- Hoje, observamos uma mudança de paradigma: a alocação total de ativos e a construção de estratégias personalizadas alinhadas ao perfil de investimento do cliente tornaram-se fundamentais
- Com base em uma perspectiva global, o momento do mercado brasileiro reflete o que os Estados Unidos vivenciaram há cerca de 15 anos
- Uma tendência notável surgiu nesse período: a transição para o modelo de remuneração de assessoria com taxas fixas
Nos últimos anos, a indústria de gestão de patrimônio no Brasil tem passado por significativas transformações. Até poucos anos atrás, os assessores atuavam como facilitadores na escolha de produtos para os clientes. Hoje, observamos uma mudança de paradigma: a alocação total de ativos e a construção de estratégias personalizadas alinhadas ao perfil de investimento do cliente tornaram-se fundamentais. Não se trata apenas de oferecer conselhos de investimento, já que os clientes buscam profissionais que possam cuidar de sua vida financeira como um todo.
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Estamos em um momento favorável para darmos sequência e continuidade às melhores práticas globais de gestão de recursos para o Brasil, visando impulsionar o ecossistema local. Cada vez mais o mundo de gestão de patrimônio – especificamente no que diz respeito a wealth management e family offices – está em evolução em suas propostas de valor e em seus portfólios. Já vemos uma redução das barreiras de acesso às soluções locais e offshore.
Com base em uma perspectiva global, o momento do mercado brasileiro reflete o que os Estados Unidos vivenciaram há cerca de 15 anos. Uma tendência notável surgiu nesse período: a transição para o modelo de remuneração de assessoria com taxas fixas.
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A remuneração baseada em taxas fixas representa um movimento em direção ao alinhamento de interesses e transparência para o investidor. Nesse modelo, os assessores já não recebem comissões variáveis, mas sim um percentual fixo sobre o patrimônio investido, promovendo uma relação mais estável e focada nos interesses do cliente. Essa mudança também levou os profissionais a assumirem um papel mais abrangente, não se limitando apenas ao aconselhamento de investimentos, mas envolvendo-se em áreas como assessoria tributária, planejamento sucessório e financeiro.
Analisando as origens dessas mudanças, é evidente que eventos marcantes nos EUA desempenharam um papel crucial. Houve dois casos em que os clientes perderam muito dinheiro: a bolha dot.com e a crise financeira de 2008, que resultaram em revezes para os investidores, levando a um questionamento do papel das assessorias e à necessidade de maior transparência. Reguladores começaram a examinar de perto as práticas dos grandes gestores de patrimônio, incentivando a adoção de modelos com taxas fixas e portfólios modelo, visando padronização e menor dispersão entre as carteiras.
A experiência americana demonstrou que a transição para taxas fixas trouxe benefícios para todas as partes. As receitas tornaram-se mais recorrentes e estáveis, proporcionando benefícios para os assessores. Além disso, eles perceberam que, ao terceirizar as decisões de investimento para gestoras, podiam focar mais nas relações com os clientes, economizando tempo significativo.
No cenário global de gestão de recursos e serviços financeiros, algumas tendências se destacam. A estratégia “barbell”, combinando indexados e alternativos, ganha espaço nos portfólios dos gestores. Estratégias indexadas são cada vez mais usadas como blocos de construção eficientes para portfólios ativos. Observamos ainda um aumento significativo no interesse por ativos privados, especialmente entre os segmentos de alta renda.
As tendências atuais indicam uma transformação profunda na gestão de patrimônio, impulsionada por eventos globais e uma busca constante por maior transparência, alinhamento de interesses e eficiência operacional. O Brasil está trilhando um caminho semelhante ao vivido pelos EUA e o setor continuará evoluindo para atender às demandas cada vez mais sofisticadas dos investidores.
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