- Para construir uma renda passiva mensal interessante, o investidor deve se concentrar em obter yelds mais altos no longo prazo
- O Yeld médio de uma carteira depende do perfil do investidor e seu objetivo no longo prazo
- Quem quer construir uma renda passiva no longo prazo deve aproveitar os momentos de estresse de mercado para comprar ações a preços mais baixos e obter Yelds maiores
No mundo dos investimentos, muita gente se pergunta: “Quanto é preciso ter investido para ter uma renda de R$ X mil reais”? A resposta não é tão simples, pois envolve tantas variáveis e questões que torna praticamente impossível elaborar uma resposta rápida e concreta.
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Vejamos um exemplo. Uma renda passiva de R$ 5.000 mensais significa uma renda passiva anual de R$ 60.000. Para tanto, a carteira de investimentos deve gerar dividendos, juros ou renda neste valor. Isso parece bastante óbvio, mas muitos investidores que buscam a sonhada liberdade financeira investem em ativos que não geram renda e, portanto, não vão conseguir resultados.
Na minha visão, o melhor caminho para acumular patrimônio que gere uma boa renda passiva consiste em investir em ações de dividendos e fundos de investimento imobiliários (FIIs). Falo isso, pois, em termos gerais, uma boa carteira de renda variável, focada em ações de dividendos e fundos imobiliários, construída ao longo de vários anos chega a um yield (rendimento) médio pessoal de 6% – sendo bem conservador neste cálculo.
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Dessa forma, a carteira deveria ter um valor mínimo de R$ 600.000 para gerar uma renda de R$ 60.000 – neste caso, um rendimento de 10%, portanto.
Na prática, obter um yield médio acima de 6% não é complicado. Eu já vi carteiras antigas, formadas ao longo de anos de investimento, com yields médios de 10%, 15% ou até mais. Quanto maior o tempo de formação da carteira, mais elevado tende a ser o yield médio. Isso ocorre porque os preços médios dos ativos adicionados à carteira tendem a se reduzir com o tempo, tendendo a zero ao longo de décadas.
Hoje, o yield médio das ações que formam o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil, está na casa dos 11%, com média histórica de 4%, e o rendimento dos fundos imobiliários que formam o IFIX, o índice de FIIs da Bolsa, está na casa dos 10,5% com média histórica de 7,5%.
Vale observar que esses números elevados de yield em relação à média histórica demonstram que os preços das ações e dos fundos imobiliários estão baratos hoje em dia. Logo, não é difícil o investidor montar uma carteira de investimentos com um yield de 10%.
Então, quanto investir?
Dito isso, também há uma grande dúvida de investidores que estão começando a alocar esforços neste mercado no que se refere a quanto investir para ter essa renda passiva em dez anos. Isso depende de inúmeros fatores. É preciso, por exemplo, levar em conta que o yield médio da carteira vai variar muito de investidor para investidor, dependendo do foco dado aos seus investimentos ao longo do tempo, aos ativos comprados, ao momento da compra e ao preço pago.
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Um investidor pode levar poucos anos para montar uma carteira que gere uma renda anual de R$ 5.000 enquanto outro pode demorar muito tempo para chegar a este patamar ou, até mesmo, nunca chegar a esse montante.
Eu já vi muitas carteiras com mais de R$ 1 milhão investido e pulverizado em produtos financeiros distribuídos por bancos e corretoras. O yield médio de algumas dessas carteiras era ridiculamente pequeno, menor que 1% ao ano. No final das contas, essas carteiras geravam pouquíssima renda passiva.
Por outro lado, é preciso considerar que ativos comprados em momentos de estresse de mercado, com preços muito baratos, podem gerar yields médios acima de 20% ou mais. Mas vale ressaltar que existem ações que pagam poucos dividendos, as chamadas de “ações de crescimento”, e quando comprados com preço alto podem gerar uma carteira com yields muito baixos.
Dessa forma, recomendo focar em ativos que pagam bons dividendos e comprá-los quando estão baratos. “Se você quer produzir leite, você deve comprar vacas leiteiras. Quanto mais barato estiver a vaca leiteira melhor”, costumo dizer.
Reinvestimento de dividendos
Mas, no que se refere a reinvestimento dos dividendos na carteira, como se processa isso?
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Bom, este é um fator que acelera muito os resultados. Esse é um dos segredos para gerar a “bola de neve” e o efeito exponencial no crescimento da renda e do patrimônio. No começo, esse valor é pequeno e ajuda muito pouco na acumulação de capital, porém, com o passar do tempo os dividendos aumentam e quando menos se espera o valor reinvestido já supera em muito o valor do aporte principal. O reinvestimento pode dobrar e até triplicar os resultados do investidor.
Mas, de fato, há uma preocupação enorme com os efeitos deletérios da inflação sobre o patrimônio. Neste caso, o investidor deve levar em conta que os rendimentos das ações e dos FIIs tendem, em média, a serem corrigidos pela inflação.
Nos FIIs essa compreensão é mais simples, uma vez que o aluguel dos imóveis que constituem o fundo tem contratos corrigidos pela inflação.
Já sobre os dividendos das ações, devemos levar em conta que elas refletem os lucros das empresas e estes dependem das receitas e vendas delas. Dessa forma, é fácil entender que as empresas tendem, em média, a repassar os aumentos dos seus custos (insumos, mão de obra, serviços) para seus produtos. O que, por sua vez, aumenta a receita, lucros e dividendos. Então, podemos desconsiderar a inflação da conta sem maiores problemas, o que facilita os cálculos sem afetar a precisão das projeções.
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Por fim e não menos importante, é preciso entender que empresas de dividendos também crescem. Por exemplo, considerando que as empresas de dividendos tenham crescimento real médio de 3% e esse patamar representam um valor aproximadamente igual à média do Produto Interno Bruto do Brasil (PIB) nos últimos 50 anos. Ou seja, este crescimento se reflete em uma valorização de 3% ao ano (lembrando que estamos descontando a inflação).
Veja, é possível obter níveis de valorização bem maiores comprando ativos certos nos momentos certos. Um exemplo é a carteira de dividendos da VG Research, que valorizou 16% em 2022.
Considerando essas variáveis, bem conservadoras, o investidor que iniciar com zero de capital, precisará de aportes mensais de R$ 5.280 durante dez anos para obter um patrimônio de R$ 1 milhão que poderá gerar R$ 5.000 mensais de renda passiva (60 mil por ano = 6% de Yield).
Claro que o fator tempo é muito importante nesta conta. Se for um investimento de 20 anos o aporte mensal necessário para obter a mesma renda mensal de R$ 5.000 seria de R$ 1.560. Se for por 30 anos, sob as mesmas condições, o valor do aporte seria de apenas R$ 580.
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Trata-se de uma questão de ajustar o plano do investidor com suas condições de investimentos mensais. O que vale é que há caminhos que podem atender a todo o tipo de perfil, é preciso se organizar e buscar informações, pois o mercado tem grandes possibilidades, algumas ainda mais vantajosas a quem busca a tão sonhada liberdade financeira.
* Vicente Guimarães é CEO da VG Research