Mente sã em bolso são

Ana Paula Hornos é psicóloga clínica, autora e comunicadora. Como especialista no despertar do potencial humano, do individual ao coletivo, dedica-se a ajudar pessoas na busca do bem-estar integral, unindo propósito, carreira, saúde financeira e atitudes conscientes para melhores resultados. Professora, mestre em psicologia e engenheira pela USP, com MBA em finanças pelo INSPER e especializações pela FGV e IMD, possui mais de 20 anos de experiência como executiva e empresária. Foi diretora de grandes empresas nacionais como o Grupo Pão de Açúcar e membro de Conselho de Administração da Essencis Ambiental. No E-Investidor, fala sobre finanças, comportamento, vida profissional e atitude ESG.

@anapaulahornos

Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias.

Ana Paula Hornos

Pontes em tempos divididos: lições para a prosperidade econômica

Como psicóloga especializada em comportamentos financeiros, afirmo: dívidas e ruminação mental estão intimamente ligadas

Foto: Envato Elements
  • Uma alimenta a outra, em um ciclo destrutivo da saúde financeira e mental.
  • Existe uma conexão significativa, às vezes não tão óbvia, entre o perdão, solidariedade, empatia e o sucesso financeiro
  • Que lições práticas e benefícios você pode tirar do exercício do perdão, solidariedade e empatia para sua saúde financeira?

Há algo pior do que ter dívidas, em termos de saúde financeira e integral: a ruminação mental. Como psicóloga que atua em comportamentos financeiros e profissionais, posso afirmar o seguinte: dívidas e ruminação mental andam de mãos dadas! Uma alimenta a outra, em um ciclo destrutivo da saúde financeira e mental.

Durante uma viagem que combinou trabalho e lazer em Ruanda e Islândia, pude vivenciar dois momentos profundamente marcantes. Entre uma visita ao Memorial do Genocídio em Kigali e o evento de uma erupção vulcânica na península de Reykjanes, observei a forte prática do perdão e da solidariedade, por duas culturas completamente distintas em contextos totalmente diferentes; mas ambas, com os mesmos objetivos de reconstrução do equilíbrio financeiro e da saúde integral da população. Explico, contextualizando uma a uma:

A Reconstrução econômica de ruanda passa pelo perdão

Estive em Ruanda e fiquei impressionada com sua limpeza, esforço ambiental e a cordialidade de seu povo. Mas o que mais me marcou foram os depoimentos no Memorial do Genocídio, onde sobreviventes compartilharam histórias de dor e perdão. O genocídio em Ruanda em 1994, um dos maiores da humanidade, apesar de parecer motivado por diferenças étnicas entre Hutus e Tutsis, foi na verdade exacerbado por políticas coloniais e desinformação. Esse episódio ocorrido há 30 anos, reflete problemas de polarização e fake news ainda atuais e revela também uma história de superação e perdão.

Uma mulher descreveu a perda trágica de sua família, e, incrivelmente, ao seu lado, um homem confessou ser o responsável por tal dor. Eles, agora, vivem juntos na mesma aldeia, demonstrando a força do perdão que os uniu.

Presenciei mais de dez relatos alternados entre vítimas e algozes, todos libertos dos traumas passados pelo poder do perdão. Esse testemunho de reconciliação e recuperação deixou claro que, mesmo após o inimaginável, é possível curar e reconstruir vidas. Que para o país se reerguer e cuidar das necessidades financeiras de seu povo, era necessário restaurar relacionamentos e curar a dor física e emocional das pessoas.

O Vulcão na Islândia e a reconstrução econômica pela solidariedade

Nessa viagem que me levou do calor africano para o gélido inverno islandês, fui aquecida pela força transformadora do perdão e, em seguida, pela potência da solidariedade. Na Islândia, onde o aquecimento das casas é feito pela água geotérmica devido à sua localização vulcânica, a erupção ocorrida no dia 8 de fevereiro danificou os dutos que distribuem essa água quente, deixando milhares sem aquecimento e energia. No entanto, presenciei a comunidade unindo-se para reconstruir o que foi perdido, um verdadeiro testemunho do estímulo à solidariedade, por parte do governo, como caminho para a reconstrução.

