A investidora independente

Luciana Seabra é analista e planejadora financeira certificada (CNPI e CFP®), especialista em fundos e previdência. Fundou a Indê Investimentos, que tem como princípio a ausência de vínculo com corretoras, gestoras ou bancos. Foi premiada pela CVM pelo seu trabalho de educação financeira a investidores. Está nas redes sociais como @seabraluciana, no Instagram e no YouTube, e @luciana_seabra, no Twitter

Luciana Seabra

Por que não investir só em renda fixa ao juro de 13,75% ao ano?

Um portfólio diversificado historicamente funciona muito bem em janelas longas de tempo

Se seu portfólio está diversificado, é provável que esteja no campo positivo no acumulado de 2022. Foto: Envato Elements
  • A história mostra que os mercados são cíclicos. Ganha quem fica posicionado com o balde na mão até que a chuva venha. Fugir para se proteger te expõe ao risco de perder a dança na chuva
  • É comum investidores perguntarem se não é melhor esperar dias mais tranquilos para investir na Bolsa. Acontece que, se é que existem dias tranquilos, não será neles que as ações vão subir
  • A boa notícia é que você não precisa ter uma bola de cristal para investir. Você só precisa ter paciência

Se tivéssemos enchido uma mesa de bar com investidores bem informados na véspera do segundo turno, posso apostar que a maioria diria que a Bolsa ia cair e o dólar subiria na segunda-feira que se seguisse à eleição de Lula. Aconteceu o contrário.

Alguns dos meus amigos de mercado vão dizer agora que não, que sempre souberam que “no primeiro dia a Bolsa ia subir e o dólar subir, mas que no longo prazo blá-blá-blá”. Sim, retrospectivamente sempre damos um jeito de fazer parecer óbvio. Nem todo mundo tem maturidade suficiente para lidar como uma realidade difícil: não sabemos prever o futuro.

Se você está aí com um portfólio bem selecionado e diversificado, incluindo Bolsa aqui e lá fora, talvez sinta frustração à essa altura ao olhar para a grama do vizinho. Aquele seu amigo que se diz conservador e tem todo o patrimônio aplicado na renda fixa brasileira pós-fixada está sorrindo de orelha a orelha com seus 10% acumulados em 2022 até aqui, como quem diz: “eu avisei pra você não se meter com esses investimentos de risco”.

Se seu portfólio está diversificado de verdade, é bem provável que esteja, no consolidado do ano, no campo positivo. Mas talvez esteja atrás do CDI. A minha carteira pessoal, com fundos selecionados, por exemplo, está um pouco atrás do CDI no ano, se aproximando dele nos últimos dias. Já em janelas maiores de tempo, supera o referencial.

Uma boa quantidade de multimercados, com apoio de uma posição em alta de juros no mundo, brilham pelo lado positivo no ano, com alguns, como Vista, SPX, Absolute, Legacy e Ibiuna entregando mais de duas vezes o CDI.

Por outro lado, vários dos mais tradicionais fundos de ações brasileiros, com histórico excepcional, estão sofrendo bastante no curto prazo. Se você tem uma fatia em Bolsa americana, idem.

E daí o primeiro pensamento, naturalmente, é que ter corrido risco com uma parte do portfólio não valeu a pena no ano, dada a alternativa: os juros de dois dígitos na renda fixa.

Quanto mais a Bolsa pesa na sua carteira – e quanto mais ela é parecida com as dos gestores de melhor desempenho histórico no Brasil, ou seja, sem Petrobras e afins – maior sua inveja do vizinho conservador. Porque é bem provável que você tenha ficado para trás neste ano até aqui.

Por que te digo com convicção que, olhando hoje para frente, não trocaria minha carteira diversificada de fundos pela do vizinho por nada?

Porque, com seu portfólio diversificado, sem um peso exagerado em Bolsa (minha alocação estrutural tem 30% em fundos de ações), você provavelmente está perto do CDI. A sua diferença para o seu vizinho é que você ganhou praticamente o mesmo que ele, mas se expôs à possibilidade de ganhar muito mais. E segue se expondo.

Para mim, é uma troca aceitável: por meio da diversificação, corro risco de ficar atrás do CDI no curto prazo, em prol de perseguir ganhos muito maiores do que ele no longo. Desprendo uma mão do referencial das aplicações conservadoras para tentar alcançar algo muito maior.

A história mostra que os mercados são cíclicos. Ganha quem fica posicionado com o balde na mão até que a chuva venha. Fugir pra dentro de casa pra se proteger te expõe ao risco de cochilar e perder a dança na chuva.

É comum investidores me perguntarem se não é melhor esperar dias mais tranquilos para investir na Bolsa ou em outros tipos de ativos de alto risco. Acontece que, se é que existem dias tranquilos, não será neles que as ações vão subir. Provavelmente terá sido antes de você perceber que eles chegaram.

O que se seguiu ao resultado do segundo turno foi mais uma grande lição de que não sabemos quando virá a alta dos ativos de risco.

A boa notícia é que você não precisa ter uma bola de cristal para investir. Você só precisa ter paciência. Um portfólio diversificado historicamente funciona muito bem em janelas longas – mais de cinco ou dez anos. Este tem sido um ano difícil para ele. Mas é apenas um ano.

Diga para seu vizinho que quem ri por último ri melhor. E deixe para comparar a sua grama com a dele na aposentadoria.