No terceiro trimestre, 24 das 82 ações do Ibovespa cravaram suas máximas históricas, mostrando que, mesmo em um mercado pressionado por juros elevados, há uma rotação silenciosa e poderosa em andamento. E mais: 19 dessas máximas aconteceram em setembro, muitas delas nos últimos pregões do trimestre. Em outras palavras, a Bolsa não apenas registrou novas cotações, mas acelerou no fim da reta do trimestre.
Energia na tomada e construtoras em recuperação
Se há um setor que simboliza esse novo capítulo, ele atende pelo nome de energia elétrica. Nada menos que sete empresas do segmento atingiram recordes, numa demonstração clara de que o investidor voltou a valorizar previsibilidade.
Logo atrás, o mercado imobiliário também fez barulho. Três incorporadoras chegaram às máximas, e isso não é coincidência. Não foi a Selic mais baixa que impulsionou o movimento (a taxa segue em patamares elevados).
As altas devem ser lidas como recuperação setorial após um 2024 difícil, efeito de base, melhoria nos indicadores de vendas e pré-vendas, desalavancagem de balanços e reprecificação de múltiplos que haviam sido comprimidos. Numa situação assim, gestores em busca de oportunidades táticas se voltam a empresas com sinais claros de recuperação, exatamente o que vemos em Direcional (DIRR3), Cyrela (CYRE3) e Cury (CURY3).
Bancos e telecomunicações completam a lista de protagonistas, cada um com duas ações renovando recordes: mostram que nomes tradicionais com boa liquidez continuam a chamar atenção mesmo em cenário desafiador. Veja a relação completa a seguir.
As ações do Ibovespa que atingiram máximas históricas no terceiro trimestre de 2025 |
Empresa
|
Código
|
Setor
|
Máximo histórico |
Retorno % |
Fechamento 30set25 R$
|
Data |
Valor |
Terceiro Trimestre |
2025 |
Direcional |
DIRR3 |
Incorporações |
9/30/2025 |
16,17 |
18,84 |
101,00 |
16,17 |
Cyrela Realt |
CYRE3 |
Incorporações |
9/30/2025 |
30,70 |
17,44 |
89,04 |
30,70 |
Tim |
TIMS3 |
Telecomunicações |
9/30/2025 |
23,50 |
8,23 |
76,67 |
23,50 |
ItauUnibanco |
ITUB4 |
Bancos |
9/30/2025 |
39,07 |
6,92 |
50,00 |
39,07 |
Itausa |
ITSA4 |
Holdings diversificadas |
9/30/2025 |
11,47 |
6,76 |
43,35 |
11,47 |
Eletrobras |
ELET3 |
Energia elétrica |
9/29/2025 |
52,68 |
35,98 |
63,58 |
52,52 |
Eletrobras |
ELET6 |
Energia elétrica |
9/29/2025 |
55,56 |
30,16 |
53,11 |
55,47 |
Btgp Banco |
BPAC11 |
Bancos |
9/29/2025 |
48,85 |
15,94 |
81,10 |
48,26 |
Taesa |
TAEE11 |
Energia elétrica |
9/29/2025 |
36,76 |
7,69 |
19,15 |
36,66 |
Totvs |
TOTS3 |
Programas e serviços |
9/24/2025 |
46,02 |
9,18 |
73,62 |
45,93 |
Cemig |
CMIG4 |
Energia elétrica |
9/24/2025 |
11,24 |
5,21 |
12,99 |
11,15 |
Sabesp |
SBSP3 |
Água e saneamento |
9/23/2025 |
132,18 |
10,95 |
54,36 |
132,17 |
Energisa |
ENGI11 |
Energia elétrica |
9/23/2025 |
50,94 |
7,46 |
49,11 |
50,86 |
Iguatemi SA |
IGTI11 |
Exploração de imóveis |
9/23/2025 |
24,57 |
5,56 |
46,74 |
24,48 |
Copel |
CPLE6 |
Energia elétrica |
9/23/2025 |
12,98 |
3,37 |
46,26 |
12,88 |
Marcopolo |
POMO4 |
Material rodoviário |
9/18/2025 |
9,88 |
13,96 |
28,28 |
8,91 |
Marfrig |
MBRF3 |
Carnes e derivados |
9/16/2025 |
24,61 |
-5,16 |
27,53 |
19,42 |
Cury S/A |
CURY3 |
Incorporações |
9/5/2025 |
34,65 |
17,11 |
107,42 |
34,57 |
Vibra |
VBBR3 |
Exploração refino e distribuição |
9/5/2025 |
24,95 |
13,53 |
44,26 |
24,59 |
Telef Brasil |
VIVT3 |
Telecomunicações |
8/25/2025 |
34,62 |
11,33 |
53,06 |
34,07 |
Embraer |
EMBR3 |
Material aeronáutico |
