- A dinâmica das taxas de juros é fundamental para entender a formação dos preços dos ativos
- O ano de 2023 foi marcado pelo aumento de juros e pelo processo de desinflação global em boa parte das economias
- No Brasil, fomos recompensados pela rapidez do Banco Central em começar a briga contra a inflação, com aumento de juros que começou ainda em 2021
Entramos em um novo ano e muitos aproveitam esse período para repensar suas prioridades no trabalho, na vida pessoal e, dentre outras coisas, em seus investimentos. Por isso é muito natural que o primeiro assunto desta coluna este ano faça uma reflexão sobre planejamento financeiro e investimentos para o ano de 2024.
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Para começar, é sempre bom ter em mente que os investimentos pessoais dependem principalmente de dois fatores: primeiro, acompanhar as oportunidades que surgem ao longo do ano com as condições econômicas, e que estas condições afetam os preços dos ativos e, por consequência, os investimentos; segundo, um bom entendimento sobre você e sua resiliência em suportar investimentos que tenham níveis mais altos de risco.
Sabemos que os investimentos mais arriscados têm um retorno, em média, maior do que os menos arriscados, mas, de que adianta para o investidor se sua experiência em enfrentar essa “montanha-russa” é ruim? Por isso, fornecer informações sobre seu apetite ao risco, através dos questionários de suitability (análise de perfil), é tão importante.
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Para projetar a tendência das oportunidades de investimentos para 2024, é importante fazer uma retrospectiva de 2023. Antes disso é preciso destacar um ponto importante para o leitor ter em mente. A dinâmica das taxas de juros é fundamental para entender a formação dos preços dos ativos. Esta dinâmica tem sido chave desde a 2020, pois passamos por períodos de juros globais extremamente baixos durante a pandemia, favorecendo liquidez mundial e ativos de risco, e no pós-pandemia, um período de juros globais bastante elevados, drenando a liquidez mundial e penalizando a maioria dos ativos de risco.
O ano de 2023 foi marcado pelo aumento de juros e pelo processo de desinflação global em boa parte das economias. A incerteza sobre a duração do período de juros altos trouxe um ambiente de muita volatilidade ao longo do ano e vimos, algumas vezes, ativos de risco sofrendo com isso. Como exemplo, destaco os meses de setembro e outubro, onde as Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano) de 10 anos bateram recordes, atingindo 5%, trazendo grandes perdas para investidores em diversas classes de ativos, da renda fixa à renda variável.
Felizmente, boas notícias vieram nos últimos dois meses do ano, com o Banco Central americano apontando a possibilidade de encerrar o aumento de juros e começar, mais cedo do que se imaginava, o início da redução dos juros por lá. As projeções mostram que a taxa de juros dos Estados Unidos pode cair de 5,5% para 4% em 2024, uma redução de 150 bps.
Aqui no Brasil, fomos recompensados pela rapidez do Banco Central em começar a briga contra a inflação, com aumento de juros que começou ainda em 2021, mas que permitiu sermos a segunda economia a começar o processo de redução de juros, apenas atrás do Chile. Já observamos um processo de redução de juros consistente desde o segundo semestre de 2023, e fechando o ano com queda de 2% em relação ao seu pico. As projeções de mercado mostram que podemos chegar ao final de 2024 com uma taxa de 9%.
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Ambos os fatos, tanto global quanto local, nos dizem que teremos em 2024 um ano de redução de juros sincronizada na maior parte do mundo. Esse movimento tende a trazer mais liquidez, com mais dinheiro para investimentos de risco, e, desta forma, valorizar essa classe de ativos. Assim, diferente do que foi o ano de 2023, com juros altos e em ascensão, com investimentos de menor risco sendo beneficiados, como os atrelados diretamente ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), para esse ano que começa, a tendência é a migração dessa classe para as outras de maior risco.
Aqui na Bradesco Asset, fizemos estudos com resultados bastante interessantes sobre a dinâmica de valorização de alguns investimentos de risco em períodos de queda de juros. Ao analisar os últimos cinco ciclos de queda de juros, pudemos concluir que, em média, a Bolsa se valorizou mais de 60% nos 24 meses seguintes ao início da queda de juros. Da mesma forma, observamos para a renda fixa, utilizando uma carteira 50% prefixada e 50% indexada à inflação. Esta carteira teve retorno maior do que o CDI nesses períodos de queda de juros.
Com esse cenário macro que se desenha e nossos estudos olhando para o padrão passado, vemos que 2024 deve ser favorável para os investimentos de risco, como fundos de renda fixa ativa, fundos de ações e multimercado dos mais variados tipos. Então, isso quer dizer que todos devem colocar seus recursos nesses investimentos?
Isso vai depender do seu apetite ao risco, afinal esses retornos são capturados ao longo do tempo com flutuações no resultado. Para aqueles que não gostam de ver o “sobe e desce” dos preços, melhor seria um fundo menos arriscado. Para aqueles que estão dispostos a tomar mais risco para ter mais retorno, esse é um bom momento.
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