Investimento não é cassino

Fabrizio Gueratto é especialista em investimentos, com mais de 15 anos de experiência, além de ser o apresentador e financista do Canal de YouTube 1Bilhão Educação Financeira, com mais de 300 mil inscritos e 12 milhões de visualizações em pouco mais de 1 ano de trabalho. Atualmente, com 36 anos de idade, Fabrizio é palestrante e autor do livro “De Endividado a Bilionário”.

Escreve às terças e quintas-feiras

Fabrizio Gueratto

Coronavírus: qual é o melhor investimento durante a crise?

Existem três tipos de investidores. Veja quem é você

(Estadão Conteúdo/Fabio Motta)

Que investidor é você? Já se fez essa pergunta?

O questionamento que mais tenho recebido durante a pandemia causada pelo novo coronavírus (covid-19) é sobre a grande dica. Aquela que ninguém sabe! Mas, antes da crise, a busca pelo segredo que fará multiplicar o capital rapidamente também era o maior questionamento.

As pessoas querem descobrir os segredos da riqueza em vez de buscar conhecimento sobre os investimentos. A diferença é que, agora, o coronavírus escancarou o nível de educação financeira dos brasileiros.

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De um lado, temos aqueles que viviam com o lema “porque a vida é agora” e gastavam e se endividavam como se não houvesse amanhã – em todas as classes sociais. Já do outro, temos os “grandes gênios” que acabaram de começar a investir e vivem com um detector de metal tentando garimpar na terra da B3 a ação que pode ser a nova Magazine Luiza (MGLU3) para multiplicar o dinheiro por diversas vezes.

Pensando bem, ainda temos um terceiro grupo, que são atraídos pelos investimentos que remuneram até 10% ao mês. Sim, pessoas que já descobriram que Papai Noel não existe mas ainda caem nesse tipo de armadilha.

Por que uma guerra, revolução ou pandemia nos mostra a importância da reserva de emergência?

Vamos falar do primeiro grupo. Ninguém poderia imaginar que as pessoas precisariam ficar dentro de suas casas, em quarentena, que empresas seriam fechadas e que hospitais entrariam em colapso por causa de um ser vivo que nem sequer enxergamos a olho nu. Isso é o que chamamos de Cisne Branco, segundo o estatístico Nassim Nicholas Taleb. Ou seja, um evento catastrófico, mas que deveríamos estar preparados para um dia acontecer, como uma guerra.

Com isso, um Cisne Negro seria o fato de dois aviões colidirem contra prédios em Nova York, isso sim não poderia ser previsto. Portanto, não seria razoável que todos, sem exceção, juntassem a famosa reserva de emergência: entre 6 e 12 meses do nosso custo de vida em um investimento sem risco e que pudesse ser sacado a qualquer momento.

Parece óbvio, mas o ser humano tem o que chamamos de viés de confirmação. Isso significa que as coisas ruins nunca acontecerão conosco. Afinal, sempre demos um jeito e continuaremos a conseguir driblar os problemas financeiros.

Mas e agora que o mundo se prepara para a maior onda de desemprego da história da humanidade? Será que o brasileiro aprenderá que precisamos guardar um percentual do salário todos os meses? Entenderá a necessidade de viver sempre um degrau abaixo de quanto ganhamos? Acredito que sim, pois três coisas aceleram o processo de mudança da humanidade: guerra, revolução e pandemia. Infelizmente, precisamos do caos para nos olharmos no espelho e vermos que precisamos evoluir em todas as áreas, inclusive na financeira.

O perigo dos novos investidores na bolsa de valores

O segundo grupo talvez me preocupe mais do que o primeiro, pois eu já estive nele. Quando descobri a bolsa de valores, 15 anos atrás, acreditava que era um gênio. Estava no topo da cadeia da sociedade. Um investimento para poucos e eu agora fazia parte deste seleto grupo: a elite mundial de investidores em ações. Veja que visão embaçada.

Falava para todos os meus amigos que investir em ações era o melhor negócio, como se fosse alguém que entendesse muito. Cheguei a pagar em uma ação da Petrobrás (PETR4) cerca de R$ 50,00, afinal, Petrobrás é quase risco zero, é a grande empresa do Brasil.

O que vejo agora são os novos investidores, muitos com pouco dinheiro e comprando códigos de empresas e vez de investir em corporações. Com a baixa nos preços dos papéis, tudo ficou muito mais evidente. Alguns escolhem as empresas de companhias aéreas como Gol (GOLL4) ou Azul (AZUL4), já que caíram muito, não é mesmo? Outros se apaixonam por empresas como se descobrissem o primeiro amor. É o caso de OI (OIBR4) e IRB (IRBR3).

Só buscam por notícias positivas sobre aquela empresa e, principalmente, informações que confirmem as expectativas de ficar bilionários acertando as grandes apostas. Quando isso acontece contam para os amigos e divulgam nas redes sociais. Quando erram, guardam a informação para si. Emocionalmente é melhor. Nem sequer fazem uma pergunta muito simples: vejo a empresa existindo firme e forte daqui 20 anos?

Rentabilidade garantida de até 30% ao mês?

O terceiro grupo envolve os super gananciosos. Deveriam ser estudados pela NASA. Acreditam em investimentos que oferecem de forma “garantida” rentabilidades que variam entre 5% e 30% ao mês. Estes “investidores” são das mais diferentes idades, escolaridade e níveis econômicos. A ganância simplesmente cega.

Além disso, ainda convencem amigos e familiares a entrarem junto neste foguete. Acreditam que são mais espertos que os outros e descobriram algo que ninguém sabe. Só esquecem que a velocidade da subida é a mesma da queda. As pirâmides financeiras nada mais são do que a conexão de um ganancioso com um estelionatário.

As plataformas online de forex, esmeralda, ouro, criptoativos ou estoque de vento, são apenas as ferramentas para dar este match entre estas duas pontas. Junta a fome com a vontade de comer.

Como ter uma aposentadoria tranquila?

Por fim, vamos falar dos investidores que terão uma aposentadoria tranquila. Sabem curtir a vida e não se desesperam jamais. Estes entendem que a chamada “perda fixa”, como muitos apelidavam a Renda Fixa antes da crise, na verdade é importante na construção de patrimônio e essencial no rebalanceamento dos nossos investimentos. Ou seja, quando precisamos deslocar o dinheiro de um lugar para o outro, como da renda fixa para a variável ou na direção oposta.

Esse investidor entende que o investimento em ações, que nada mais é que nos tornarmos sócios de empresas, precisa visar o longo prazo e que investir todos os meses é muito mais importante do que tentar acertar a grande aposta. Ele também tem bem claro que o hedge, sendo estes aqueles investimentos que sobem quando outros descem, como ouro e dólar, são importantes e funcionam como uma proteção, como por exemplo um seguro de carro. É bom nunca usar, mas se for preciso ele estará lá para reduzir os danos. Ah, ele também não se deixa abalar por notícias negativas e nem fica eufórico com as otimistas, afinal, seu portfólio está muito bem diversificado.

Por fim, esse investidor entende que, a gente ganha dinheiro trabalhando e, principalmente, empreendendo e que os investimentos só potencializam os ganhos daquilo que conquistamos dessas duas formas. Por isso, ele gasta muito mais tempo e neurônios pensando em como aumentar suas remunerações mensais com novos negócios do que tentando encontrar a nova Magazine Luiza (MGLU3). E aí, que investidor é você na fila do pão?