A era da inteligência artificial trouxe velocidade e cansaço. Agora, enfrentamos uma fadiga dupla, pela pressa e pela padronização, que ameaça a autenticidade de pessoas, empresas e da própria Geração Z.
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A era da inteligência artificial trouxe velocidade e cansaço. Agora, enfrentamos uma fadiga dupla, pela pressa e pela padronização, que ameaça a autenticidade de pessoas, empresas e da própria Geração Z.
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A verdadeira produtividade nasce do equilíbrio entre entrega, energia e significado. Quando uma dessas dimensões se rompe, o sistema inteiro se desorganiza. Entregar muito sem energia é esgotamento; trabalhar duro sem sentido é alienação; buscar resultado a qualquer custo é apenas aceleração sem direção. Agora, com a inteligência artificial, vivemos a era do doping cognitivo: corremos mais, entregamos mais e, paradoxalmente, nos sentimos mais vazios. A eficiência se tornou vício e a pressa, o novo padrão de sucesso.
A IA chegou com a promessa de libertar o humano da rotina e abrir espaço para a criatividade. Mas a realidade tem sido outra. As empresas passaram a esperar resultados dobrados, as pessoas se sentem permanentemente atrasadas e a comparação com a máquina se tornou um novo tipo de pressão. É o profissional dopado pela eficiência: desperto, hiperconectado e exausto. O relógio não marca mais horas, marca urgências.
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Como engenheira, entendo a busca pela eficiência. Sistemas mais rápidos, processos otimizados, entregas previsíveis, tudo isso faz sentido na teoria. Mas como psicóloga, observo o outro lado da equação: um número crescente de profissionais que se cobram como algoritmos e se esgotam como humanos. Ser produtivo não é acelerar o corpo; é alinhar a mente com o propósito e o resultado. Quando a pressa substitui o propósito, o desempenho vira sofrimento.
Segundo levantamento da Google/Access Partnership (2025), 49% dos brasileiros afirmam que a IA melhora seu desempenho profissional, mas 44% relatam aumento de ansiedade por não conseguir acompanhar o ritmo das novas demandas. A IA acelera, mas também pressiona: o ganho de eficiência veio junto com o medo de ficar para trás. A tecnologia que prometia libertar começou a aprisionar.
Só que há uma segunda fadiga, mais insidiosa que a primeira: a da pasteurização. A IA não está apenas nos deixando mais rápidos, está nos tornando mais iguais. Vivemos uma epidemia de conteúdo neutro, de textos corretos e sem voz, de ideias que soam polidas e previsíveis. O mesmo tom, a mesma estrutura, as mesmas frases. A tecnologia, ao democratizar a criação, também a padronizou. Perdemos o erro, o traço, a assinatura, aquilo que diferencia o humano da ferramenta.
Pesquisadores já chamam esse fenômeno de “fadiga de inteligência artificial”, segundo estudo divulgado pela Contee (2025), que aponta queda de engajamento e sobrecarga cognitiva nas equipes expostas a tarefas automatizadas e repetitivas. A produtividade sobe, mas a vitalidade despenca. É o paradoxo do século: quanto mais otimizamos, menos vivos parecemos.
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Vivemos, assim, uma dupla exaustão: a do corpo que corre atrás da eficiência e a da mente que se perde na repetição. A inteligência artificial prometeu tempo e criatividade, mas o que se espalhou foi um cansaço de outro tipo: o de viver num mundo onde tudo é rápido, mas quase nada é singular. É a fadiga de quem entrega muito, mas não se reconhece no que entrega. A eficiência virou performance; a performance, personagem.
Essa homogeneização não está acontecendo apenas no discurso, está se infiltrando também na forma como jovens e empresas tomam decisões. Na pressa de acompanhar o ritmo da tecnologia, a Geração Z, que já vive sob pressão financeira e emocional, passa a buscar atalhos para compensar o medo de ficar para trás: cursos relâmpago, fórmulas de enriquecimento, promessas de sucesso rápido. É o mesmo “doping” aplicado à vida financeira e profissional.
Na falta de tempo para refletir, o consumo substitui o aprendizado; o imediatismo toma o lugar do planejamento e da estratégia. E o risco é que, ao perder a autenticidade, percamos também a capacidade de discernir valor, daquilo que vale de fato, do que é só barulho. Educação financeira e planejamento de carreira, nesse contexto, é mais do que números ou projetos: é o exercício de recuperar consciência e autoria sobre as próprias escolhas.
Como Conselheira de Administração, mentora e integrante de Comitê de Pessoas, vejo que a virada não está em usar mais tecnologia, mas em usar o melhor do humano: razão, emoção e propósito trabalhando juntos. O diferencial competitivo deixou de ser a velocidade das máquinas e passou a ser a qualidade da consciência.
A empresa vencedora será aquela que usa a IA como ferramenta e a inteligência humana como direção. Mas para isso é necessário saúde mental e liderança preparada para liderar pessoas e máquinas. E isso exige diretrizes práticas, não discursos.
Em toda análise de custo, produtividade e inovação, inclua a pergunta: “Qual é o impacto humano dessa decisão?” Não é romantismo; é estratégia de sustentabilidade. Pessoas sobrecarregadas e desmotivadas não criam, não inovam e não permanecem. Sem energia humana, não há vantagem competitiva que dure.
Propósito não é marketing, é critério de decisão. E quando falo em propósito, não me refiro a frases na parede, mas à capacidade de cada colaborador, do estagiário ao C-levels de entender por que e para que está fazendo o que faz. Nos atendimentos clínicos e nos trabalhos corporativos que conduzo, vejo de perto como a desmotivação nasce justamente dessa desconexão: pessoas que executam tarefas sem compreender a finalidade, e equipes que não enxergam o elo entre suas entregas e a estratégia da empresa. Não é raro encontrar empresas sem uma estratégia clara definida ou apenas restrita à cabeça da alta liderança. Considero o propósito e a conexão consciente como o novo ROI emocional de uma organização saudável.
Empresas pasteurizadas falam igual, atraem igual, perdem igual. As vencedoras terão voz própria, cultura viva e coragem de ser diferentes. A IA pode replicar dados, mas não pode replicar convicção. Cultura autêntica é ativo inimitável.
A verdadeira inovação nasce do encontro entre formas diferentes de pensar. A IA resolve problemas conhecidos; o humano plural enxerga os que ainda não existem.
Empresas que medem apenas produtividade enxergam o retrovisor. As que aprendem a medir energia criativa e segurança psicológica passam a enxergar o futuro.
Colaboradores emocional e financeiramente equilibrados tomam decisões melhores. Educação financeira e emocional são ferramentas de prosperidade, não de paternalismo. A empresa que investe em clareza e autonomia cria um ecossistema sustentável. Pessoas preparadas que sabem lidar com suas próprias finanças, saberão zelar também pelo orçamento e fluxo de caixa da companhia.
Líderes que inspiram a pensar, e não a obedecer, transformam times em diferenciais que a IA jamais substituirá.
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A tecnologia acelera o que existe. Se o que existe for vazio, ela amplifica o vazio. Mas se houver propósito, cultura e voz, a IA será amplificadora de potência humana. A virada não é digital. Ela é existencial. Ao contrário do que se diz como tendência hoje, acredito que a vantagem não de quem tem mais dados, mas de quem tem mais alma.
A empresa vencedora do futuro será aquela com inteligência suficiente para saber usar a inteligência artificial para multiplicar resultados e a inteligência humana para multiplicar sentido.
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