- Tanto a Mega Sena quanto a Páscoa mexem com os conceitos de liberdade das pessoas
- Do ponto de vista da psicologia, a fé é uma forma saudável de encarar o imprevisível. As apostas e superstições são formas de tentar controlar o imprevisível
- Quem gasta R$ 140 reais por mês com apostas poderia aplicar o mesmo dinheiro em renda fixa e teria R$ 1 milhão em 35 anos
“Senhores e Senhoras, façam suas apostas!” A Mega-Sena da Páscoa pode pagar R$ 47 milhões no sábado, dia 8. A expectativa de um apostador de se tornar um milionário, da noite para a dia, é dotada de imenso significado psicológico.
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Seria apenas a sorte, o elemento a ser celebrado? Não! Com ela vem bastante dinheiro. Mas por que ganhar muito dinheiro traria tanta alegria? Ora! Com o dinheiro, conquista-se liberdade financeira para ser e fazer o que quiser.
“Pois onde estiver seu tesouro, ali estará seu coração” diz a Bíblia. O feriado da Páscoa é celebrado por muitas religiões. Judeus comemoram a libertação da escravidão do Egito de milhares de israelitas, feita pela travessia do Mar Vermelho, passagem aberta milagrosamente por Deus. Cristãos comemoram a libertação da escravidão do pecado, alcançada por meio da morte e ressurreição de Cristo para a vida eterna.
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Podemos dizer, portanto, que a Mega-Sena e Páscoa são dotadas do mesmo significado subjetivo: alcançar a liberdade. Ambas carregam em si energia, motivações e esperanças de indivíduos. Mas qual seria a diferença principal entre elas?
Eventos Controláveis x Eventos Incontroláveis
Vou me limitar a analisar os fenômenos apenas dos pontos de vista da psicologia e da educação financeira, uma vez que essa coluna não se propõe a debater aspectos religiosos.
A fé, a espiritualidade são comportamentos humanos, vistos como fenômenos psicológicos que dão estrutura às pessoas para lidarem com o imponderável, com a angústia existencial, com o sofrimento, com as adversidades. Ter fé, praticar a espiritualidade, são importantes para se ter saúde mental.
Já o comportamento de apostar, de empenhar recursos, contando com o acaso e com a sorte, é enquadrado na psicologia como um comportamento supersticioso, ou seja, quando você faz uma ação esperando um resultado, que não tem relação direta a ação feita. Um exemplo disso seria acreditar que apostando em tais números, em tais datas, com certa frequência, aumentaria as chances de ganhar o prêmio do jogo.
Na perspectiva da psicologia, a espiritualidade é um recurso saudável para se lidar com eventos incontroláveis, enquanto apostar é uma tentativa frustrante de se ter controle de algo aleatório.
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Apenas como ilustração, segundo a CEF (Caixa Econômica Federal), a probabilidade de acertar as seis dezenas com o jogo da Mega-Sena da Páscoa é de uma em 15,89 milhões, em uma aposta simples com seis números marcados. Com uma aposta com sete números marcados, a probabilidade de acerto é de uma em 2,27 milhões.
Por outro lado, utilizando-se dos conhecimentos de educação financeira, se uma pessoa que aposta regularmente com 7 números, gastando uma média de R$ 140 por mês, decidir trocar a aposta por investimentos em renda fixa da mesma quantia regular, em 35 anos essa pessoa terá um milhão de reais. Aqui a probabilidade é real! E este é um evento controlável ao alcance de todos!
Se você apostou e está lendo este texto antes do resultado do sorteio, fica a pergunta: sua liberdade de ser e fazer realmente depende do prêmio?
Se você está lendo este texto após o sorteio, e não ganhou o prêmio, fica a pergunta: existe um caminho melhor para se ter mais alegria, reconhecimento, realização, muito além de uma recompensa aleatória?
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Se você está lendo este texto, e ganhou o prêmio (não deve existir nenhum, ou muito poucos, fazendo isso, não é mesmo?!), sua vida foi realmente transformada por essa quantia? Estaria você se sentindo realmente livre agora?
Um apostador, ao transferir suas esperanças ao jogo, rouba de si mesmo, a autoconfiança de conquistar por meio de seu próprio trabalho e investimentos, a formação de seu patrimônio.
A fé praticada perante eventos incontroláveis juntamente com o uso dos talentos e senso de contribuição e propósito utilizados nas situações em que se pode ter controle, fortalecem e trazem saúde mental. Já apostar, tentando controlar o que não se pode, e renunciando às conquistas que estão ao alcance, geram ansiedade, depressão, enfraquecem e adoecem as pessoas.
Então, querido leitor, fica a pergunta: apostar na Mega-Sena ou celebrar a Páscoa? O jogo está na mesa.
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