados pela rede.
Hoje, os data centers estão muito concentrados nos grandes centros. Para conseguir fazer com que as redes tenham esse delay (reduzido) que está sendo prometido, você vai ter que pegar esse conteúdo, como por exemplo o filme da Netflix, e colocar mais próximos dos assinantes. Isso, nos Estados Unidos, se chama Edge Data center, o data center de borda, e vai criar uma grande oportunidade para a nossa empresa em termos de oferta desses mini data centers.
Nós já construímos esses mini data centers para os provedores e temos uma oferta muito clara para pequenos data centers que são instalados embaixo das torres. Então, estamos muito animados com essa evolução para o 5G e o investimento necessário para se implementar, porque vai consumir muita fibra óptica para interligar essas torres todas.
E-Investidor – Armac, Clearsale e Viveo, todas estrearam na Bolsa com alta, entretanto, a WDC fechou seu primeiro dia na B3 em queda de 4,7%, a R$ 22,09. Como o Sr. avalia a recepção dos investidores?
Rigatieri – No mercado de ações, não podemos ficar olhando para o curto prazo e a proposta da WDC é de agregar valor ao longo prazo, Além disso, tem outro fator que é o nosso mercado, que é B2B. Ou seja, se você for até o consumidor final perguntar da WDC, provavelmente ele não ouviu nosso nome, porque nós somos conhecidos em nichos.
Então, na medida que o mercado de investidor conhece mais sobre a WDC e sobre o nosso modelo de negócios, tenho certeza que teremos uma performance muito legal, porque nós somos uma empresa que tem um track record de crescimento alto. Entregamos bons resultados no segundo trimestre em termos de taxa de crescimento de vendas, com aumento do lucro líquido em mais de 80%.
Na minha opinião é uma questão de aculturamento do nosso negócio, ou seja, será necessário um tempo para o investidor, seja ele qualificado ou pessoa física, entender o que estamos fazendo, o que estamos entregando e os mercados nos quais estamos trabalhando.
E-Investidor – Por que os investidores deveriam investir na WDC?
Rigatieri – Tenho certeza que os investidores vão, ao longo do tempo, entender muito bem a nossa proposta de valor. A WDC é uma empresa que tem uma filosofia de longo prazo. Quando comecei a falar com os investidores, eu dizia que o IPO era apenas o começo, não é na oferta pública que os sócios atuais querem ganhar dinheiro, pelo contrário. O IPO é uma fonte de recursos para trazemos muito valor agregado.
Nós temos a preocupação de gerar valor para os acionistas, estamos sempre muito preocupados com a inovação, tanto que temos uma lema dentro da companhia que é #descomplica, essa companhia quer descomplicar a vida dos seus clientes e fornecedores.
Essa proposta de trazer o modelo de negócio TaaS é super aderente ao mercado. Você já vê empresas que alugam caminhões e frotas, a pessoa física já se acostumou a comprar música via serviço de streaming. Nós aprendemos a fazer o consumo de serviço on demand, é exatamente essa a proposta de valor que a WDC trouxe para o mercado de Telecom, corporativo, e, agora, para o mercado de energia solar.