- Muito tem se falado sobre o bom momento da Bolsa brasileira, o que pode ser observado pelo desempenho do seu maior índice, o Ibovespa
- Tal cenário tem levantado uma série de questionamentos por parte dos investidores. Há ainda como subir mais? É hora de entrar na Bolsa?
- Para respondê-las, volto aos números que mostram como o Ibovespa tem se comportado nos últimos anos e faço uma análise de seu passado mais recente sob três benchmarks – seus valores nominais, ajustados pelo IPCA e equiparados ao dólar
Muito tem se falado sobre o bom momento da Bolsa brasileira. O Ibovespa, principal índice da B3, subiu 2,50% em abril e 3,74% em maio. As perspectivas de junho também são bastante otimistas: até o dia 21 deste mês, foram mais de 11% acumulados. Ainda que no dia 22 a Bolsa tenha fechado em queda de 1,23% – resposta do mercado pela manutenção da taxa Selic em 13,75% –, as expectativas seguem positivas. Isso porque os pregões entre 19 e 23 de junho marcaram a nona semana de altas consecutivas, crescimento de 0,18% ante a anterior.
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Não à toa, tal cenário tem levantado uma série de questionamentos por parte dos investidores. Há ainda como subir mais? É hora de entrar na Bolsa? Para respondê-las, volto aos números que mostram como o Ibovespa tem se comportado nos últimos anos e faço uma análise de seu passado mais recente, na tentativa de compreender os movimentos do índice desde a pandemia. Em seguida, analiso-o sob três benchmarks – seus valores nominais, ajustados pelo IPCA e equiparados ao dólar – e identifico o espaço que hoje separa o indicador de suas máximas históricas.
O Ibovespa pós-pandemia
Ao analisar o gráfico do Ibovespa com dados do TradeMap de janeiro de 2020 até o pregão de 21 de junho, podemos identificar seis movimentos de pico – cinco dos quais com crescimento superior a 20% –, todos eles refletindo as tendências do mercado e os diversos eventos econômicos e políticos que ocorreram ao longo do período analisado.
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A disparada inicial foi registrada no dia 23 de março de 2020 e encerrada em 29 de julho do mesmo ano, com uma valorização acumulada de 66,13%. O movimento refletiu uma primeira recuperação dos papéis após o impacto causado pelo pior momento da pandemia, quando as vacinas ainda estavam fora de nossos horizontes. A segunda alta, também relacionada ao arrefecimento da crise do coronavírus, ocorreu entre 30 de outubro de 2020 e 8 de janeiro de 2021, crescendo 33,13%.
De 26 de fevereiro a 7 de junho de 2021, o Ibovespa teve alta de 18,85%. Embora este seja o menor percentual entre os seis movimentos mapeados, o rali levou o índice a atingir sua maior pontuação histórica nominal – como poderão ver mais abaixo.
Em 5 de janeiro de 2022, iniciou-se o quarto movimento de alta, com uma valorização de 20,36% até 1º de abril do mesmo ano. Durante esse período, a guerra na Ucrânia estourou, o que se refletiu no aumento do preço do petróleo, com repercussões parcialmente positivas para a economia brasileira.
O quinto movimento de subida ocorreu na janela de 15 de julho a 21 de outubro de 2022. Neste intervalo, a cesta registrou uma performance positiva de 24,21%, disparada interrompida nove dias antes do segundo turno das últimas eleições presidenciais.
Por fim, a fase de alta atual teve início em 23 de março de 2023 – coincidentemente exatos três anos depois do pior momento da Bolsa brasileira, quando o Ibovespa atingiu 63.570 pontos. Nesses quase três meses, o índice acumulou uma valorização de 22,97% até o dia 21 de junho, resultado intimamente relacionado às expectativas de redução da taxa Selic.
Ibovespa em valores nominais
O auge do Ibovespa em valores nominais se deu em 7 de junho de 2021, quando o índice atingiu 130.776 pontos. No dia 21 deste mês, o indicador bateu os 120.420 pontos, marco que representa uma queda de 7,92% em relação a sua máxima histórica.
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Aqui, vale dizer que o alcance desse pico é uma barreira psicológica. Isso porque não há, de fato, um teto. Este número pode ser superado e, se considerarmos a inflação hoje em voga, não há dúvidas de que o Ibovespa ainda está bastante distante de sua meta ideal. Uma vez que tenhamos uma redução nos preços para o consumidor, será natural esse crescimento.
Ibovespa em valores ajustados pelo IPCA
Nesta abordagem, todos os dados históricos do Ibovespa são ajustados a partir do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), trazendo ao investidor a indicação do espaço que ele tem para subir quando comparado com os outros investimentos.
O maior valor atingido pelo Ibovespa ajustado ocorreu em 20 de maio de 2008, quando teria alcançado 175.742 pontos. Nessa perspectiva, o índice está 31,48% abaixo de sua meta considerando a inflação. Podemos dizer que essa meta é mais realista entre os benchmarks e o gráfico indica que ainda há espaço para um crescimento mais significativo.
Ibovespa em dólares
Investidores estrangeiros geralmente consideram o desempenho do Ibovespa em dólares. O maior nível alcançado pelo índice convertido em dólares foi em 19 de maio de 2008, com 44.616 pontos. Atualmente, o Ibovespa está em 25.195 pontos em dólares, o que representa uma queda de 43,53% em relação ao seu máximo histórico.
Para esses investidores, essa perspectiva mostra que ainda há um grande potencial de crescimento no Ibovespa no médio prazo, o que certamente pode contribuir para a chegada de capital estrangeiro na Bolsa brasileira – o que, naturalmente, se reflete em avanços do índice.
Mas afinal, vivemos hoje um bom momento para o investimento na Bolsa? Acho que os números falam por si sós. Independentemente do viés analisado, ainda há muito espaço para crescimento do Ibovespa. Algumas perspectivas são mais otimistas que outras, como podem ver, mas todas indicam para um destino comum: o de crescimento.
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