O Brasil na COP30: se não for protagonista, será fornecedor de risco
Conferência global em Belém consolida a transição climática como variável financeira e força investidores a recalibrar portfólios diante do novo custo do carbono
O Brasil na COP30: Se não for protagonista, será fornecedor de risco. | Timon - stock.adobe.com
A COP30 começou em Belém cercada de discursos sobre sustentabilidade, mas o que está em jogo é a rentabilidade. Pela primeira vez, o debate climático entra direto na planilha do investidor. Financiamento verde, precificação de carbono e metas de transição deixaram de ser compromissos de imagem e se tornaram variáveis que influenciam valuation, spreads e múltiplos de empresas listadas. O evento define as regras que vão determinar o custo de capital e o fluxo de recursos para as próximas décadas. E como anfitrião, o Brasil está sendo testado: ou se consolida como protagonista da nova economia de baixo carbono ou continuará sendo visto como fornecedor de risco climático e regulatório.
Antes da abertura, o país apresentou um roteiro para escalar o financiamento climático global para US$ 1,3 trilhão por ano, com o objetivo de destravar liquidez e atrair fundos de infraestrutura verde e crédito de transição. Mas o mercado é pragmático: promessa não paga dividendo. Investidores querem governança e execução. O novo marco do carbono, aprovado pelo Congresso, é o ativo mais relevante dessa conferência. Se bem implementado, pode reduzir custo de capital e abrir um mercado regulado capaz de precificar emissões, dar previsibilidade e ampliar o crédito corporativo. Cadeias como energia, papel e celulose, química, logística e siderurgia podem recalibrar CAPEX, margens e valuation sob uma estrutura de carbono transparente.
A janela, porém, é curta. A partir de 2026, a União Europeia passará a cobrar certificados de emissões embutidas em produtos importados. O impacto será direto sobre margens e fluxo de caixa de exportadores brasileiros de aço, cimento, alumínio e fertilizantes. O risco climático virou risco financeiro. Ignorar o custo do carbono agora significa perder competitividade e valor de mercado. Fundos globais já ajustam carteiras para incluir métricas de emissões, e o investidor local precisa seguir o mesmo caminho, recalculando o retorno ajustado ao risco ambiental e revisando a exposição a setores intensivos em carbono.
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O BNDES tenta converter discurso em pipeline ao estruturar fundos de descarbonização, restauração e energia limpa. Se conseguir combinar lastro, retorno e rastreabilidade, o país pode inaugurar um novo ciclo de crédito privado em infraestrutura verde, com debêntures de transição, sustainability-linked loans e FIDCs de energia limpa. O movimento não é ideológico. É eficiência de capital. Governança climática e transparência regulatória passam a ser determinantes de custo de funding.
A diplomacia também se entrelaça ao mercado. O Brasil tenta liderar a criação de padrões internacionais de medição e verificação de emissões, o que reduziria risco jurídico e baratearia o funding externo. Investidores institucionais exigem disclosure de resultados auditáveis, e o greenwashing virou passivo reputacional. A convergência entre política climática e regulação financeira é o próximo filtro de credibilidade. Quem não atender perde acesso a capital.
Mas há rachaduras. A preparação da conferência expôs gargalos de infraestrutura e fragilidade de execução. Para o investidor, isso se traduz em prêmio de risco mais alto. O discurso verde só gera retorno se vier acompanhado de estabilidade regulatória, segurança jurídica e coerência fiscal. Sem esses pilares, o capital continuará buscando destinos com menor volatilidade.
O mapa de oportunidades, contudo, é claro. Empresas com metas críveis de redução de emissões captam a taxas menores e se valorizam no longo prazo. Setores ligados à energia renovável, biometano, eficiência industrial, manejo florestal e logística de baixo carbono devem concentrar o fluxo de recursos. Já companhias sem plano de transição seguirão negociadas com desconto estrutural.
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A COP30 é, em essência, um teste de credibilidade financeira. O Brasil precisa transformar o discurso dos trilhões climáticos em projetos bancáveis, comparáveis aos padrões internacionais. A liderança será medida por métricas objetivas como governança, transparência e retorno. O investidor atento deve atualizar seus modelos de valuation com o preço doméstico e externo do carbono, testar a sensibilidade de margem e incorporar metas ambientais nos planos de longo prazo. O país pode sair de Belém com um prêmio de risco menor e maior entrada de capital, mas apenas se a agenda climática for tratada como o que realmente é: uma política de investimento.