A investidora independente

Luciana Seabra é analista e planejadora financeira certificada (CNPI e CFP®), especialista em fundos e previdência. Fundou a Indê Investimentos, que tem como princípio a ausência de vínculo com corretoras, gestoras ou bancos. Foi premiada pela CVM pelo seu trabalho de educação financeira a investidores. Está nas redes sociais como @seabraluciana, no Instagram e no YouTube, e @luciana_seabra, no Twitter

Luciana Seabra

Atmos e Dynamo: as portas da esperança para investimentos na Bolsa?

Fundos de ações podem ser opções para investidores que miram no longo prazo, mas cuidados serão necessários

Dois dos principais fundos de ações abrirão suas portas para investidores pela primeira vez desde 2020 – B3 19/10/2021 REUTERS/Amanda Perobelli
  • Nenhum cliente dos fundos de ações abertos por Atmos ou Dynamo que tenha seguido a prescrição perdeu dinheiro ou ficou atrás do CDI
  • Na janela de 12 meses, Atmos e Dynamo estão empatados com prejuízo de 31%, bem mais do que os 13% de queda do Ibovespa
  • A abertura dos dois fundos, que não se via desde março de 2020, é um sinal sim de que há oportunidades na Bolsa

“Complete a frase: quando os fundos de ações estrelados Dynamo e Atmos abrem no mesmo semestre é porque a Bolsa está…” – tuitei recentemente, zero iludida de que seria um retorno tranquilo. A FinTwit (como ficou conhecida a comunidade de finanças na rede social) adora uma polêmica.

Logo vieram os ataques, a maior parte na linha: “porque os fundos perderam muitos cotistas”, “porque os fundos estão sofrendo saques”, “porque houve muitos resgates”. Não é verdade para nenhum dos dois fundos.

A resposta certa para mim é clara: o fato de dois fundos com histórico excepcional, a maior parte do tempo fechados, abrirem as portas no mesmo semestre sinalizam que a Bolsa está recheada de oportunidades para quem tem olhar de longo prazo.

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É claro, precisa ler a bula para se beneficiar dos produtos: esses gestores, a nata da seleção de ações no Brasil, escolhem empresas a dedo na expectativa de ganhar com elas em um horizonte de pelo menos cinco anos. O que vai acontecer neste ano ou no próximo pouco importa pra eles – aliás, eles estão cientes de que a Bolsa pode cair mais.

Nenhum cliente dos fundos de ações abertos por Atmos ou Dynamo que tenha seguido a prescrição – passado exatos cinco anos no fundo – perdeu dinheiro ou ficou atrás do CDI. Nenhum.

No caso de Atmos, nenhum também perdeu para o Ibovespa. Para Dynamo, mais antiga, com 20 anos de vida, o cliente que investiu por cinco anos só ficou um pouco atrás do índice se resgatou em uma curta janela entre fim de 2007 e começo de 2008 – mas, certamente, ficou feliz, com ganhos de mais de 400%. Todos os demais bateram a média do mercado.

Ou seja, todas as outras vezes que Atmos e Dynamo colocaram clientes para dentro conseguiram comprar ações baratas o suficiente para rentabilizarem o dinheiro no longo prazo.

O problema é que o estudo de janelas móveis – que mostra quanto ganhou qualquer cliente que ficou por um determinado período no fundo – é pouco disseminado. Ele dá lugar ao olhar para o ganho de curto prazo, estimulado por quem atende o cliente na ponta.

Na janela de 12 meses, Atmos e Dynamo estão empatados com prejuízo de 31%, bem mais do que os 13% de queda do Ibovespa no período.

A abertura dos dois fundos, que não se via desde março de 2020, é um sinal de que há oportunidades na Bolsa.

O que me preocupa? É que esse tipo de resposta do público faça gestores excepcionais se afastarem cada vez mais da oportunidade de democratizar seus produtos. Teria sido muito mais fácil divulgar a captação somente entre clientes institucionais, em vez de permitir o acesso direto de investidores qualificados ou a criação de fundos espelho por plataformas com mínimos menores.

Depois a mesma FinTwit reclama dos tíquetes mínimos elevados. Eu também preferia que fossem menores e defendo muito isso, publicamente e nos bastidores – mas, enquanto não formos capazes de provar que estamos preparados para investir para o longo prazo, fica difícil sustentar a defesa.

Entendo que gato escaldado tem medo de água fria, mas presumir que o mercado financeiro é sempre o vilão não ajuda em nada – e até atrapalha. Tem muito joio por aí, mas também tem trigo.