- Há algumas décadas que o mundo desenvolvido não precisa lidar com um problema inflacionário
- Se não bastasse o problema no mercado imobiliário, a China está convivendo agora com racionamento e apagões no mercado de energia
- No Brasil, seguimos em um ambiente de inflação corrente elevada
O mês de setembro foi marcado pelo recrudescimento de diversos riscos que eu vinha monitorando e alertando neste espaço nos últimos meses.
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Nos EUA, por um lado, a pandemia finalmente dá sinais de arrefecimento, o que pode ajudar a dar uma sustentação adicional ao crescimento econômico no curto prazo. Por outro lado, contudo, a inflação parece não dar trégua. A certeza do Fed (de até poucos meses atrás) de que este efeito seria temporário vai dando lugar a uma visão muito mais pragmática e duvidosa em relação à inflação.
Diante disso, o banco central americano passou a sinalizar de maneira mais transparente para o começo de um processo de normalização monetária, com redução do relaxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) ainda este ano e posterior encerramento do programa em meados de 2022. Depois disso, seria iniciado um processo gradual de alta de juros.
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A alta da inflação não é um fenômeno restrito à economia americana, mas se mostra presente e intensa em praticamente todo o mundo. Este é um dos principais pontos de atenção que tenho alertado nos últimos meses. Em setembro, este tema voltou a pauta dos mercados e merecerá atenção especial neste último trimestre de 2021 e começo de 2022.
Há algumas décadas que o mundo desenvolvido não precisa lidar com um problema inflacionário, sendo um vetor muito novo para muitos investidores.
Além da inflação, o mundo convive com uma visível crise de energia, com aumento de demanda, problemas de oferta e uma consequente escalada quase que exponencial de preços de algumas commodities ligadas ao complexo energético, como o gás natural e o carvão.
Este cenário afeta não apenas a inflação, como gera um choque de oferta para a economia global, trazendo um desafio adicional ao crescimento do mundo. Neste momento, a crise parece mais intensa na Europa e na China (sem contar com os problemas peculiares no Brasil cuja matriz hidroelétrica também apresenta problemas, com chuvas abaixo da média histórica e uma demanda em recuperação pós pandemia).
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Em se tratando de China, os problemas na Evergrande, uma das maiores e mais endividadas empresas do setor imobiliário do país, caminharam na perigosa direção de um “default”, com consequente reestruturação da dívida da empresa. Por mais que eu não veja (ainda) motivos para contágio financeiro, há riscos relevantes e não desprezíveis de impacto para o crescimento econômico do país e contágio econômico para o resto do mundo.
Neste momento, acredito que não é uma questão de “se” a economia global irá desacelerar nos próximos meses, mas sim qual será a magnitude, velocidade e duração dessa desaceleração. Esta visão se apoia nos problemas de energia e na Evergrande na China; no menor impulso fiscal no mundo; na normalização monetária em diversas economias; e na crise de energia que continua a se alastrar ao redor do planeta.
A meu ver, uma parte deste cenário não parece, ainda, bem precificado por alguns ativos de risco ao redor do mundo, a despeito de vermos oportunidades em países específicos, como Brasil e China, onde os preços dos ativos já apresentaram depreciação relevante nos últimos meses.
Vale lembrar que o mercado imobiliário da China foi o grande propulsor do crescimento do país (e de vários setores econômicos globais) nos últimos anos, o que torna qualquer desaceleração deste setor da economia extremamente importante para o mundo.
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Se não bastasse o problema no mercado imobiliário, a China está convivendo agora com racionamento e apagões no mercado de energia, o que deverá atuar como um vento contrário adicional ao crescimento do país.
Assim, me parece que estamos diante de um pano de fundo global muito mais desafiador, incerto e de baixíssima visibilidade do que aquele que convivemos até setembro deste ano. Por ora, não há sinais claros de que nenhum desses vetores deve ser pacificado no curto prazo.
No Brasil, seguimos em um ambiente de inflação corrente elevada, que está levando o Banco Central a dar continuidade ao seu processo de alta das taxas de juros. Espero que a taxa Selic deverá encerrar este ciclo de alta em torno de 9%, no começo de 2022.
O crescimento mostra sinais de acomodação, mas no geral a economia ainda parece operar em níveis saudáveis e com uma recuperação positiva do mercado de trabalho. O quadro fiscal corrente se mostra mais positivo do que o esperado, muito em função das restrições de gastos impostas pelo teto de gastos e com as receitas ajudadas pela recuperação mais robusta do crescimento.
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Contudo, há enormes incertezas para as contas públicas e uma pressão grande da classe política por mais gastos, o que deixa o mercado desconfortável e com baixa convicção de que os números melhores de curto-prazo serão mantidos no futuro próximo.
Passamos por um arrefecimento dos embates e ruídos institucionais após os eventos do 7 de setembro, mas o cenário nesta frente está longe de estar pacificado estruturalmente. Qualquer medida e/ou declaração pode ser um novo estopim para mais uma crise institucional entre os poderes da república.
A agenda de reformas econômicas está praticamente parada e não há qualquer sinal de que haja disposição para avanços. Não quero soar excessivamente negativo. Existem diversas pautas econômicas avançando, como privatizações, concessões, obras públicas e pequenas reformas regulatórias que ajudam o ambiente de negócios do País.
Todavia, não posso deixar de ter os pés no chão e a noção de que o cenário de curto prazo se mostra ainda mais desafiador do que aquele que apresentamos nos últimos meses. À medida que este cenário foi se desenvolvendo, os ativos locais foram reagindo negativamente. De certa forma, isso traz algum alento, pois são em momentos como esse que oportunidades de investimentos são criadas.
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Contudo, a piora dos riscos internacionais traz um vetor a mais de incerteza que mantém o cenário de curto prazo mais cauteloso, com baixa visibilidade e com risco de novas turbulências à frente.