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Dividendos: tudo o que você queria saber em 10 perguntas

Veja onde descobrir quanto as empresas pagam e como montar estratégia de renda mensal

Dividendos: tudo o que você queria saber em 10 perguntas
Foto: Evanto Elements
  • Via de regra, o lucro das companhias é apurado em balanços trimestrais. Mas cada uma decide a periodicidade da distribuição dos dividendos: trimestral, semestral ou mesmo anual. E nada impede que ela mude a estratégia no ano seguinte. Bancos costumam pagar mensalmente
  • Os pagamentos de dividendos são divulgados por meio de um informe chamado fato relevante. Toda empresa de capital aberto com ações em Bolsa tem um site de relações com os investidores, e é nele que os fatos relevantes são publicados
  • Bancos, energia e saneamento são setores campeões no quesito dividendos. Eles são mais previsíveis que outros como o de siderurgia, por exemplo - que, por sofrer com as oscilações de preço do dólar e das commodities, apresenta resultados que variam muito a cada ciclo

A distribuição de dividendos é um dos aspectos mais considerados pelo investidor ao decidir comprar ações. Afinal, além de se tornar dono de um pedacinho da empresa, ele poderá receber uma parte de seus lucros. E a possibilidade de obter uma renda extra é um dos maiores atrativos desse tipo de investimento, especialmente nestes tempos de juros baixos e maior busca por diversificação.

Quem está atrás da regularidade de ganhos que era obtida na renda fixa, porém, poderá se decepcionar. O valor dos dividendos varia conforme os resultados obtidos pela empresa, e o pagamento pode ser suspenso se ela achar que isso comprometerá a saúde financeira da empresa.

Vale observar, também, que os dividendos são apenas um dos vários tipos de proventos que uma empresa pode pagar aos acionistas. Há também a distribuição de juros sobre capital próprio (sobre a qual incide Imposto de Renda, enquanto os dividendos são isentos) e as bonificações, que são pagamentos pontuais.

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Para esclarecer as dúvidas mais comuns sobre o assunto, o E-Investidor conversou com Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, Igor Warren, analista de renda variável da Warren Investimentos e Paulo Henrique Corrêa, economista-chefe da Valor Investimentos.

1 – Toda empresa é obrigada por lei a distribuir lucros sob forma de dividendos?

A Lei nº 6.404/76 (Lei das Sociedades Anônimas) diz que cabe ao estatuto social da companhia indicar o percentual dos lucros que será distribuído sob forma de dividendos. Se ele for omisso, a empresa pagará 50% do lucro líquido ajustado. Na prática, a maioria das empresas tem como praxe fixar os dividendos em 25% do lucro líquido ajustado, mas não não há nada que as impeça de pagar um percentual menor.

A cada assembleia, o conselho de administração delibera quanto do lucro apurado no balanço será reinvestido e quanto será distribuído aos cotistas. Se ele entender que a distribuição de dividendos causará problemas financeiros à companhia (por exemplo, se os recursos farão falta a um projeto de investimento importante), poderá suspender o pagamento.

Essa decisão será divulgada – aos acionistas e ao mercado – por meio de um fato relevante. “O acionista é sócio da companhia e merece uma explicação por parte de quem está tocando o negócio. Qualquer iniciativa que vá consumir grandes volumes de caixa, como projetos e mudanças de estratégia, deve ser comunicada com transparência”, diz Corrêa.

2 – O que o pagamento de dividendos revela sobre a empresa?

Colocando de forma bem simples, uma empresa que tem lucro pode empregar o dinheiro em novos investimentos, ou então revertê-lo para o acionista. A decisão vai privilegiar o caminho que ofereça o melhor retorno.

“Quando uma empresa paga bastante dividendos, provavelmente não tem nenhum outro projeto de investimento que possa gerar um retorno maior do que pagar o acionista”, diz Cavaca.

Empresas em fase de crescimento em geral precisam de mais capital para investir do que as mais maduras e consolidadas, que distribuem mais lucros. Assim, quando uma empresa que nunca pagou dividendos passa a fazê-lo, isso é sinal de que, no mínimo, ela considera que passará a ter uma receita mais previsível.

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“Essa empresa está crescendo, ganhando uma estrutura financeira mais robusta e entrando em uma vida financeira mais estável”, diz o analista da Warren.

3 – Mas para a empresa não seria melhor ficar com o dinheiro em caixa?

Na verdade, não. Só faz sentido reter o dinheiro no caixa se a empresa tiver um uso para ele. “Uma empresa consolidada que não tenha um projeto para investir não vai deixar o dinheiro parado, pois isso gera pouco valor agregado para ela. O que faz gerar retorno para o negócio é a atividade produtiva da empresa, não o dinheiro do caixa que está no CDI”, diz Corrêa.

Além disso, pagar dividendos é uma forma de atrair mais acionistas e também dar a eles uma prova de solidez. “A empresa mostra que o acionista será remunerado, independentemente de qual seja o valor de mercado da companhia”, diz Pasianotto.

4 – Com que frequência uma empresa paga dividendos?

