- Muitos dos melhores fundos têm capacidade limitada e, por isso, dificilmente serão tema daquela mensagem insistente do assessor
- O bom gestor está ciente de que seu produto é escasso e, por isso, paga menos comissão para ser distribuído. Sendo assim, corretoras e bancos têm um conflito caro: costumam ganhar menos dinheiro quando clientes escolhem um bom fundo
- Excelentes fundos são como “figurinhas brilhantes", aquelas que você não acha facilmente na primeira ida à banca. Montar um bom portfólio é como preencher um álbum, algo que não é feito em uma única tacada
Sabe aquele fundo que o gerente ou assessor oferece a você de forma espontânea? Ou que aparece em destaque no site da corretora? É neles que a maior parte das pessoas investe. Preciso dizer algo importante: muito provavelmente é um produto ruim. E daí vem grande parte do preconceito com os fundos de investimento.
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Os bons fundos de verdade são oferecidos como aqueles 10 reais que sua avó te dava no Natal: de forma discreta, nos bastidores.
Antes de seguir, o que é um bom fundo de verdade? De forma simplificada, um que tenha excelente histórico quantitativo em horizontes longos e também um bom aspecto qualitativo, com uma equipe de bons profissionais trabalhando juntos há bastante tempo.
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E por que os melhores fundos são com frequência oferecidos de forma discreta? Alguns nem chegam a ir para a plataforma, é preciso pedir para o assessor ou gerente. Outros são colocados no aplicativo do banco ou corretora, mas jamais serão o alvo daquela mensagem insistente do assessor. Isso acontece porque eles não têm capacidade infinita. Alguns passam uma boa parte do ano fechados – outros não recebem clientes por muitos anos.
Uma vez meu dentista fez esse protesto: “Por que fundo fecha? Não deveria ser do interesse do gestor colocar mais clientes para dentro e ganhar mais taxa de administração?”. Eu, que tinha passado semanas tentando um horário na agenda dele, devolvi rapidamente: “Por que você não abre mais horários na agenda? Não deveria ser do seu interesse ganhar mais dinheiro com consultas?”.
Meu dentista entendeu na hora. Ele não aceita mais pacientes para não piorar a qualidade do serviço. O mesmo vale para os fundos. Algumas estratégias – como o investimento em empresas de menor capitalização de mercado – são impossíveis de serem replicadas com capital muito grande. O próprio movimento de compra e venda do gestor afetaria os preços, como um elefante se movendo em uma loja de cristais.
Muitos bons fundos têm pelo menos uma estratégia ganhadora sem escala infinita. E, por isso, fecham o produto de tempos em tempos para evitar que o retorno para quem já investe seja prejudicado. Ou seja, um bom fundo é um item escasso.
E por que os melhores fundos não pulam na sua frente quando abrem as portas? Para entender isso, você precisa compreender como é remunerada a corretora ou o banco que distribui o fundo. O gestor, responsável por decidir como alocar o dinheiro, repassa um pedaço da taxa de administração para o distribuidor, é o chamado rebate.
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O bom gestor está ciente de que seu produto é escasso. E, por isso, paga menos comissão para ser distribuído – alguns não pagam nada. De forma geral, o gestor menos experiente ou com histórico de longo prazo pior paga mais rebate. Sendo assim, quem atende você tem um conflito claro: ganha menos dinheiro quando indica um fundo bom.
Pelo que vejo dos meus clientes, gerentes e assessores costumam avisar dos melhores fundos para quem tem patrimônio mais alto ou uma relação mais dura com a corretora, em geral pessoas com mais educação financeira. Quando percebe que não vai conseguir segurar o cliente se continuar oferecendo produtos ruins, o assessor ou gerente parte para os mimos – como a lembrança de abertura de um bom fundo – a fim de evitar perdê-lo para a concorrência.
Por isso, se quer investir por meio de fundos, você precisa ajustar sua estratégia.
Costumo chamar excelentes fundos de “figurinhas brilhantes”, aquelas que você não acha facilmente na primeira ida à banca. Montar um bom portfólio é como preencher um álbum de figurinhas, algo que não é feito em uma única tacada. Há de se ter um pouco de paciência, aproveitando as aberturas dos produtos escassos e evitando cair nas armadilhas que pulam à sua frente o tempo todo.