Mente sã em bolso são

Ana Paula Hornos é psicóloga clínica, autora e comunicadora. Como especialista no despertar do potencial humano, do individual ao coletivo, dedica-se a ajudar pessoas na busca do bem-estar integral, unindo propósito, carreira, saúde financeira e atitudes conscientes para melhores resultados. Professora, mestre em psicologia e engenheira pela USP, com MBA em finanças pelo INSPER e especializações pela FGV e IMD, possui mais de 20 anos de experiência como executiva e empresária. Foi diretora de grandes empresas nacionais como o Grupo Pão de Açúcar e membro de Conselho de Administração da Essencis Ambiental. No E-Investidor, fala sobre finanças, comportamento, vida profissional e atitude ESG.

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Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias.

Ana Paula Hornos

Jovens estão comprando mais presentes; há um lado oculto da generosidade?

Em meio à beleza desse gesto, que armadilhas podem estar escondidas para quem presenteia?

O ato de presentear cresce entre os jovens brasileiros. Imagem: Adobe Stock
  • Segundo o estudo BrandZ 2024 da consultoria Kantar, divulgado neste mês de março, cresce o comportamento de presentear no Brasil. A pesquisa apurou que 68% dos brasileiros estão comprando presentes regularmente, em comparação com 50% no início de 2019;
  • Há momentos em que o desejo de dar presentes pode tomar um rumo disfuncional, trazendo mais problemas do que alegria. Do ponto de vista psicológico, a compulsão por presentear pode ser disparada quando se espera algo em troca, na tentativa de barganhar afeto, aceitação, admiração ou poder;
  • Ao presentear, é fundamental manter a consciência sobre as escolhas financeiras. Identificar a compulsão por presentear e manter a saúde financeira requer autoconhecimento e estratégias práticas.

Em um mundo onde as expressões de amor e gratidão são cada vez mais digitais, o ato de presentear ressurge como símbolo de conexão verdadeira.

Segundo o estudo BrandZ 2024 da consultoria Kantar, divulgado neste mês de março, cresce o comportamento de presentear no Brasil. A pesquisa apurou que 68% dos brasileiros estão comprando presentes regularmente, em comparação com 50% no início de 2019. Entre os presentes preferidos estão as fragrâncias como primeira escolha, seguidas por cremes e loções e, depois, chocolates.

De fato, observo em meus atendimentos clínicos, o aumento dos gastos mensais, entre jovens, com a categoria presentes.

A Páscoa, com suas tradições de renovação e celebração da vida, traz consigo o costume alegre de presentear. Os ovos de Páscoa, símbolos de vida nova, tornaram-se presentes quase obrigatórios, acompanhados de outras delícias de chocolate e mimos que expressam carinho.

Mas, em meio à beleza desse gesto, que armadilhas podem estar escondidas para quem presenteia?

Há momentos em que o desejo de dar presentes pode tomar um rumo disfuncional, trazendo mais problemas do que alegria. Do ponto de vista psicológico, a compulsão por presentear pode ser disparada quando se espera algo em troca, na tentativa de barganhar afeto, aceitação, admiração ou poder.

A busca por comprar o presente perfeito, a manipulação que pode estar envolvida no ato, o estresse por obrigações sociais e o medo de não atender às expectativas podem transformar o prazer de presentear em uma fonte de ansiedade e de problemas financeiros graves.

De acordo com uma pesquisa conduzida no final de 2023 pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com a Offerwise quase 10% dos consumidores entrevistados pretendiam deixar de pagar alguma conta para presentear no Natal e Ano Novo, 33% dos presenteadores possuíam contas em atraso, e 69% estavam com o nome sujo.

Este cenário é um alerta crucial de que, ao presentear, é fundamental manter a consciência sobre as escolhas financeiras. Identificar a compulsão por presentear e manter a saúde financeira requer autoconhecimento e estratégias práticas. Aqui estão alguns conselhos úteis:

Para identificar a compulsão por presentear

Aumente seu nível de auto-observação e reflita sobre suas reais motivações. Pergunte-se por que você sente a necessidade de presentear. É por amor, culpa, busca de aprovação ou medo de ser julgado? Observe se você compra presentes impulsivamente, sem considerar sua situação financeira, ou se sente ansioso quando não compra presentes.

Esteja atento a padrões de excesso de gastos em presentes, especialmente em datas comemorativas, quando a pressão social para presentear aumenta. Peça opiniões honestas de amigos ou familiares sobre seu comportamento de presentear. Eles percebem seu comportamento como compulsivo ou excessivo?

Para manter a saúde financeira

Estabeleça um orçamento específico para presentes dentro de seu planejamento financeiro geral. Isso ajuda a evitar gastos impulsivos que podem comprometer suas finanças. Planeje seus presentes com antecedência, incluindo para quem vai comprar, o que vai comprar e quanto pretende gastar.

Faça revisões regulares de sua situação financeira para entender como os gastos com presentes estão impactando seu orçamento. Ajuste conforme necessário para evitar dívidas.

Considere alternativas mais econômicas ou significativas, como presentes feitos por você, experiências compartilhadas ou até mesmo cartas escritas à mão. Muitas vezes, esses presentes carregam um valor emocional maior.

Esteja ciente das pressões sociais e comerciais para presentear, especialmente durante datas comemorativas. Lembre-se de que o valor de um presente não se mede pelo seu preço, mas pelo seu significado.

Se a compulsão por presentear estiver afetando significativamente sua vida, considere buscar ajuda de um profissional de saúde mental. Terapia ou aconselhamento pode oferecer suporte para lidar com as questões subjacentes ao comportamento compulsivo.

Presentear é uma linguagem universal que consegue tocar o coração de outra pessoa de uma maneira profundamente humana. Pode representar um elo profundo de amor, gratidão e reconhecimento, fortalecer laços e nutrir relações. No entanto é vital reconhecer quando a generosidade ou a disfuncionalidade bem-intencionada começa a comprometer a própria saúde financeira.

Implementar essas estratégias pode ajudar não apenas a identificar e gerenciar a compulsão por presentear, mas também a promover uma saúde financeira sustentável, permitindo que o ato de presentear continue sendo uma expressão de afeto, não uma fonte de estresse financeiro.