Na última coluna contei sobre meu início ao acaso no mercado de ações, aos 13 anos. Confesso que a
experiência como investidora tem sido uma montanha-russa divertida e assustadora ao mesmo tempo.
Às vezes é um trem fantasma, como foram os meses de março e abril: é muito fácil ficar “viciada” mas também querer desistir no meio do caminho. O que me conforta é que profissionais mais experientes tem as mesmas dúvidas e também sofrem nas crises. Acho que eles escondem melhor as dúvidas e conseguem passar a impressão que sempre sabem o que estão fazendo.
Profissionais também usam palavras difíceis de entender e explicações longas, que às vezes mais me confundem do que explicam. Por outro lado, conversar ou ler sobre investidores experientes é uma das melhores formas de aprender. Alguns são mais acessíveis do que outros, mas minha experiência é que no YouTube, blogs, sites e livros há muitos ensinamentos.
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Eu sempre prefiro entender mais como investidores de sucesso pensam do que buscar dicas de ações. Entrar na cabeça dessas pessoas, entender suas emoções, seus medos e lições aprendidas têm um valor enorme. É bom saber que não é difícil apenas para mim.
Os investidores que mais gosto de ler, pois tem uma linguagem simples, são Warren Buffett e Peter Lynch – “O jeito Warren Buffett de investir – Robert Hagstrom” e “O jeito Peter Lynch de investir – Peter Lynch e John Rothchild”. No Brasil, há vários gestores geniais e um bom resumo de suas estratégias está nos livros Fora da Curva 1 e 2.
É mais fácil aprender com os erros dos outros, mas também é super importante aprender com os nossos próprios erros. E vão ser muitos. Mas, pior, erros repetidos – apesar de eu prometer nunca mais cometê-los.
Comecei a fazer menos besteiras em investimentos quando passei a anotar não só o que lia de bom sobre empresas, mas principalmente escrever por que eu estava comprando uma ação.
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O fato de colocar as ideias no papel me força a organizar os motivos pelos quais quero comprar a ação e a pensar em diferentes cenários. Às vezes, dá preguiça escrever vários parágrafos e dá vontade de comprar logo a ação. Mas aprendi que quanto mais tempo se gasta pensando no investimento maiores as chances de ter um bom retorno, e principalmente saber o que fazer durante as crises.
Vou dar um exemplo bastante conhecido: Magazine Luiza (MGLU3). O meu racional de compra de Magalu era:
- Empresa muito bem gerida e tocada pelos donos. Há várias entrevistas do CEO, Frederico
Trajano, disponíveis na internet; - Marca forte, muito querida pelos clientes e crescendo em várias categorias novas. Basta “dar um Google” e há vários depoimentos positivos de clientes;
- É uma empresa que está nas carteiras dos melhores fundos do Brasil, segundo o site da CVM e várias entrevistas de gestores. É melhor estar em boa companhia;
- Magalu tem o melhor aplicativo de comércio eletrônico e uma das melhores experiências de
compra. Testei todos, aplicativos e sites; - Empresa na dianteira na transformação digital no Brasil no setor de varejo;
- A ação parecia cara – múltiplos de relação Preço/Lucro acima da média do Ibovespa – mas o
crescimento das receitas tem sido muito grande; - Tendências favoráveis para a empresa. Mais pessoas comprando mais produtos pela internet e a Magalu tem ganho mercado. Há varias informações sobre isso no site de relações com
investidores da empresa. - Resumindo, quero ser sócia do Fred Trajano e participar do crescimento da empresa e do mercado de comércio eletrônico.
Quando veio a atual crise da covid-19, a ação de Magalu chegou a cair quase 50%, em março. Confesso
que qualquer um ficaria nervoso e com medo.
Nessas horas é importante buscar o caderno e reler o que se escreveu no momento da compra. Todos os motivos continuaram válidos e, na verdade, com o
fechamento das lojas na maior parte das cidades, a tendência de fazer mais compras on-line até se
acelerou.
Neste momento, o investidor provavelmente fica muito mais aliviado e com menos vontade
de vender Magalu. Vale lembrar que a ação dobrou de valor em alguma semanas. Enfim, investir é uma montanha-russa de emoções para qualquer um, e estar preparado para os momentos de perda pode ajudar muito. No final, Bolsa é um desafio sério, não um parque de diversões.
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