Para quem investe, seja no curto, médio ou longo prazo, é preciso ter em mente que a política e seus desdobramentos são elementos (não os únicos) que devem ser acompanhados de perto, com a devida atenção. De preferência sem envolver nenhuma paixão e questões ideológicas.
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É verdade que, mesmo para quem tem alguma afinidade com o tema, não é algo simples identificar e antecipar quais são os potenciais riscos políticos e oportunidades que podem impactar a carteira de investimentos.
Pelo contrário, há diversas nuances em meio a vários ruídos, sinais trocados e reviravoltas em Brasília, que nem mesmo os mais experientes analistas políticos conseguem prever. Se recorrermos à academia, vamos perceber também que a própria Ciência Política não é considerada uma ciência exata em que encontramos fórmulas mágicas e todas as respostas para fazermos previsões infalíveis.
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Apesar dos desafios para se montar cenários políticos que vão impactar o mercado financeiro e respectivamente os seus investimentos, há peças que podem ser encaixadas neste intrincado puzzle (quebra-cabeça), que servem como um norte.
A ideia deste artigo é montar um timeline (linha do tempo) com algumas dessas peças, que podem contribuir por uma melhor percepção do que está por vir em 2025.
Antes de avançar, destaco que o recorte a seguir é realizado dentro de uma perspectiva de temas relacionados à macroeconomia doméstica.
Primeiro trimestre de 2025
Orçamento e novas medidas
Com o início das atividades no Congresso em fevereiro, os parlamentares retomam a discussão em torno do Projeto de Orçamento Anual de 2025 (PLOA). O projeto não foi votado no final de 2024 em razão das arrastadas discussões ocorridas em torno do pacote de medidas, para contenção dos gastos, do ministro Fernando Haddad, da Fazenda. Era preciso aguardar o texto final que seria aprovado pelos parlamentares para, a partir disso, ter uma referência de valores que seriam considerados no PLOA.
A questão é que, depois da aprovação de parte do pacote, surgiram diferentes números a respeito do tamanho do impacto das medidas. O ministério da Fazenda considera que, após a desidratação das propostas no Congresso, a capacidade de economia nos próximos dois anos caiu de R$ 71,9 bi para R$ 69,8 bi. Ou seja, R$ 2,1 bi.
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Há dentro do mercado financeiro, entretanto, analistas que apontam que o valor da desidratação é bem maior. Há inclusive economistas que questionam o tamanho da economia anunciado pela equipe da Fazenda.
Por que isso importa?
Ter clareza sobre esses números é importante porque eles darão um norte para os atores do mercado financeiro a respeito da urgência da elaboração de novas medidas, assim como sobre a possibilidade de possíveis alterações na meta de déficit primário. Hoje, temos uma densa nuvem de incerteza no horizonte fiscal.
Como vimos no final de 2024, ela veio junto com uma forte crise de credibilidade do governo, que ocasionou a disparada do dólar e dos juros futuros a patamares totalmente inesperados.
Só para lembrá-lo. O primeiro Boletim Focus de janeiro de 2024, que traz as expectativas de mercado, considerava que iríamos entrar em 2025 com um câmbio estável em US$ 5. A Selic estava projetada em 8,5%.
Desoneração
O governo terminou o ano com um bode na sala que pode chegar a R$ 45 bi de impacto nas contas da União, de acordo com cálculos da Fazenda. Trata-se da desoneração da folha de pagamento das empresas e dos municípios.
O benefício foi aprovado pelo Congresso sem ter uma fonte confiável de compensação, como determina as atuais regras. O ministro Haddad afirmou nas últimas semanas de 2024 que iria procurar o Supremo Tribunal Federal (STF), para verificar como a questão seria endereçada.
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Haddad disse em entrevista no dia 20: “Nós ainda estamos com essa pendência na nossa mesa. Isso deve ser providenciado pela AGU (Advocacia-Geral da União) antes do final do ano para entender os caminhos juridicamente viáveis. Uma vez que a compensação não aconteceu e ela passa a acontecer gradualmente ano que vem”.
Até o dia 30 de dezembro não foi anunciado o que seria feito com esse bode. O desfecho a respeito desse tema deve ficar para o começo de 2025.
A questão é de interesse dos economistas que olham para o equilíbrio fiscal porque tem potencial de impactar os cofres públicos, num ano em que permanecerão as dúvidas sobre o cumprimento da meta de déficit primário.
Governabilidade 1
No dia 3 de fevereiro será realizada a eleição para os próximos presidentes da Câmara e do Senado. Eles permanecerão no cargo até 2026. Os dois nomes mais cotados (deputado Hugo Motta e senador Davi Alcolumbre) devem chegar ao comando das respectivas Casas num clima amistoso com o Executivo.
A tendência é de os dois colaborarem com a agenda econômica. A dinâmica de votações no Congresso deve ser retomada, no entanto, apenas após o Carnaval, previsto para o início de março.
Governabilidade 2
Logo após a eleição para o comando da Câmara e do Senado, devemos ter uma dança das cadeiras na Esplanada dos Ministérios. Além da área de comunicação, hoje com o PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve fazer outras mudanças na equipe.
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A tendência, no entanto, é que a troca de ministros não contamine a governabilidade, mas possíveis ruídos podem trazer incertezas a respeito da celeridade da agenda econômica do governo, no Congresso.
