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Nath Finanças: a diversidade é a realidade da educação financeira

Educadora financeira faz artigo especial para o E-Investidor no Dia da Consciência Negra

Nath Finanças. Foto: Pedro Campos
  • Cresci na periferia e fiz as coisas acontecerem desde muito cedo: sou empreendedora, criativa e realizadora em educação financeira há quatro anos
  • Quando olho minha trajetória e o conteúdo que crio e disponibilizo sobre educação financeira, percebo que a forma geral utilizada para falar de finanças ainda mantém muita gente de fora
  • A maioria, infelizmente, de pessoas negras: 75% delas estão nas classes C, D e E

É importante que eu comece me apresentando.

Me chamo Nathália Rodrigues, sou uma mulher negra, bissexual, candoblecista, tenho 24 anos, nasci e moro em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Cresci na periferia e fiz as coisas acontecerem desde muito cedo: sou empreendedora, criativa e realizadora em educação financeira há quatro anos. Na internet, eu sou a Nath Finanças.

Acumulo reconhecimentos internacionais que colocam um holofote em quem incomoda, digo, em quem provoca mudança. Sou Forbes Under 30, fui a única brasileira entre os 50 maiores líderes do mundo segundo a Fortune, sou uma das 500 pessoas mais influentes da América Latina pela Bloomberg Línea pelo segundo ano consecutivo e sou a única mulher negra no Finfluence, um ranking de influenciadores digitais da Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro (Anbima).

Tudo isso graças à decisão que tomei ao gravar no velho celular da minha mãe: falar sobre educação financeira do jeito que eu gostaria de ouvir.

Parte do que sei sobre o tema aprendi na faculdade, inspirada por um grande professor. Outra parte, consideravelmente maior, vem do desejo e da curiosidade por entender melhor o dinheiro.

Assim como eu há quatro anos, tem muita gente que tem interesse em aprender sobre dinheiro, mas que não tem acesso a essas informações e, quando tem, não sabe traduzir a linguagem desse tal mercado.

Quando olho minha trajetória e o conteúdo que crio e disponibilizo sobre educação financeira, percebo que a forma geral utilizada para falar de finanças —principalmente de investimentos— ainda mantém muita gente de fora, a maioria, infelizmente, de pessoas negras: 75% delas estão nas classes C, D e E.

Como falar de finanças pessoais e investimento para essas pessoas?

A história que nos vendem e que tem uma certa perversidade é essa: à primeira vista, ver uma pessoa preta prosperando é um tipo de catarse. “Que guerreira!”, dizem. Se eu considerar no sentido de conflito, posso até concordar. O que se esquece, porém, é que de onde eu vim tem muito mais gente na correria, ocupando espaços de direito.

Com a entrada de novas pessoas no mundo das finanças, falando sobre o tema com outra abordagem, calibrada para quem não dispõe de muito dinheiro, o discurso mudou completamente. Agora fala-se para quem recebe salário mínimo e tem pouco para investir. Mulheres como Gaby Chaves, Amanda Dias e Dina Prates, elas falam com essa “nova” audiência. A diferença está na visibilidade. Porque existem pessoas pretas – mulheres pretas, como as que citei acima – falando de mercado financeiro, mas que não têm a mesma visibilidade das pessoas brancas.

A gente vai conquistar o nosso próprio espaço apesar do racismo escancarado no mercado financeiro, que é predominantemente feito de homens brancos que só escutam homens brancos e que cometem erros e caem em golpes de homens brancos. Eu sempre vou estar atenta para divulgar todos os conteúdos das pessoas que estão criando, assim como eu. A gente faz a nossa parte.

Escolhi traduzir o que já deveria ser acessível para quem vive em uma sociedade pautada pelo consumo, que precisa ter conta em banco, que faz dinheiro – mesmo que pouco –, e, principalmente, que quer realizar sonhos. Esses que nos foram negados por tempo demais.

Mais de 1 milhão de pessoas me acompanham nas redes sociais, sou uma influenciadora respeitada pela opinião pública e pela imprensa, mas no sentido real da influência. Diariamente, recebo relatos de quem decidiu reorganizar a vida. Veja, não sou eu que aplico a mudança na vida delas, eu sou um caminho para que elas tenham acesso ao conhecimento.

E depois de contar tudo isso, eu pergunto: Por que tanta cobrança? Por que tanto me pedem posicionamento? Eu já nasci posicionada. Neste Dia da Consciência Negra essas perguntas vêm a calhar.