

A decisão do ministro Alexandre de Moraes em manter quase todo o decreto do governo que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi mais do que uma interferência técnica, foi um ato político.
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A decisão do ministro Alexandre de Moraes em manter quase todo o decreto do governo que aumentava o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi mais do que uma interferência técnica, foi um ato político.
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Ao contrariar o Congresso, que havia derrubado a decisão dias antes, Moraes peitou o Legislativo, redesenhou a correlação de forças em Brasília e reacendeu uma crise institucional que, a essa altura, já deixou de ser silenciosa. E como em toda crise institucional brasileira, a conta sempre chega no mercado. Só que, desta vez, para quem está posicionado corretamente, ela pode chegar em forma de lucro.
O que está acontecendo é simples de entender: o Congresso derrubou um decreto presidencial, algo que não acontecia há 33 anos. Um gesto claro de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já não governa mais o Brasil com autoridade plena.
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Quando um decreto é revogado por maioria, o que se vê é um Executivo fragilizado. E aí entra o Supremo. Moraes, ao restabelecer a validade do decreto (exceto no trecho sobre o risco sacado), devolve ao Planalto parte do controle, mas também compra uma briga direta com os parlamentares.
Na vida, nada une mais as pessoas do que um objetivo comum. A reação já é previsível: o Legislativo deve travar ainda mais as pautas do governo e aumentar o volume de projetos que ampliam os gastos públicos.
A meta é sufocar politicamente o Planalto e isolar o Supremo Tribunal Federal (STF), numa espécie de vendeta institucional que pode durar até as eleições de 2026. E o resultado disso? Caos fiscal. O governo, com medo de se tornar irrelevante, vai continuar gastando. O Congresso, para fragilizar o Executivo, vai liberar ainda mais verba. E o Supremo, querendo ou não, agora faz parte do jogo. É o cenário perfeito para que a taxa Selic permaneça alta por muito mais tempo do que o mercado esperava.
Com a inflação ainda resistente, o dólar pressionado e a dívida pública crescente, o Banco Central (BC) não terá espaço para corte de juros. Aliás, qualquer tentativa de flexibilização sem um mínimo de previsibilidade fiscal seria um tiro no pé.
A verdade é que a Selic não está alta por gosto, mas por necessidade. E ela não vai cair tão cedo. Quem estava começando a migrar para a renda variável, apostando em um ciclo de retomada, deve repensar. A Bolsa brasileira não anda em ambiente de insegurança institucional. O investidor estrangeiro segura o capital, o investidor local busca proteção e o mercado fica estagnado, esperando que algum dos lados da briga abaixe a guarda, o que, no curto prazo, parece improvável.
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Mas é justamente nesse tipo de ambiente que a renda fixa se torna protagonista. Títulos públicos, Certificados de Depósitos Bancários (CDB), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), debêntures (títulos de dívida) e até operações estruturadas ganham mais apelo. A lógica é simples: com o caos político, os prêmios sobem. E quem entende isso e age com estratégia, lucra com o desgoverno.
A decisão de Moraes, ao garantir a arrecadação do governo via IOF, até oferece um pequeno alívio para o caixa público, mas ela vem ao custo de um ambiente institucional mais hostil, onde Executivo, Legislativo e Judiciário estão cada vez mais em guerra aberta.
E nesse tipo de cenário, o investidor precisa fazer o que o governo não faz: pensar com a cabeça fria, agir com disciplina e proteger seu patrimônio com base nos fatos, não nas promessas.
O Brasil, mais uma vez, mostra que o caos é seu habitat natural. E quem sobrevive a ele não é quem torce. É quem entende o jogo e se antecipa. Alexandre de Moraes pode não ter pensado nos investidores quando tomou sua decisão sobre o IOF. Mas, sem querer, acabou ajudando quem sabe lucrar com a bagunça.
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