É inegável que os economistas vêm errando sistematicamente no que diz respeito às projeções dos principais agregados econômicos, como crescimento e inflação. De acordo com uma nota técnica – de novembro de 2022 – da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, as previsões têm errado para além de dois desvios padrões desde 2018, onde a partir de 2020 esse erro foi de subestimação, ou seja, sempre projetando um crescimento no início do ano muito abaixo do realizado no fechamento do ano. Em 2024 não foi diferente.
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Como base de comparação, o Boletim Focusdo Banco Central trazia uma projeção de menos crescimento, menos inflação e juros. Em números tínhamos uma expectativa de crescimento de 1,6%, com inflação de 3,9% e Selic de 9% para o fechamento de 2024. Nós, da Bradesco Asset tínhamos projeções similares com crescimento de 1,9%, inflação de 3,8% e Selic de 9%.
O que vimos no final de 2024 foi um cenário bem diferente, com uma economia muito mais aquecida com um crescimento forte, de 3,5%, mas também uma inflação próxima a 5%, a um fechamento do ano para a taxa Selic de 12,25%. Esse aquecimento da economia brasileira é resultado de uma política fiscal expansionista concentrada nos dois primeiros trimestres de 2024 e pelo alto volume de concessões de crédito as famílias.
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Para 2025 o cenário é de uma economia desacelerando, mesmo que ainda impulsionada pelo forte crescimento de 2024, o efeito de uma taxa de juros alta leva a economia para um crescimento esperado de 1,7%, de acordo com nossas estimativas. A taxa Selic esperada para o final de 2025 está em 15%, apesar da curva de juros ter precificado taxas maiores do que essa. Mesmo assim, com todo esforço do BC em desacelerar a economia para trazer a inflação para próximo da meta, 2025 ainda é desafiador, com uma inflação estimada aqui na Bradesco Asset de 5,7%.
Uma boa parte desta expectativa para 2025 vem de fatores interno e externos que se destacaram no final de 2024. O fator externo é relacionado, principalmente, a política econômica dos Estados Unidos. Pontos trazidos por Donald Trump no processo eleitoral apontam para uma política de tarifas de impostação mais agressiva, da mesma forma com a política imigratória que levaria a mais deportações. Esses movimentos têm efeitos inflacionários, tanto pelo aumento de custo dos insumos importados quanto pelo maior custo de mão de obra.
Apesar da política de desregulamentação ser positiva para os mercados e para potenciais ganhos de produtividade, o efeito potencial para inflação é negativo e o reflexo é um aumento significativo nas taxas de juros de longo prazo, voltando a passar dos 5% a.a., e fortalecendo o dólar frente às demais moedas globais, ruim principalmente para os países emergentes.
Por outro lado, os fatores internos têm deteriorado as expectativas de forma significativa desde o anúncio do pacote fiscal em novembro. Como falei na minha última coluna, o anúncio do pacote fiscal junto com o projeto do imposto de renda que aumenta a faixa de isenção criou uma percepção de risco fiscal que acabou sendo precificado pelos investidores.
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Com um novo risco de redução de receita sem a manutenção de uma compensação coloca novamente em risco o atingimento das metas fiscais, com impacto no crescimento da dívida, o que desancora expectativas e aumenta o prêmio de risco cobrado pelos investidores. Esse foi o movimento nos preços dos ativos observado ao longo do mês de dezembro, com a curva de juros precificando taxas em torno de 16% e cambio acima do R$6.30 do final de 2024. Tal desvalorização cambial tende, em certo prazo, comprometer a inflação, da mesma forma que uma política fiscal expansionista reforça a dificuldade do Banco Central trazer a inflação para valores próximos da meta, influenciando na política monetária mais restritiva para este ano. Esses elementos explicam a expectativa de inflação e juros para cima, com efeito na desaceleração da economia.
É com esse ambiente desafiador que entramos no ano de 2025, mas vale dizer que apesar da deterioração observada desde o final de 24, o futuro ainda não está escrito e ações podem ser feitas para reverter esse quadro apontando caminhos para uma política econômica sustentável, uma política que harmonize as políticas fiscais e monetárias, permitindo a convergência da inflação para a meta e a estabilização da dívida brasileira. Vale lembrar o passado para aprendermos com nossos acertos e erros. Em 2003 o governo entregou superávits primários de forma sustentável, ganhou credibilidade e viu o real se valorizar, a inflação cair e juros ceder.