O que os criptoativos ensinam

Diretor no Mercado Bitcoin desde 2018, Tota tem 23 anos de experiência no mercado financeiro. Agora no universo dos criptoativos, ele une o seu forte background em tecnologia e profundo conhecimento de produtos financeiros para desmistificar o mercado de ativos digitais.

Escreve mensalmente, às sextas-feiras

Fabricio Tota

Entenda a criptoeconomia em torno da rede do ethereum

O ETH é a segunda maior criptomoeda em valor de mercado, atrás apenas do bitcoin

O fundamento do ethereum é a inovação que a sua rede permite. Foi em torno de sua blockchain que tokens, NFTs, contratos autônomos, DeFis e muitas outras novidades foram construídas nos últimos anos. (Foto: Envato Elements)
  • Na mitologia grega, o Éter era descrito como o ar que os deuses do Olimpo respiravam
  • Se somarmos bitcoin e ether, teremos mais da metade da capitalização total do mundo cripto
  • Alguns críticos da criptoeconomia definem a falta de lastro dos ativos como o principal problema desse mercado

Por ser o precursor da nova economia digital, para muitos, o mundo dos criptoativos se resume ao bitcoin. De fato, a primeira criptomoeda tem um peso bastante elevado, com um valor de mercado que representa quase um terço da capitalização de toda a indústria. No entanto, a criptoeconomia vai muito além do bitcoin.

Quem está começando a olhar o universo cripto não pode deixar de lado o ether, a criptomoeda da rede do ethereum. O ETH é a segunda maior criptomoeda em valor de mercado. Se somarmos bitcoin e ether, teremos mais da metade da capitalização total do mundo cripto. Não é por menos que na carteira ideal de especialistas as duas criptomoedas sempre aparecem.

Na mitologia grega, o Éter era descrito como o ar que os deuses do Olimpo respiravam. No século XIX, tornou-se uma teoria da física – já desacreditada –, que o descrevia como a matéria que preenche o espaço. Foi essa teoria que inspirou um garoto de 19 anos, Vitalik Buterin, a chamar de ethereum a blockchain que ele descreveu num white paper de 36 páginas lançado em 2013.

Embora fosse um entusiasta do bitcoin, tendo criado aos 18 anos a bitcoin Magazine, Vitalik achava que era muito pouco usar uma tecnologia tão potente quanto a blockchain – esse éter da nova economia digital – com apenas uma criptomoeda. Na cabeça dele, a blockchain poderia ajudar a criar aplicações descentralizadas, ser utilizada em outros ativos financeiros e em aplicativos da internet.

As DAOs, organizações autônomas descentralizadas, o problema da escalabilidade do bitcoin e smart contracts são temas já presentes no artigo de Vitalik. E no centro de tudo está a blockchain. Enquanto o white paper de Satoshi Nakamoto que descreve o bitcoin não apresenta a palavra “blockchain” uma vez sequer, no do ethereum há 61 menções ao termo.

Parêntesis: para conhecer melhor essa história vale ler o livro Infinite Machine: How an Army of Crypto-hackers Is Building the Next Internet with Ethereum, da jornalista Camila Russo. A produtora de Ridley Scott comprou os direitos do livro para levá-lo às telas.

Alguns críticos da criptoeconomia definem a falta de lastro dos ativos como o principal problema desse mercado. Ao analisar o ETH, essa crítica cai por terra. O seu fundamento é a inovação que a sua rede permite. Foi em torno de sua blockchain que tokens, NFTs, contratos autônomos, DeFis e muitas outras novidades foram construídas nos últimos anos. Lá no Mercado Bitcoin temos criado tokens lastreados em contratos de energia, de consórcio ou precatórios usando a plataforma do ethereum como base.

Um dos grandes problemas enfrentados por blockchains é sua capacidade de processamento. O bitcoin, que nasceu como meio de pagamento, consegue processar 7 transações por segundo (TPS). No ethereum essa capacidade é de 30 TPS. Embora seja quatro vezes superior, essa taxa é muito lenta comparada à demanda de transações que a plataforma tem ou à capacidade da Visa para processar pagamentos, que é de 65 mil TPS.

Aí é que vem o pulo-do-gato do ethereum: a implantação de sua nova versão, a ethereum 2.0, que deve ser finalizada até o ano que vem. A plataforma passará de um sistema de validação de transações conhecido como proof of work (PoW) para o proof of stake (PoS), o que permitirá chegar a 100 mil TPS. Enquanto no primeiro a validação é feita por meio de mineradores, conforme o poder de processamento de suas máquinas; no segundo, os validadores são aqueles que têm ETH em stake, ou seja, travados em uma carteira.

Essa atualização tende a ter um impacto no preço do ETH, com o aumento da demanda e a diminuição na oferta da criptomoeda da rede ethereum. Pelo lado da demanda, a maior velocidade de processamento será um incentivo para usar a plataforma em novas soluções em DeFi, DAOs e tokens, entre outros. A atualização também terá um impacto na oferta. Isso porque os mineradores não serão mais remunerados com a emissão de novos ETHs.

Além de tudo isso, o ethereum 2.0 terá um impacto ambiental menor quando comparado ao excessivo gasto de energia da mineração na proof of work, ao tirar de cena o enorme volume de computadores usados no processo de validação das transações.

Se a nova economia digital tem ajudado a remodelar o mercado financeiro, a principal ferramenta para essa revolução é, sem sombra de dúvidas, a plataforma ethereum.