Empresas da B3 desembolsaram R$ 71,5 bi em dividendos no 3T25, com forte alta sem Petrobras e setores de petróleo e finanças puxando os pagamentos. Veja os números, os líderes e o impacto da taxação. (Imagem: Adobe Stock)
As empresas listadas na B3 desembolsaram R$ 71,5 bilhões em dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) no terceiro trimestre de 2025, um avanço expressivo de 27,3% em relação ao trimestre anterior. Na comparação anual, o volume pago aos acionistas aumentou 22,4% frente ao terceiro trimestre de 2024, marcando um dos ciclos de distribuição mais fortes desde janeiro de 2023, início do governo Lula 3.
Quando a Petrobras (PETR3; PETR4), maior pagadora da Bolsa, é excluída da amostra, o movimento torna-se ainda mais relevante. As demais companhias da B3 distribuíram R$ 60,5 bilhões no período, alta de 29,8% frente ao segundo trimestre e de 32,4% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior. Trata-se do segundo maior desembolso trimestral sem Petrobras em todo o governo Lula, ficando atrás apenas do forte primeiro trimestre de 2025, quando a cifra atingiu R$ 77,7 bilhões.
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Segundo levantamento da consultoria Elos Ayta, responsável pela consolidação dos dados, os valores representam saídas efetivas de caixa das empresas, ou seja, dividendos e JCP que foram realmente pagos aos acionistas no trimestre. Esses montantes, no entanto, não necessariamente se referem ao lucro gerado no período, mas, sim, a declarações de dividendos de trimestres anteriores.
Petrobras continua soberana: um terço do dinheiro pago em dividendos desde 2023 veio da estatal
Entre janeiro de 2023 e setembro de 2025, as empresas da B3 desembolsaram um total de R$ 786,2 bilhões em dividendos e JCP. Desse montante, a Petrobras sozinha foi responsável por R$ 236,2 bilhões, o equivalente a 30% de tudo que saiu do caixa das companhias brasileiras para remunerar seus acionistas no período.
O domínio da petrolífera é tão grande que o segundo colocado, a Vale (VALE3), registrou desembolsos de R$ 68 bilhões, menos de um terço do volume pago pela Petrobras. O Itaú Unibanco (ITUB4) aparece na terceira posição, com R$ 60,8 bilhões.
Ao todo, dez empresas distribuíram mais de R$ 10 bilhões em dividendos e JCP no período analisado, sendo cinco instituições financeiras, incluindo quatro bancos e uma seguradora.
Setores campeões em pagamentos: petróleo e finanças representam mais da metade do total
A análise setorial reforça o peso estrutural de segmentos historicamente intensivos em caixa:
Esses quatro setores combinados somam 71% de todos os dividendos efetivamente pagos na B3 desde 2023, evidenciando a forte concentração da renda gerada para os investidores.
O que os gráficos revelam além dos números do trimestre
A leitura visual dos dados traz insights importantes:
1. Ciclo de alta de 2025
Há um claro pico de pagamentos no primeiro trimestre de 2025, seguido por redução no segundo trimestre e nova forte aceleração no terceiro. Esse padrão indica:
pagamentos referentes aos lucros robustos de 2024;
sazonalidade típica de distribuições pós-divulgação do balanço anual;
antecipações estratégicas feitas por diversas empresas ainda sob incerteza da nova tributação de dividendos.
2. Consistência das empresas sem Petrobras
O gráfico mostra que, ao contrário dos ciclos mais voláteis da Petrobras, o conjunto das empresas excluindo a estatal apresenta curva mais estável, com:
menor amplitude entre picos e vales,
tendência estrutural de alta desde 2023,
maior previsibilidade para investidores focados em renda.
3. A Petrobras forma um “outlier estrutural”
Visualmente, a estatal está tão acima das demais que cria uma distorção estatística. Nos setores e no ranking consolidado, o efeito Petrobras desloca a média para cima e muda a leitura agregada. Por isso, análises sem a presença da companhia são fundamentais para avaliar tendências reais do mercado brasileiro.
Por que é importante analisar apenas os dividendos desembolsados?
O investidor costuma acompanhar os anúncios de dividendos, mas o que realmente importa é o que sai do caixa. Eis as diferenças fundamentais:
Dividendos e JCP declarados (a pagar)
São divulgados nas notas explicativas dos resultados trimestrais.
Representam intenção de pagamento.
Não são fluxo de caixa do trimestre.
Dividendos e JCP desembolsados (pagos)
Estão na Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC).
São valores liquidados e creditados ao acionista.
Refletem a capacidade real de geração de caixa.
Por isso, uma análise em janela móvel de 10 trimestres, como faz a Elos Ayta, revela:
Estratégias de renda precisam considerar a nova alíquota.
A qualidade do caixa da empresa passa a pesar mais que o dividend yield isolado.
Carteiras focadas em dividendos terão de se adaptar, algumas empresas podem antecipar pagamentos antes da vigência da nova regra.
Como parte do mercado já esperava a taxação, é possível que parte do forte desembolso no primeiro semestre de 2025 tenha sido influenciado por esse cenário.
Conclusão: um ciclo de dividendos ainda robusto, mas com nova dinâmica
Os dados mostram que o governo Lula registra, até aqui, um dos ciclos de dividendos mais intensos da história da B3, puxado por Petrobras, bancos e mineração. Mas o terceiro trimestre de 2025 trouxe um sinal adicional: as empresas excluindo a Petrobras aceleraram seus pagamentos em ritmo ainda maior, indicando uma base mais ampla de distribuição de renda corporativa no mercado brasileiro.
Com a taxação de dividendos, o investidor entra em uma nova fase. Análises baseadas apenas nos anúncios oficiais deixam de ser suficientes. Será necessário olhar de perto:
o caixa das empresas,
a consistência dos últimos 10 trimestres,
o mix entre dividendos e JCP,
e a capacidade de gerar resultados recorrentes.
E é justamente esse tipo de leitura, baseada em fluxo de caixa real, que permitirá identificar, daqui em diante, quem são as verdadeiras pagadoras de dividendos da Bolsa brasileira.