Segue trecho das palavras literais traduzidas do comunicado do governo à população: “Na noite de 9 de fevereiro, um tubo danificado pela erupção no dia anterior rompeu devido ao fluxo de lava e ao aumento do bombeamento de água, estando agora inoperante sob lava espessa, impedindo reparos. Isso interrompe a chegada de água quente, exigindo a instalação de novas tubulações, processo de duração incerta que afetará a vida em Reykjanes nos próximos dias, testando a coesão comunitária.

Haverá desconforto, mas é um momento para união familiar e moderação no uso de eletricidade. Os próximos dias serão cruciais. A Defesa Civil também incentiva os moradores a serem atenciosos com seus vizinhos, pois nem todos podem ter conseguido se livrar do aquecedor ou ter visto ou compreendido estas instruções. Além disso, as pessoas ausentes podem necessitar de ajuda para cuidar dos seus bens e as pessoas que pertencem a grupos vulneráveis ​​podem necessitar de ajuda”

Lições práticas sobre  a solidariedade na saúde financeira

Existe uma conexão significativa, às vezes não tão óbvia, entre o perdão, solidariedade, empatia e o sucesso financeiro, frequentemente explorada em estudos de psicologia financeira e desenvolvimento pessoal. A construção de um ambiente mais compreensivo e cooperativo favorece o crescimento e equilíbrio financeiro das sociedades.

E no dia a dia financeiro? Que lições práticas e benefícios você pode tirar do exercício do perdão, solidariedade e empatia para sua saúde financeira? Cito alguns:

Libertação das dívidas: um dos motivos psicológicos para pessoas ficarem presas em dívidas financeiras é estarem presas a dívidas emocionais. Alimentar culpa, rancor, mágoa, ruminação mental leva a comportamentos financeiros disfuncionais que culminam em um aprisionamento ao passado e às dívidas.

Redução do estresse e melhoria da tomada de decisão: O perdão pode ajudar a reduzir o estresse e a ansiedade, o que, por sua vez, pode levar a uma melhor tomada de decisão financeira. Quando as pessoas estão menos estressadas, elas tendem a pensar com mais clareza e a fazer escolhas financeiras mais prudentes.

Melhoria nas relações de trabalho: O perdão pode melhorar as relações interpessoais no ambiente de trabalho. Colaboradores que conseguem perdoar desentendimentos ou conflitos tendem a ter melhores relações de trabalho, o que pode contribuir para um ambiente mais produtivo e oportunidades de sucesso financeiro.

Foco no crescimento pessoal e profissional: Ao perdoar e liberar ressentimentos passados, as pessoas podem se concentrar mais em seu crescimento pessoal e profissional. Isso pode incluir buscar novas oportunidades de investimento, educação adicional ou iniciativas de desenvolvimento de carreira que podem levar ao sucesso financeiro. Um líder deve saber perdoar, pois isso demonstra força, compreensão e a capacidade de inspirar confiança e lealdade em sua equipe.

Aumento da resiliência e visão de longo prazo: O perdão pode aumentar a resiliência diante de dificuldades financeiras. A capacidade de perdoar e seguir em frente permite que as pessoas enfrentem desafios financeiros com uma atitude mais positiva e uma mentalidade de crescimento.

Perdoar significa se libertar para seguir em frente. Apesar de não concordar ou minimizar ações passadas, é importante focar na própria paz e no futuro, sem se prender a ressentimentos que causam estresse e ansiedade. Não implica em retomar relações danosas, mas em libertar-se da “ruminação” sobre o ocorrido, retomando o controle emocional. Além disso, o perdão e a solidariedade são cruciais para o desenvolvimento pessoal e profissional, contribuindo para relações mais saudáveis e autênticas, e criando um espaço mental que favorece o crescimento e o sucesso financeiro.