- Se o dinheiro ou a sensação de incapacidade foram as forças motrizes para a primeira escolha imediata e indesejada, a pessoa seguirá mantendo o padrão de infelicidade
- O mercado de trabalho é muito dinâmico e está cada vez mais veloz. Profissões que existem hoje podem desaparecer amanhã e novas podem surgir. Cursos de graduação ou especialização não são definidores de um ofício, como eram no passado.
- Dinheiro, reconhecimento social ou qualidade de vida para si mesmo são objetivos genuínos e necessários, mas não devem ser a força principal de motivação nas escolhas profissionais.
O dilema entre trabalhar em algo que se deseja fazer, ou aceitar o que aparece, é complexo e pode gerar grande ansiedade e estresse. É mencionado, com bastante frequência, em atendimentos psicológicos de orientação profissional e gestão de carreira, como fonte de frustração.
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Uma pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), realizada antes da pandemia, mostra que quase metade dos jovens trabalhava fora da sua área de formação. Em outra pesquisa, feita pelo aplicativo Monkey Survey, 64% dos brasileiros entrevistados disseram que gostariam de fazer algo diferente em suas carreiras.
Já no início da vida profissional, a depender do contexto familiar, das questões financeiras circunstanciais, do conhecimento sobre o mercado de trabalho e inclusive do seu próprio autoconhecimento, não é raro o jovem renunciar as suas motivações para acomodar, de forma mais rápida e possível, necessidades imediatas.
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Entre os motivos mais citados para abdicar de suas preferências, estão os medos de não ser capaz de passar no vestibular, de não ser suficientemente bom para determinadas atividades; a necessidade imediata de dinheiro ou a falta dele para bancar uma escolha; a percepção de baixa remuneração ou poucas oportunidades de trabalho em determinados nichos de atuação desejados; não enxergar possibilidade de equilíbrio entre vida profissional e pessoal nas carreiras almejadas.
E o comportamento de fuga, que começa no início da carreira perante a escolha do curso de graduação, repete-se sequencialmente nas próximas fases de vida. Se o dinheiro ou a sensação de incapacidade foram as forças motrizes para a primeira escolha imediata e indesejada, a pessoa seguirá mantendo o padrão de infelicidade ao longo das próximas escolhas de carreira, quer seja por aversão à perda do status social e financeiro alcançados ou por não ter adquirido reservas suficientes para uma mudança.
Essa sequência iniciada na juventude perpetua-se pela fase adulta até o momento da aposentadoria. Frases como sou “jovem demais”, ou “velho demais”, “não tenho dinheiro, capacidade ou conhecimentos suficientes” e “não há oportunidades disponíveis” viram narrativas para explicar para si e para outros uma trajetória profissional infeliz.
Como boa notícia trago aqui algumas reflexões que facilitam mudar esse cenário e sair do caminho da frustração:
- O mercado de trabalho é muito dinâmico e está cada vez mais veloz. Profissões que existem hoje podem desaparecer amanhã e novas podem surgir. Cursos de graduação ou especialização não são definidores de um ofício, como eram no passado. Devem ser vistos como bases de conhecimento a serem aplicadas em diversas oportunidades e de diferentes maneiras. Novas habilidades também podem ser adquiridas ao longo da vida e cada indivíduo é um ser humano dotado de múltiplos potenciais a serem explorados
- As melhores escolhas de trabalho estão na união do uso de seus talentos com seus interesses e motivações. Para isso, você precisa mergulhar em uma jornada de autoconhecimento para ter clareza de seus potenciais e no que realmente você gosta de trabalhar
- O segredo para resolver o dilema entre aquilo que se quer fazer e o que existe no mercado está na observação e no senso de contribuição. Na ampliação do olhar de si próprio para o foco na necessidade do outro. A partir desse movimento é que surgem ideias, inovação, propostas para as necessidades existentes na sociedade. Fazendo isso você será capaz de criar soluções, produtos, serviços, atividades e até mesmo gerar novas profissões a partir de temas que despertam seu interesse. As perguntas a se fazer são: Quem eu gostaria de ajudar? O que eu gostaria de resolver ou criar? Quem são ou poderiam ser meus clientes? O que as pessoas estão precisando?
- Dinheiro, reconhecimento social ou qualidade de vida para si mesmo são objetivos genuínos e necessários, mas não devem ser a força principal de motivação nas escolhas profissionais. Quando o senso de propósito e contribuição vem antes, os demais são consequência. Quando a ordem de prioridade se inverte, muitas vezes, esses objetivos fracassam ou não são percebidos como suficientes para a satisfação pessoal
- Se uma escolha profissional não é possível imediatamente por quaisquer circunstâncias, ela pode ser planejada no tempo. Pode ser construída e executada degrau a degrau. Nesse momento entram as habilidades da paciência, da persistência e da visão do longo prazo. O importante é saber a direção, ter clareza de onde quer chegar e dedicar-se a isso.
Se você está se vendo amarrado ao mecanismo de fuga de aspirações por medo; se está preso à cilada das decisões imediatas e de curto prazo; se dinheiro, conhecimento, idade ou mesmo vagas indisponíveis apresentaram-se até agora como barreiras impeditivas para uma vida profissional de realização, cito como inspiração o exemplo de Cora Coralina, renomada poetiza brasileira, que publicou o primeiro livro somente aos 75 anos e deixou a seguinte frase como seu lema de vida: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim, terás o que colher”.