Depende da empresa. Via de regra, o lucro das companhias é apurado em balanços trimestrais. Mas cada uma decide a periodicidade da distribuição dos dividendos: trimestral, semestral ou mesmo anual. E nada impede que ela mude a estratégia no ano seguinte.

Bancos são uma exceção: costumam pagar mensalmente, às vezes com um reforço semestral mais “parrudo”, ou mesmo com pagamentos de dividendos não eventuais em períodos específicos.

A data de divulgação dos dividendos não é a mesma data do efetivo pagamento, que pode ocorrer meses depois – é a empresa que fixa o prazo. E, vale repetir, mesmo uma empresa que distribui dividendos regularmente pode decidir não pagá-los, pelas razões explicadas acima.

5 – Escolher empresas que pagam mensalmente é sempre a melhor opção?

Não necessariamente. Nem sempre quem paga todo mês é quem paga melhor. O que o investidor deve analisar é o dividend yield da empresa – ou seja, o percentual de lucros que ela distribui ao longo do ano, frente ao valor da ação.

Por exemplo, se uma empresa distribuiu lucros de R$ 7 por ação nos últimos 12 meses, e o papel está cotado a R$ 100, então o dividend yield dela é de 7%.

6 – E o qual seria o dividend yield de uma empresa que paga “bem”?

Isso varia conforme o setor. “Um dividend yield considerado médio fica entre 5% e 7% e um alto, entre 9% e 10%”, diz Pasianotto.

7 – Onde posso descobrir quanto uma empresa paga de dividendos?

Os pagamentos de dividendos são divulgados por meio de um informe chamado fato relevante. Toda empresa de capital aberto com ações em Bolsa tem um site de relações com os investidores, e é nele que os fatos relevantes são publicados. Ali é possível saber quanto a empresa paga, quando paga e até o dividend yield.

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O site da B3 tem uma seção de empresas que lista todos os fatos relevantes divulgados, o que facilita a vida do investidor, já que ele pode consultar tudo em um único lugar.

Além disso, sites como Agenda de Dividendos e Meus Dividendos consolidam as informações obtidas nos sites de RI das companhias e montam calendários, que mostram quais são as empresas que pagam dividendos em cada mês.

8 – Quem são os melhores pagadores de dividendos?

Bancos, energia e saneamento são setores campeões no quesito dividendos. Eles são mais previsíveis que outros como o de siderurgia, por exemplo – que, por sofrer com as oscilações de preço do dólar e das commodities, apresenta resultados que variam muito a cada ciclo.

“Mas nada disso está escrito em pedra. Qualquer empresa pode ter um problema, até em um setor mais previsível. Um vendaval pode derrubar a estrutura de linhas de transmissão de uma empresa de energia, por exemplo”, explica Corrêa.

Além dos bancos, Pasianotto enumera algumas empresas que compõem o Ibovespa e que também são boas pagadoras.

“Alpargatas, Fleury, B3, Gerdau, Renner, Magazine Luiza, Localiza, Smiles e Weg têm lucro recorrente e optam por distribuí-lo de forma recorrente”, diz a economista da Reag. “Mas nem sempre as recorrentes são as que pagam melhor.”

9 – Dá para montar uma estratégia de renda mensal e viver de dividendos?

Muita calma nessa hora. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que o valor dos dividendos é flutuante, decidido em cada assembleia, e pode não ser sempre tão atrativo. Além disso, a distribuição dos lucros nem sempre é feita por meio de dividendos. Ou seja, não dá para esperar receber uma renda estável de uma empresa.

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Dito isso, é possível, sim, criar uma estratégia que permita receber dividendos todo mês. Para isso, tendo em mãos um desses calendários de pagamentos de dividendos, o investidor pode montar uma carteira de ações com empresas que paguem em meses diferentes, e assim organizar um fluxo de recebimentos.

“Escolha empresas que usualmente pagam, mas lembre-se de que mesmo essas podem não pagar. Novembro e dezembro são meses piores para receber, pois as empresas estão fechando o ano e preferem reter os lucros”, aconselha Pasianotto.

10 – O valor dos dividendos é tudo o que importa?

Definitivamente, não. Ainda que o pagamento mensal seja um chamariz e tanto para o investidor, há outras questões mais importantes a se considerar antes de escolher uma empresa para chamar de sua.

“Dividendos são um atrativo a mais, não o principal. O principal é o preço da empresa, o valor patrimonial, que não é tão fácil de aferir”, afirma Pasianotto. “É preciso fazer uma análise detalhada dela: as vantagens competitivas, como seu preço está oscilando no mercado, questões de governança corporativa, o caminho que os executivos estão trilhando.”

Corrêa diz que o investidor precisa olhar para a frente e ponderar quanto a empresa poderá crescer, inclusive para poder continuar pagando os mesmos proventos.

“Ver só o valor dos dividendos é uma análise rasa. Tem que olhar os fundamentos e o potencial. Não necessariamente a empresa que paga bem é promissora. A Souza Cruz, por exemplo, sempre foi excelente pagadora. Mas será que o business do tabaco terá um crescimento significativo nos próximos 10 anos?”, pondera o economista.

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