Medidas econômicas
Há grande expectativa em relação ao envio das medidas que serão direcionadas à Reforma da Renda. Até o momento, o que foi colocado publicamente pela equipe econômica é a intenção de taxar quem recebe acima de R$ 50 mil, por mês. O foco serão os rendimentos oriundos de lucros, dividendos e investimentos isentos.
Neutralidade
A ideia do governo é utilizar a arrecadação para compensar a isenção do imposto de renda que passaria a ser de R$ 5 mil. As duas medidas (taxação e mudanças no IR) valeriam a partir de 2026.
Como destacamos em artigo do dia 2 de dezembro, há hoje dentro do Congresso um grande apetite para alterar a tabela de isenção do imposto de renda. O tema é bastante popular e pode trazer retornos políticos para os parlamentares em ano eleitoral – leia mais aqui.
Por outro lado, considero que não está claro qual vai ser a fonte de compensação dessa medida. Esse é um dos pontos que causa apreensão em alguns players do setor financeiro, que acompanham Brasília.
De acordo com a Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco Nacional), a ampliação da faixa de isenção do IR custaria de R$ 45 bilhões a R$ 50 bilhões por ano.
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É válido ter em mente que o Congresso ignorou completamente o projeto que ampliava a alíquota do JCP e da CSLL, proposto pelo governo para compensar a desoneração da folha das empresas e municípios.
No lugar, o Senado apresentou um saco de medidas compensatórias que não fica de pé. (Mais detalhes no item 2).
Segundo trimestre
PLDO 2026
O governo tem até o dia 13 de abril para encaminhar ao Congresso o Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentária de 2026. É no PLDO que são inseridas as metas e prioridades da administração pública federal para o ano subsequente.
A elaboração do PLDO de 2026 vai estar no radar em razão do histórico recente. No último mês de abril, o Executivo deu um primeiro sinal fraqueza do atual Marco Fiscal, quando propôs reduzir as metas de superávit primário para as contas públicas dos próximos anos.y
No PLDO de 2025, o governo alterou a previsão de superávit de 0,5% do PIB para uma meta fiscal zero. Para 2026, a equipe econômica propôs uma redução da meta de 1% do PIB para 0,25% do PIB.
Terceiro trimestre
Populismo Vs Fiscal
O governo federal tem até 31 de agosto para apresentar o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) ao Congresso Nacional. O PLOA é um instrumento que estabelece as receitas e despesas do governo para o ano seguinte.
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O foco aqui vai ser se o Executivo se renderá à velha e arriscada estratégia de ampliar gastos em ano eleitoral (2026), na tentativa de permanecer no poder. E se as amarras/gatilhos previstos no Marco Fiscal serão mantidas.
Caso o governo incline para um cenário de descontrole das despesas, a tendência é de termos uma reação negativa ainda mais forte da que vimos no final de 2024, quando o dólar chegou a bater na casa dos R$ 6,30. Caso o governo mantenha ancorada as expectativas em relação aos gastos, devemos ter um ambiente estável, mas dentro de um clima de neutralidade.
Quarto trimestre
Antessala
Os últimos três meses do ano de 2025 virão carregados com os acertos e erros do atual governo no campo macroeconômico.
Entraremos na antessala da disputa presidencial de 2026. Isso significa que, em outubro e novembro, os atores do mercado financeiro começarão a fazer as suas projeções sobre a possibilidade de permanência ou substituição do atual governo.
A foto de dezembro de 2024 tirada pela pesquisa Quaest revela qual é o atual sentimento de parte dos agentes do mercado financeiro em relação ao governo Lula. Segundo o instituto, a reprovação é de 90%. No último levantamento, feito em março, esse índice era de 26%.
O levantamento ouviu 105 gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão do mercado financeiro em fundos de investimento com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro entre os dias 29 de novembro a 3 de dezembro.
Para além da pesquisa, também tivemos um sinal excêntrico de como pode ser o comportamento de alguns atores do mercado no recente episódio em que o presidente Lula precisou realizar, pela segunda vez, uma cirurgia na cabeça. Após a notícia circular pelas principais agências, no último dia 10 de dezembro, coincidentemente, ou não, o dólar registrou queda, os juros futuros despencaram e a bolsa disparou.
Dentro do ambiente político alguns ingredientes devem ser adicionados à reta final de 2025. Acredito que neste ponto do calendário, diferentes players de centro direita e da direita começarão a se posicionar da forma mais clara e objetiva sobre o desejo de entrar na próxima disputa presidencial.
Essa peça vai movimentar a agenda do Congresso (formado por maioria de centro-direita), as alianças do governo (possível desembarque de algumas legendas) e o mercado, que aponta para uma margem alta de rejeição do atual governo e descrença da agenda econômica.
Renovação
De antemão, considero que Lula não deve estar no páreo. Como mostramos no artigo “Lula dá mais um sinal de que começa a vestir o figurino Biden”, ele tem apresentado todos os indicativos de que pretende fechar a sua trajetória política em 2026. Quem irá substitui-lo é um tema para um futuro artigo.
Também considero que o ex-presidente Jair Bolsonaro não conseguirá se livrar das amarras que criou para si, no campo da Justiça. O ambiente no Judiciário em Brasília é no sentido de deixá-lo como coadjuvante.
Ou seja, é muito provável que não veremos nem Lula nem Bolsonaro como candidatos em 2026. Vamos acompanhado.