O que este conteúdo fez por você?
- Uma coisa temos que admitir: o que ganhamos em facilidade com a modernização parece termos perdido em capacidade crítica
- A busca por um atalho na Bolsa de Valores pode te levar a um verdadeiro beco sem saída
Todas as segundas-feiras dedicamos um espaço no Instagram do Ações Garantem o Futuro para responder as principais dúvidas dos nossos mais de 200 mil seguidores. As perguntas são as mais variadas possíveis, mas infelizmente os pedidos de recomendação e dicas quentes do momento dominam a pauta.
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Pular etapas costuma ser o principal erro dos investidores iniciantes, especialmente entre os mais jovens. O imediatismo tão característico desta nova geração, e a busca por retornos rápidos, é uma armadilha extremamente prejudicial. Traçando um paralelo, isso é o que apelidamos de “Jeito Waze de Investir”, uma onda de aplicadores preocupada em encontrar o caminho mais rápido e que tem dificuldade em tomar suas próprias decisões.
Certamente a vida ficou mais fácil com o GPS e os aplicativos de navegação por satélite. Há não muito tempo, fazer uma viagem ou se deslocar por um local desconhecido exigia planejamento. Sair sem o Guia Quatro Rodas, então, nem pensar! Era consultando o mapa impresso que as pessoas se locomoviam e traçavam as suas rotas. Eram obrigadas a ler, pesquisar e se virar caso se perdessem no meio do caminho.
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O mesmo podemos dizer sobre a trajetória do investidor mais tradicional. Antes da democratização da informação e da criação dos portais de Relação com Investidores, cabia a cada acionista fazer a sua pesquisa de campo e coletar o material necessário para sua análise. Balanços eram lidos em jornais e dividendos recebidos mediante a entrega do cupom destacado das cautelas – como na foto que ilustra este texto.
De forma alguma pretendo insinuar que devemos voltar aos tempos antigos. Nem poderíamos, afinal, a modernização do mercado e o acesso à informação de qualidade para todos são pilares fundamentais na nossa missão. Mas uma coisa temos que admitir: o que ganhamos em facilidade parece termos perdido em capacidade crítica.
A matéria não é trivial e tem ganhado relevância nos debates entre os principais players e formadores de opinião. Tivemos a oportunidade de reunir representantes do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (IBRI), B3 e Escola de Negócios PUC-Rio em nosso canal do YouTube para discutirmos sobre a “Evolução dos Investidores Pessoa Física na Bolsa”.
A conclusão é unânime: empresas terão de flexibilizar e agilizar a sua comunicação. Profissionais de RI terão de aprender a lidar com o varejo, disponibilizando materiais mais didáticos e de fácil compreensão. A B3 e a CVM terão de atuar como nunca em prol da transparência. E nós, escolas e educadores financeiros, teremos de oferecer serviços e conteúdos que despertem a vontade de aprender.
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A busca por um atalho na Bolsa de Valores pode te levar a um verdadeiro beco sem saída. Em nossa experiência, a via mais rápida não te levará aos resultados mais consistentes no longo prazo. No artigo de hoje te proponho a seguinte provocação: que tal recalcular a sua rota?
O marco zero
Para começar, é fundamental que você compreenda que a Bolsa não passa de uma mera prateleira de oportunidades. O seu desafio como investidor será escolher, entre tantas opções, de qual empresa você se tornará sócio. Exatamente como em um negócio na vida real, o seu retorno poderá vir de duas fontes:
(i) da venda de sua participação por um preço superior ao que você pagou ou
(ii) do pedaço dos lucros que você tiver direito.
Esse pedaço se chama dividendo e quanto maior a sua posição, ou seja, quanto mais ações você tiver de uma mesma empresa, maior será a sua remuneração. Luiz Barsi aprendeu essa lição quando ainda trabalhava como auditor, na década de 1970. Ele percebeu que poderia replicar exatamente o que os empresários bem-sucedidos fizeram para ganhar dinheiro. Bastava paciência e disciplina. Paciência para aguardar que os lucros amadurecessem com o tempo e disciplina para aportar todos os meses e reinvestir os seus ganhos.
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Assim nasceu a teoria da carteira previdenciária, uma metodologia simples e replicável para aqueles que desejassem garantir uma renda sustentável para o futuro. Barsi se deu conta que poderia participar de projetos sem necessariamente abrir um negócio do zero. Nem todos nascem com o perfil empreendedor ou estão dispostos a correrem os riscos de abrir uma empresa. A Bolsa representa justamente essa alternativa democrática.
Tive a chance de vivenciar essa mesma virada de chave relativamente cedo, aos 14 anos de idade. Tudo começou com um pedido inocente de mesada, em uma fase que meu único interesse era ter o tênis da moda. Me recordo das conversas insistentes que eu mantinha com meu pai, tentando convencê-lo dessa possibilidade.
Uma noite ele se deu por vencido: “Ok, Louise, você terá uma mesada. Mas não sou eu que vou te pagar, será a Ultrapar. Te comprei ações da empresa e você vai receber a partir de agora o equivalente a mais ou menos R$ 300 por mês”. Eu não sabia ainda, mas ali a minha vida tinha mudado e por esse ensinamento serei eternamente grata.
Para encurtar a história, ai de quem não abastecesse no posto Ipiranga!
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Meu pai poderia simplesmente ter me entregado os R$ 300, afinal essa quantia não lhe faria falta. Mas ele teria falhado em me mostrar o valor do dinheiro e da sua origem. Logo descobri que meus dividendos, caso reinvestidos, poderiam se multiplicar graças a mágica dos juros compostos. Como supostamente disse Einstein, “juros compostos são a oitava maravilha do mundo, quem entende, ganha, quem não entende, paga”.
Considerando nossa premissa básica de 6% de retorno mínimo em dividendos por ano, muito provavelmente na época meu pai desembolsou aproximadamente R$ 60 mil para me proporcionar essa renda imediatamente. Você pode estar se perguntando se apenas um pai bilionário poderia fazer isso pelos seus filhos.
Aqui entra o fator primordial para que uma carteira previdenciária seja vitoriosa: tempo. Você pode não ter R$ 60 mil reais hoje, mas se Barsi tivesse aportado R$ 231,62 por 168 meses, à taxa conservadora de 0,48% a.m, ao final dos 14 anos eu teria exatamente o mesmo patrimônio na carteira. Isso sem considerar o retorno total ao acionista, ou seja, a combinação de dividendos + valorização do papel.
A partir deste raciocínio fica fácil entender como montamos as nossas metas em quantidade de ações, que será o tema do próximo artigo com exemplos e dados reais. Mesmo sem a parte matemática aprofundada, algumas lições podem ser tiradas desta história.
- a) Tudo começa pela definição do seu objetivo, ou seja, quanto você deseja receber em dividendos por ano para complementar a sua renda no futuro. Entenda, não há nada que você possa fazer para encurtar o tempo. Na fórmula do juro composto esta é a única variável exponencial.
- b) O exemplo se trata de uma mesada, foi assim que iniciei no mundo dos investimentos, mas podemos aplicar os mesmos fundamentos da carteira previdenciária para basicamente qualquer propósito. Seja para pagar a faculdade dos seus filhos ou para garantir a sua aposentadora.
- c) A estratégia é replicável e acessível para qualquer um, não apenas para quem já tem muito dinheiro. Essa é a verdadeira definição de investimento democrático.
Bolsa é para todos!
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