O que os criptoativos ensinam

Diretor no Mercado Bitcoin desde 2018, Tota tem 23 anos de experiência no mercado financeiro. Agora no universo dos criptoativos, ele une o seu forte background em tecnologia e profundo conhecimento de produtos financeiros para desmistificar o mercado de ativos digitais.

Escreve mensalmente, às sextas-feiras

Fabricio Tota

Por que o mercado cripto é cada dia menos dependente do bitcoin

A revolução dos tokens está acontecendo e vai democratizar os investimentos

Qualquer coisa pode ser tokenizada e essa deve ser a próxima grande revolução do mercado. (Foto: Envato Elements)
  • Para aqueles que ainda estão reticentes com os criptoativos, os tokens são uma boa porta de entrada, porque muitos estão atrelados a produtos reais
  • A tokenização é uma das ferramentas mais interessantes criadas pela economia digital, porque permite democratizar investimentos antes restritos a um seleto grupo de pessoas

Viatina-19. A palavra até parece o nome de um criptoativo, mas é de uma vaca nelore de 3 anos de idade. Além de imponente e linda, em um leilão no início de maio durante a Expozebu em Uberaba, metade da Viatina-19 foi vendida por R$ 3,9 milhões. É quase um recorde do setor. A outra metade continua nas mãos dos proprietários originais.

E o que um leilão de gado tem a ver com o mundo cripto?

Muita coisa. O comprador de Viatina-19 resolveu desembolsar esse preço por causa da sua linhagem e porque foi a grande campeã da Expoinel Minas de 2020 a 2022. Além disso, ela é jovem e deve passar a sua genética para os descendentes por um bom tempo. Ou seja, espera-se que ela tenha filhos –muitos!– que produzam mais carne no menor tempo possível. E que seus óvulos também permitam isso.

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Apesar de metade de Viatina-19 ter saído por uma fortuna, existe uma grande expectativa de retorno. Aí é que entra a nova economia digital. Para a maioria absoluta das pessoas, é simplesmente impossível pagar cerca de R$ 4 milhões por metade da nossa estrela do pasto. No entanto, elas poderiam comprar pedaços pequenos –não estou falando aqui de cortes de carne!–, por meio de tokens.

A tokenização é uma das ferramentas mais interessantes criadas pela economia digital, porque permite democratizar investimentos antes restritos a um seleto grupo de pessoas. Em vez de 50% da Viatina-19 por R$ 4 milhões, as pessoas poderiam comprar um token por R$ 100 ou um valor ainda menor. Além disso, por meio do token, os compradores conseguem acompanhar melhor o investimento, com tudo registrado e criptografado.

Como uma ação de uma empresa que paga dividendos, os investidores podem ser remunerados pelos ganhos obtidos com a reprodução da vaca. O sucesso de Viatina-19 certamente refletiria no valor do token. E numa eventual necessidade de recursos, o investidor poderia vender o token no mercado secundário.

É claro que existem riscos financeiros. No caso do gado, isso pode incluir uma doença e a morte prematura do animal, a queda do preço da carne ou até mesmo mudanças nos hábitos dos consumidores. Mas todo produto financeiro está sujeito a riscos, até mesmo a poupança. A vantagem é que esse risco está diluído entre os vários compradores.

Um outro lado brilhante da tokenização é a abertura que ela possibilita. Comecei esse texto usando o exemplo de uma vaca. Mas poderia usar obras de arte, direitos federativos de jogadores, imóveis, um hotel, empresas ou até campanhas beneficentes. Sim, tudo pode ser tokenizado, até a filantropia.

Existe ainda um aspecto ético. Certamente que vegetarianos ou veganos não se sentiriam bem em comprar um token de uma vaca que irá produzir animais perfeitos para o abate. Esse grupo, porém, poderia se interessar pelo token de uma empresa especializada em produtos veganos. Além do possível retorno financeiro, veganos e vegetarianos estariam apoiando uma causa que acreditam.

Para aqueles que ainda estão reticentes com os criptoativos, os tokens são uma boa porta de entrada, porque muitos estão atrelados a produtos reais. Isso dá mais segurança para os que adotam o argumento de que falta lastro para os criptos. De um lado, temos um produto digitalmente rastreável e criptografado. Do outro, um ativo real.

Mas nem sempre esse lastro é real. O mundo dos games e do metaverso estão aí para provar isso. Já é incalculável o número de jogos que remuneram com um token os participantes que avançam nas etapas. Ou então os que cobram tokens para os fãs participarem. E há aqueles que fazem as duas coisas: cobram e remuneram.

No metaverso, terras, roupas, carros são comprados com tokens. Como é possível saber se um token como o ApeCoin, criado pela Yuga Labs, a casa por trás da coleção de NFTs Bored Ape Yacht Club, para o seu metaverso, o Otherside, vai se valorizar?

No caso do aplicativo de saúde Stepn, os usuários são premiados com tokens por se movimentar mais. O lastro seria a receita com venda de terrenos ou o número de usuários, no caso do ApeCoin? E no do Stepn? Os passos que os clientes dão?

Com isso, o mercado cripto é cada dia menos dependente das criptomoedas, sobretudo a mais importante delas, o bitcoin. Só aqui no MB já tokenizamos mais de R$ 200 milhões em ativos. Ainda é pequeno dado o tamanho potencial desse mercado. Mas sem dúvida alguma será algo que transformará o mercado de investimentos em muito pouco tempo.