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Colunista

Pai mentor ou ‘paitrocinador’? Controle é medo disfarçado de amor

Do modelo autoritário à paternidade consciente: o seu filho precisa de um mentor e não de um comandante

Neste dia dos pais, aprenda a desenhar suas próprias rotas com autonomia, diversidade e propósito no relacionamento com seu filho. (Foto: Adobe Stock)
Neste dia dos pais, aprenda a desenhar suas próprias rotas com autonomia, diversidade e propósito no relacionamento com seu filho. (Foto: Adobe Stock)

É difícil admitir, mas, muitas vezes, o que chamamos de preocupação ou cuidado com os filhos é, na verdade, medo. Medo de que sofram, de que escolham diferente, de que se percam de nós. E, com medo, tentamos controlar. Só que controle não é amor — é insegurança disfarçada de proteção. Neste Dia dos Pais, aprenda a desenvolver uma paternidade consciente.

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Em muitos casos, o controle se disfarça de cuidado. O pai que concentra todas as decisões, que provê tudo sem abrir espaço para trocas, que antecipa soluções antes mesmo de ouvir o problema, muitas vezes acredita que está protegendo — quando, na verdade, está sufocando o amadurecimento.

Recentemente, ouvi o relato de um jovem que, ao tentar escolher sua área de atuação, foi desencorajado pelo pai: “Isso não dá dinheiro, não perca tempo”. Sem perceber, o pai invalidou a autonomia do filho e reforçou a ideia de que só há um caminho possível: o seu próprio. O filho, por sua vez, passou a duvidar das próprias escolhas e adiou sua entrada no mercado de trabalho — não por preguiça, mas por medo de errar.

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Quando o amor se transforma em direção única e o provedor assume o papel de comandante, o dinheiro deixa de ser ferramenta de liberdade e passa a ser instrumento de dependência.

Num mundo que se reinventa a cada geração, insistir em fórmulas antigas é a forma mais segura de perder o vínculo com quem mais amamos. O zeitgeist (conjunto de ideias, crenças, comportamentos e influências que caracterizam o espírito de uma determinada época em particular) mudou.

Estamos vivendo a era da horizontalidade — nas empresas, nas famílias, nas relações. E quem ainda acredita que liderar é mandar, ou que ser pai é impor, corre o risco de ser obedecido por fora e ignorado por dentro.

A nova geração já entendeu que não basta herdar patrimônio, é preciso herdar liberdade

Eles não querem repetir padrões inquestionáveis, mas desenhar suas próprias rotas com autonomia, diversidade e propósito. E nós, pais e líderes, temos uma escolha: tentar controlar o caminho ou nos tornarmos guias confiáveis ao lado deles.

Mais mentor, menos herói: o pai que o mundo de hoje precisa

A ideia de paternidade como autoridade máxima — um “pai herói” que resolve, define e sabe tudo está com os dias contados. Em seu lugar, emerge o “pai mentor”: aquele que ouve, provoca reflexão, compartilha falhas e sucessos, e confia no potencial do outro para aprender com a vida. É o pai que sabe que amar é também preparar para a incerteza.

Nas organizações, as estruturas hierárquicas estão cedendo espaço a modelos mais colaborativos e circulares. Líderes que antes comandavam com distância e rigidez agora precisam desenvolver escuta, empatia e vulnerabilidade. Isso vale para a paternidade. O tempo do “porque eu estou mandando” já não convence ninguém — apenas afasta.

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Mentorar é confiar que o outro pode florescer do seu próprio jeito. É sair da posição de centro e tornar-se base sólida. Isso vale tanto na sucessão de uma empresa quanto no quarto ao lado, onde um filho tenta entender quem é. Vale também para ensinar sobre riscos e investimentos, como escrevi em outro momento: antes de dar dinheiro, é preciso ensinar a lidar com o tempo, com a espera, com os limites e com a frustração.

Não estamos aqui para moldar nossos filhos à nossa imagem, mas para prepará-los para um mundo que será mais deles do que nosso. Ser mentor é mais difícil que ser herói. Exige renúncia do ego, abertura à escuta e humildade para aceitar que eles podem — e devem — ser diferentes de nós.

Como ser um pai mentor:

  • Pergunte antes de afirmar: troque o “vou te dizer o que fazer” por “o que você pensa em fazer?”;
  • Mostre seus erros: vulnerabilidade educa;
  • Crie rituais de presença: caminhadas, conversas, jantares sem celular;
  • Dê espaço para escolhas – e para os erros também;
  • Valorize as diferenças: seu filho não é sua extensão — é quem escreve a própria história.

Neste Dia dos Pais, celebre não o pai que tudo sabe, mas o que aprende junto. O que guia sem prender. O que investe no caráter, não apenas na conta bancária. Porque amar é ensinar no tempo do filho — um dos atos mais profundos que o amor pode realizar.

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