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Carol Sandler é fundadora do Finanças Femininas, a maior plataforma online do Brasil de educação financeira para mulheres. É apresentadora do podcast “Meu Dinheiro, Minhas Regras” e colunista da Rádio Bandeirantes e dos portais da revista Claudia e E-Investidor. Autora dos livros “Dinheiro Nasce em Árvore?” e “Detox das Compras”, além de coautora do “Finanças Femininas – Como organizar suas contas, aprender a investir e realizar seus sonhos”. Formada em Jornalismo (PUC-SP), estudou relações internacionais no Instituto de Estudos Políticos da França (Sciences Po) e liderança feminina em Wharton.

Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias

Carol Sandler

Mulheres são investidoras conservadoras: mito ou verdade?

Um ponto a ser observado é que o número de novas investidoras na Bolsa não para de crescer

Mulheres e o risco (Foto: Evanto Elements)
  • Não dá para comparar estratégias de investimentos de pessoas com níveis de conhecimento diferentes sobre o mercado financeiro e tomada de risco.
  • Quando mulheres e homens possuem o mesmo nível de conhecimento sobre os diversos produtos de investimento, a conversa muda de figura: elas topam assumir o mesmo nível de risco que eles.

Existe um mito no mercado financeiro: o de que as mulheres são investidoras conservadoras.

É só olhar para o fato de que os investimentos preferidos delas são a poupança, a previdência privada e os imóveis (de tijolo e cimento, não os fundos imobiliários). Quando vemos que elas compõem apenas 25% do total de investidores no Brasil, é fácil chegar à esta conclusão.

No entanto, ela é enganosa – e o motivo é simples. Não dá para comparar laranjas e maçãs, ou, no nosso caso, estratégias de investimentos de pessoas com níveis de conhecimento diferentes sobre o mercado financeiro e tomada de risco.

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Nestes oito anos em que trabalho com educação financeira com mulheres, desenvolvi uma percepção de que a mulher, de forma geral, enxerga o risco com uma lupa. O medo de perder tudo é tão grande que faz com que ela busque as opções mais conservadoras do mercado – perdendo, assim, acesso a aplicações onde a rentabilidade é maior.

Em uma palestra que dei anos atrás, uma mulher levantou a mão e fez um desabafo que ilustra bem esta história. Ela disse: “Sei que deixar o dinheiro na poupança não rende nada, mas tenho medo de investir na Bolsa. Por isso, prefiro deixar o meu dinheiro na conta corrente”.

Ela foi de um extremo a outro na tomada de risco, sem perceber que existe um universo de possibilidades que poderiam atender seus objetivos de investimentos.

No entanto, quando mulheres e homens possuem o mesmo nível de conhecimento sobre os diversos produtos de investimento, a conversa muda de figura: elas topam assumir o mesmo nível de risco que eles.

Eu vejo isso no meu dia-a-dia. Recebo diariamente diversas mensagens de mulheres contando sobre o seu medo de investir. O receio, no caso, é sempre de perder tudo. Este fenômeno está totalmente alinhado com o resultado de uma pesquisa realizada pelo banco de investimentos UBS, que mostrou que 93% das brasileiras acredita que os seus maridos entendem mais sobre planejamento financeiro de longo prazo e investimentos do que elas.

Quando converso com estas mulheres, preciso dar um passo atrás e explicar qual é o risco envolvido em cada produto de investimento. Depois, falo sobre a importância de ter uma carteira diversificada e como ela ajuda a mitigá-los. Destaco sempre a importância de encarar os investimentos como algo para o longo prazo – assim, é possível sair da pressão de vender na baixa caso aquele dinheiro aplicado seja necessário para um objetivo de curto prazo. No longo prazo, a tendência da Bolsa é de alta – e se você pode deixar o dinheiro aplicado por tempo suficiente, consegue aproveitar esta valorização e vender nos momentos estratégicos.

A cereja do bolo acontece quando mostro a diferença entre a rentabilidade de uma carteira conservadora, moderada e agressiva. Na hora em que ela entende que existem mecanismos para mitigar os riscos e estratégias de longo prazo que a ajudam a construir um patrimônio de verdade, o resultado é sempre o mesmo: a mulher que chegou cheia de medo sai da conversa querendo criar uma carteira agressiva.

Fica clara aí a diferença que a educação financeira faz na vida de tantas mulheres – e não é à toa que o número de novas investidoras na Bolsa não para de crescer. Ainda somos 25% do total de CPFs da B3, mas é importante reconhecer que a largada aconteceu de pontos de partida diferentes.

Historicamente, as mulheres sempre trabalharam. No entanto, até os anos 1960, o trabalho era doméstico (subsidiando assim a atividade do marido provedor) ou então em cargos específicos, onde o seu crescimento profissional era limitado. O conceito de carreira para mulheres surge apenas após a invenção da pílula anticoncepcional, que deu a milhões de mulheres a possibilidade de planejar o momento ideal para terem filhos.

Foi só então que as mulheres passaram a galgar os degraus do mercado corporativo – no mesmo momento em que elas passaram a ter direito a ter seu próprio CPF e conta bancária individual. Ou seja: a possibilidade de ganhar o seu próprio dinheiro e a responsabilidade de cuidar dele é algo novo em termos históricos.

Temos ainda um caminho para percorrer até chegarmos ao ponto em que mulheres representem 50% dos investidores e termos uma sociedade com igualdade salarial e patrimonial. Para chegarmos lá, tenho convicção que o caminho passa necessariamente pela educação financeira.