- Após os alagamentos no norte de São Paulo, a garrafa de água estava sendo vendida por até R$ 93 reais, em meio à escassez de recursos
- A busca por lucro independente da circunstância não pode existir em uma economia saudável. Em contextos de calamidade, é preciso ter empatia
- Caridade e trabalho voluntário são boas estratégias para aprender a se planejar melhor financeiramente, e além disso, fazer a diferença para o próximo
É frequente na educação financeira explicar a jovens e adolescentes o modelo da lei da oferta e da demanda como um mecanismo natural, de livre mercado, na determinação de preços. O que fica muito difícil explicar é uma garrafinha de água custar R$ 93 em meio a uma das maiores tragédias provocadas pelas chuvas no litoral norte de São Paulo, quando pessoas morreram soterradas e outras passam sede e fome ou adoeceram e ficaram desabrigadas.
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A lei da oferta e da procura não é prescrita por autoridade, muito menos um ato normativo de processo legislativo. Funciona do mesmo modo que a lei da gravidade, como um fenômeno que espontaneamente ocorre na natureza econômica. O entendimento é simples: se tem mais gente querendo comprar e menos produto ofertado, os preços sobem. Ao contrário, se há mais produtos oferecidos à venda e menos interesse de compra, então os preços caem. O raciocínio vale para explicar o fenômeno da inflação, a paridade das moedas, o preço dos ativos financeiros e o mecanismo de leilões de mercadorias.
Apesar de natural e saudável regulação do livre mercado, a lei da oferta e da procura causa ruído moral quando nos esbarramos em seu efeito diante de uma tragédia humana, simbolicamente personificada nos R$ 93 cobrados por uma garrafa de água. Apesar de haver menos garrafas e mais pessoas precisando, qual é o limite ético de seu uso? Neste caso a disputa entre oferta e procura esbarra filosoficamente na mesma disputa entre o “eu” (ego) e “o outro” (alter), entre egoísmo e altruísmo.
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Deveria o livre mercado, assim como o livre arbítrio humano, ter em si uma autorregulagem do olhar pelo próximo, da empatia, do coletivo, do olhar humanizado?
Quando se oferece uma garrafa de R$ 93 ou empréstimo a taxas de juros iguais ou superiores a 10% ao mês a uma população vulnerável em recursos financeiros e em conhecimento, em situação de carência social, sanitária, de saúde e/ou de educação, o ser humano mostra sua faceta mais cruel da falta de cuidado com a própria espécie.
Não estamos falando aqui sobre sistemas políticos e organizacionais, sobre mais ou menos intervenção do Estado ou sobre a disputa entre modelos econômicos capitalistas ou socialistas. O ponto, sim, é a própria consciência individual e, quiçá, a preocupação na transmissão cultural dentro das famílias, das comunidades em que vivemos, das empresas em que trabalhamos, do país a que pertencemos sob o olhar espontâneo da lei, também natural, do amar ao próximo como a si mesmo.
Por isso, incentivo tanto, como educadora financeira e psicóloga, a prática da doação dentro da organização das finanças pessoais e do orçamento mensal. Está provado cientificamente que pessoas que praticam a doação regularmente, tanto de tempo quanto de dinheiro, aumentam sua capacidade e equilíbrio emocional para lidar com suas próprias finanças e se tornam poupadores e investidores mais sábios porque, ao cuidar do outro hoje, conseguem cuidar melhor do seu “eu do futuro”.
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Há um grande segredo de sucesso e felicidade quando se consegue perceber e exercitar atitudes que podem parecer paradoxais como essas abaixo:
- Oferecer ajuda incondicional ao próximo trará também mais retornos para si;
- Ao adiar satisfações imediatistas, pode-se conseguir resultados muito maiores no longo prazo;
- Defender a igualdade social trará um lugar melhor para você mesmo na convivência social;
- Ao respeitar e aceitar a diversidade, você aumentará a sua própria inclusão e sensação de pertencimento;
- Ao cuidar do meio ambiente e das questões climáticas, contribuirá para evitar que você mesmo esteja envolvido em catástrofes ambientais;
- E, principalmente, lucro, dinheiro, atitudes humanizadas e coletivas podem, sim, andar juntos em equilíbrio em uma sociedade mais igualitária e próspera para todos.