Descomplicando os investimentos

Luis Cláudio é Diretor Geral da Ágora Investimentos. Pós-graduado em mercado de capitais, ele soma mais de 35 anos de experiência no mercado financeiro. O seu objetivo é ajudar as pessoas que querem investir para concretizarem seus objetivos financeiros por meio da educação, análise e acesso à produtos de maneira acessível e descomplicada.

Escreve na primeira quarta-feira de todo mês.

Luis Cláudio Freitas

Como avaliar as oportunidades na bolsa de valores?

Fuja dos grandes “especialistas” que aparecem por aí

(Foto: Envato Elements)
  • Investir em ações desperta o interesse de muitos
  • Mas como identificar as melhores oportunidades ou ainda, como avaliar as variáveis que possam embasar a tomada da melhor decisão da hora de investir no mercado de ações?
  • Algumas dicas para isso são: acompanhar os relatórios elaborados por analistas certificados no mercado, sob a ótica da análise fundamentalista de cada empresa listada em bolsa ou ainda, conversar com seu assessor de investimentos

“A bolsa está super barata. Ganhei muito dinheiro comprando ações. Invistohá anos e sempre me dei bem!”. Já ouviu algumas dessas frases? Talvez de algum vizinho, familiar ou viu no Instagram? Pois é, investir em ações desperta o interesse de muitos, talvez pela expectativa de retorno rápido. Se esse é o seu objetivo, vamos com calma.

Tenho a convicção que o investimento em ações é super importante para uma estratégia diversificada e, é claro, uma oportunidade de aumentar seu retorno potencial a longo prazo. Nas últimas semanas, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, acumulou forte valorização de 9% só no mês de junho e alta de 7,6% no primeiro semestre do ano.

Um ganho interessante, não é? Curiosamente, são nesses momentos que a bolsa sobe…e sobe também o interesse do investidor. As ações se valorizam, o assunto vira manchete e aí o investidor menos atento vai na “onda” e também passa a comprar ações. É aí que mora o perigo!! Sabe a sensação de chegar no fim da festa?

Se você está lendo isso e está pensando em comprar ações, fique tranquilo. Meu objetivo não é sinalizar que a alta da bolsa “já foi” ou que esse barco já partiu. Pelo contrário. Nosso mercado de ações é grande, com inúmeras possibilidades de investimentos e, em geral, ainda temos ações descontadas e com bom potencial de valorização.

Que existem oportunidades interessantes, não há dúvida. Mas como identificá-las e avaliar as variáveis que possam embasar a tomada da melhor decisão na hora de investir. Uma boa dica é acompanhar os relatórios elaborados por analistas certificados no mercado, sob a ótica da análise fundamentalista de cada empresa listada em bolsa ou ainda, conversar com seu assessor de investimentos, que certamente poderá lhe auxiliar na busca dessas informações.

O que é análise fundamentalista?

A análise fundamentalista é aquela que estuda a situação financeira, econômica e as perspectivas para o setor em que a empresa está inserida. Ela tem como objetivo determinar o “preço justo” das ações e como a companhia pode se desenvolver no futuro, com base em projeções de resultados – nesse caso, como essa performance impactará o valor de suas ações.

Como são projeções, é natural que possa haver uma divergência entre as opiniões dos analistas responsáveis por esse tipo de estudo, considerando as diferentes premissas utilizadas por cada profissional. Afinal, estamos tratando de um mercado cujas variáveis mudam (como, por exemplo, câmbio, juros, expectativas para o PIB), além de diversos fatores que podem ser diferentes para cada empresa analisada.

Quem é credenciado para essas análises?

Esse ponto é muito importante: apenas analistas que possuam o CNPI – Certificação Nacional do profissional de Investimento, administrado pela Apimec – associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais, podem realizar recomendações envolvendo ativos negociados na bolsa de valores, como ações, fundos imobiliários, ETFs, entre outros. Fuja, portanto, dos “grandes especialistas” que aparecem por aí.

E qual o “produto final” dessa análise?

Todo esse trabalho de análise reflete um direcionamento, através da opinião dos analistas, tanto para o investidor que deseja se posicionar ou aumentar sua posição no mercado de ações, como também para quem já tem uma carteira montada e precisa tomar uma decisão, como aumentar, reduzir ou encerrar a exposição em determinadas ações.

Não se esqueça que o trabalho sério de análise envolve um processo longo de estudo, onde são analisados os dados financeiros da empresa, do setor em que atua, além das condições econômicas. Também são fundamentais para o entendimento sobre a empresa analisada a percepção sobre concorrência e a capacidade de gestão. Lembre-se que uma empresa é feita por pessoas e são as boas pessoas que fazem a diferença para um negócio prosperar.

Em geral, os relatórios trazem uma recomendação de compra ou venda para os ativos, e também o “preço-alvo” para aquela ação, considerando um prazo pré-determinado.

As análises servem de base também para a elaboração de relatórios específicos sobre determinada companhia, setor ou ainda, para a definição das “Carteiras Recomendadas de ações”, de bancos e corretoras.

E como ter acesso a esse tipo de conteúdo?

Os relatórios de análise fundamentalista, em sua maior parte, são facilmente acessados através das páginas das corretoras de valores, casas de investimento e até mesmo bancos. Em alguns casos, eles são disponibilizados de forma gratuita e outras, através de pagamento de pacotes de assinatura.

Existem também empresas dedicadas à exclusivamente à geração de conteúdos de análise, que são casas de análise independente. Por fim, ao analisar um relatório, é importante sempre conferir se os mesmos foram elaborados por pessoas certificadas, que, obrigatoriamente e por legislação, devem trazer a identificação dos profissionais responsáveis pela elaboração dessas análises.

Se não tiver, não confie! Existem muitas pessoas dando dicas no mercado e que não são preparadas. Questione sempre a qualificação desses profissionais e sua certificação, e não fique no famoso “achometro”, a “dica que me deram” ou “fiquei sabendo”, pois no mercado de renda variável há muita volatilidade e, mesmo profissionais qualificados podem não trazer os resultados esperados. Como comentei anteriormente, há uma série de fatores para que a projeção esperada se concretize!

E, para responder a pergunta objeto da coluna deste mês, em um cenário onde projeta-se a redução da taxa de juros, é natural que os investidores busquem por alternativas para diversificar seus portfólios, dando atenção especial à parcela de renda variável que deve fazer parte de um portfólio balanceado de investimentos.

Para esse objetivo, não deixe de procurar a ajuda de profissionais para uma tomada de decisão. Analistas, profissionais de mesa de operações de corretoras e especialistas de investimentos certamente irão lhe auxiliar na no entendimento sobre as melhores oportunidades para a composição dessa parcela em seu portfólio. Como comentei, algumas corretoras disponibilizam carteiras recomendadas de ações que já contam com essa análise fundamentalista. Caso não deseje seguir as recomendações comprando as ações individualmente, também existem fundos de investimentos específicos que seguem as carteiras recomendadas de ações.

Nunca é demais reforçar: seu apetite a risco e perfil de investidor devem sempre ser considerados.

Um abraço e até a próxima!