O Ibovespa acumula valorização de 11,54% em 2025, com dados até 21 de julho. À primeira vista, muitos investidores podem considerar o número satisfatório. No entanto, ele está longe de contar a história completa: os ganhos — e as perdas — estão distribuídos de forma bastante desigual entre os diferentes setores da Bolsa brasileira.
Um levantamento exclusivo da consultoria Elos Ayta, baseado na mediana da rentabilidade das ações mais líquidas de cada setor, revela que, na prática, enquanto alguns segmentos da B3 vivem um ano de forte valorização, outros enfrentam cenário de crise.
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O estudo analisou 193 empresas com volume médio diário superior a R$ 1 milhão, agrupadas em 60 setores, dos quais 25 possuíam pelo menos três representantes, critério mínimo para garantir robustez estatística.
Educação e imóveis lideram
O grande destaque do ranking de 2025 até agora é o setor de serviços educacionais, que acumula uma mediana de rentabilidade de 92,98% no ano, mais de doze vezes o CDI, que soma 7,30% no mesmo período. Entre as ações desse setor que puxam a performance estão nomes como Cogna (COGN3), Anima (ANIM3) e Ser Educação (SEER3).
Na segunda posição vem o setor de incorporações, com mediana de 56,28%, refletindo o bom momento do mercado imobiliário em meio à recuperação econômica e ao ciclo de juros mais controlado (isto é, com altas menores e perspectiva de estabilidade).
O pódio se completa com o setor de programas & serviços, cuja mediana é 36,70%. Esse segmento, muitas vezes deixado de lado por investidores mais focados em bancos ou commodities, surpreendeu em 2025, o que reforça a importância de olhar além do óbvio.
Nem tudo sobe: máquinas e siderurgia entre os piores
Apesar do bom desempenho geral, seis setores apresentaram mediana negativa. O pior foi o de Máquinas e Equipamentos Industriais, com recuo de -17,68%, seguido por Siderurgia (-9,82%) e Exploração, Refino e Distribuição de Petróleo (-9,47%).
Essa dispersão de resultados setoriais é justamente o motivo pelo qual análises como essa ganham relevância: olhar só para o índice agregado mascara os detalhes que realmente fazem diferença em decisões de investimento.
O peso da mediana e o perigo dos vieses
A metodologia da Elos Ayta privilegia o cálculo da mediana da rentabilidade, não da média. A razão é simples: a mediana é menos afetada por extremos. Em setores onde poucas ações podem ter movimentos muito fora da curva, a mediana oferece um retrato mais fiel da tendência central.
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Esse cuidado técnico também é uma maneira de não ignorar o peso das chamadas finanças comportamentais. Ao confiar demais em médias distorcidas ou na intuição baseada em manchetes, o investidor corre riscos desnecessários.
Setores menos visíveis, mas estatisticamente consistentes, podem esconder boas oportunidades – ou armadilhas silenciosas.
A Elos Ayta também mapeou as 20 ações com melhor desempenho na Bolsa brasileira até 21 de julho deste ano. O “Top 3” é composto por Cogna (COGN3), com valorização de 144,05%, seguida por Méliuz (CASH3) que valorizou 134,18% e, por fim, Anima (ANIM3), com alta de 132,39%.
É curioso: 8 das 20 ações mais rentáveis são do setor de incorporações, mostrando que, mesmo com um setor forte na mediana, há dispersão interna entre as empresas.
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A título de comparação, o setor de serviços educacionais, embora lidere o ranking setorial, aparece de maneira mais concentrada em algumas ações específicas.
Roteiro para investir olhando setores
Para quem deseja usar a lógica setorial como base de análise, o primeiro passo é estruturar um processo disciplinado:
Filtrar ações por liquidez mínima.
Agrupar por setor apenas quando houver amostragem suficiente.
Calcular a mediana da rentabilidade para evitar distorções.
Comparar sempre com o Ibovespa e o CDI.
Aliar análise quantitativa a leitura de balanços e cenário macro.
Conclusão
Investir olhando apenas para o Ibovespa ou para as ações mais comentadas é uma forma limitada de enxergar a Bolsa. Quando repartimos o mercado brasileiro por setores, há microbolhas de bonança e de crise. A análise setorial oferece um mapa mais detalhado e ajuda o investidor a escapar de vieses comportamentais clássicos, como o efeito manada ou a ancoragem em informações incompletas.
Vale lembrar que, embora a fotografia de 2025 até julho seja positiva para vários setores, não há garantias de que as mesmas tendências se mantenham.
Como sempre, recomenda-se cautela, diversificação e, se necessário, buscar apoio de profissionais habilitados para montar uma estratégia de investimento consistente.