7/4/2025 |
83,49 |
4,26 |
43,04 |
80,29 |
Porto Seguro |
PSSA3 |
Seguradoras |
7/4/2025 |
56,06 |
-8,70 |
44,41 |
49,86 |
Engie Brasil |
EGIE3 |
Energia elétrica |
7/3/2025 |
47,75 |
-8,36 |
19,80 |
40,70 |
Cea Modas |
CEAB3 |
Tecidos vestuário e calçados |
7/3/2025 |
20,65 |
-16,63 |
113,32 |
16,39 |
Fonte: Elos Ayta
Eletrobras lidera o rali, construtoras refletem recuperação tática
Entre as estrelas do trimestre, Eletrobras (ELET3; ELET6) roubou a cena. Suas ações ordinárias (ELET3) subiram 35,98% e as preferenciais (ELET6), 30,16%, impulsionadas pelo avanço da agenda de eficiência pós-privatização e pelo crescente interesse de investidores em empresas de perfil previsível e alta geração de caixa.
Logo atrás vieram as incorporadoras: Direcional com 18,84%, Cyrela com 17,44% e Cury com 17,11%. O movimento não reflete uma virada do ciclo econômico, ainda pressionado por juros elevados, mas sim uma reprecificação do setor depois de um 2024 particularmente desafiador, com valuations (valor do ativo) descontados, recuperação operacional em curso e melhora nos indicadores de vendas e pré-vendas, atraindo investidores em busca de assimetria e potencial de valorização.
Nem tudo que reluz é ouro
Nem todas as ações que atingiram recordes terminaram o trimestre no azul. Quatro papéis fecharam em território negativo, com destaque para C&A Modas (CEAB3), que recuou 16,63% entre julho e setembro, mas ainda acumula alta de 113,32% no ano, a maior da amostra.
Porto (PSSA3), Engie Brasil (EGIE3) e Marfrig (MRFB3) completam o grupo, ilustrando que, após máximas expressivas, a realização de lucros pressionou os preços no curto prazo.
2025: extremos e oportunidades
No acumulado do ano até setembro, três ações mais que dobraram de valor: C&A Modas, Cury e Direcional, refletindo recuperação de setores que sofreram em 2024 e efetiva reprecificação pelo mercado.
Na outra ponta, Cemig (12,99%), Taesa (19,15%) e Engie (19,80%) apresentaram as menores altas da amostra, abaixo dos 21,58% acumulados pelo Ibovespa, confirmando o papel dessas elétricas como porto seguro, sem deixar de gerar retornos consistentes.
Um mercado mais diversificado, e mais seletivo
Outro ponto relevante é a dispersão setorial das máximas. Apesar da liderança de energia e incorporadoras, dez setores distintos registraram pelo menos uma ação em máxima histórica, incluindo saneamento, telecomunicações, material rodoviário e refino.
O movimento indica que o mercado não se limita aos setores tradicionais: há uma ampliação do apetite por risco e seleção criteriosa de ativos, com investidores buscando companhias com fundamentos sólidos e potencial de valorização acima da média, um cenário perfeito para estratégias de stock picking (estratégia de investimento que consiste na seleção individual de ações de empresas com potencial de valorização).
O recado do mercado
O terceiro trimestre mostra que, mesmo em cenário de juros elevados, a Bolsa não está parada. O volume de recordes, concentrado especialmente em setembro, e a recuperação de setores prejudicados em 2024 indicam dinâmica seletiva e oportunidades táticas, reforçando que a atenção deve estar tanto em nomes defensivos quanto em empresas com sinais claros de recuperação operacional.
Em resumo: o mercado não perdeu o fôlego, apenas mudou o ritmo e o foco, e o investidor profissional precisa acompanhar com atenção para não perder as oportunidades de assimetria que surgem neste novo capítulo do Ibovespa.