Descomplicando os investimentos

Luis Cláudio é Diretor Geral da Ágora Investimentos. Pós-graduado em mercado de capitais, ele soma mais de 35 anos de experiência no mercado financeiro. O seu objetivo é ajudar as pessoas que querem investir para concretizarem seus objetivos financeiros por meio da educação, análise e acesso à produtos de maneira acessível e descomplicada.

Escreve na primeira quarta-feira de todo mês.

Luis Cláudio Freitas

O que você precisa saber para investir no exterior sem sair do Brasil

Investir no exterior é algo simples e tem se tornado cada vez mais frequente. Tire todas as suas dúvidas

A principal vantagem de investir em ativos fora do país é a diversificação. Foto: Envato
  • A principal vantagem de investir em ativos fora do país é a diversificação
  • Assim como no mercado brasileiro, os investimentos no exterior também estão expostos aos riscos daquele país ou mercado

Embora pareça difícil e até complicado, investir no exterior é algo simples e tem se tornado cada vez mais frequente entre os investidores brasileiros. O meu objetivo aqui é te ajudar a entender como tudo funciona e desmistificar a ideia de que, para investir lá fora, é necessário ter muito dinheiro e abrir uma conta no exterior.

Hoje já é possível fazer tudo isso daqui mesmo, através de uma corretora ou até mesmo através de bancos sem ter que remeter dólares para o exterior. Mas vamos ao que interessa:

Por que eu deveria investir no exterior?

A principal vantagem de investir em ativos fora do país é a diversificação. Nesse sentido, você não fica exposto apenas ao cenário econômico do Brasil, mas tem a possibilidade de acessar diferentes mercados, índices e empresas da economia mundial, que reflete uma dinâmica bem diferente da brasileira, uma vez que há diferentes fatores econômicos e políticos que são considerados.

Quais os principais riscos?

Assim como no mercado brasileiro, os investimentos no exterior também estão expostos aos riscos daquele país ou mercado, uma vez que em nenhuma modalidade de investimento estamos totalmente isentos dos riscos. Por isso, é muito importante ter uma estratégia bem definida e uma boa diversificação, sempre respeitando o seu perfil de investidor e tolerância ao risco.

Na prática, como posso começar a investir?

Como meu objetivo aqui é descomplicar, resolvi elencar as modalidades mais comuns que os investidores locais têm acesso aqui no Brasil, sem que seja necessário remeter dólares ou acionar qualquer instituição no exterior. São elas:

1 – Fundos de Investimentos no exterior: essa é a modalidade mais conhecida no mercado financeiro. No entanto, quando falamos em fundos de investimentos no exterior, 20% dos ativos da carteira são alocados em ativos internacionais (ou até 40% quando se trata de fundos para investidores qualificados).

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Esses fundos são constituídos no Brasil, oferecidos por bancos e corretoras com diversas opções de fundos com diferentes estratégias de investimento. A grande vantagem é que você consegue atrelar a sua carteira a diferentes moedas como dólar, euro, ou ainda uma cesta com diferentes moedas de economias desenvolvidas e/ou emergentes. Os custos nessa modalidade são os mesmos dos fundos de investimentos no Brasil ou seja, taxa de administração (atenção para eventuais cobranças de taxa de performance) e também a tributação: 15% sobre o lucro se for um fundo de ações ou de 22,5% a 15% (tabela do Imposto de Renda) se for um fundo de renda fixa ou multimercado, porém é diretamente recolhido pelo próprio fundo no momento do resgate.

2 – ETFs (Exchange traded funds): são instrumentos negociados na B3, cujo acesso se dá por meio de uma corretora. Os ETFs são fundos de investimentos que espelham determinados índices de mercado e como você sabe, os índices são compostos por uma série de ativos e por si só, já constituem uma estratégia de diversificação.

No caso dos ETFs você passa a comprar cotas do fundo como se fossem ações. A principal diferença de um ETF para um fundo de investimento é a forma de gestão, pois fundos possuem (em sua grande maioria) a gestão ativa, que conta com gestores buscando sempre obter um retorno maior em comparação a um determinado benchmark. Já os ETFs têm gestão passiva, que buscam replicar um índice de referência, seguindo seu desempenho.

A título de exemplo, os mais negociados na B3 são:

  • IVVB11 e o SPXI11: ambos replicam em Reais a performance do S&P 500 — o índice americano que reúne as 500 maiores companhias de capital aberto dos EUA.

Os ETFs são tributados à alíquota de 15% sobre o lucro. O imposto é recolhido sobre os ganhos pelo próprio investidor, através de DARF e seguindo exatamente a mesma dinâmica das ações.

3 – BDRs (Brazilian Depositary Receipts): nessa modalidade, os ativos financeiros são recibos de empresas estrangeiras negociadas no Brasil através da B3- você também tem acesso fácil a esse tipo de investimento por meio de uma corretora no país. Apesar de ser uma forma de investir no exterior, os BDRs são emitidos por uma instituição depositária no Brasil e representam ações de uma empresa lá fora.

Os preços dos recibos irão variar de acordo com o preço das ações dessas empresas em seu país de origem e também com a flutuação do dólar, moeda na qual elas são cotadas na bolsa americana. Assim como os ETFs, investimentos em BDRs estão sujeitos à alíquota de 15% sobre os ganhos, recolhidos pelo próprio investidor.

4 – COE: o Certificado de Operações Estruturadas (COE) é uma modalidade de investimento que une a previsibilidade da renda fixa com o potencial de retorno da renda variável e permite que o dinheiro aplicado acompanhe a cotação do índice/ativo financeiro ao qual ele seja indexado.

Atualmente, muitas estratégias de COE estão atreladas a (ações de) empresas estrangeiras e também a índices e moedas como o dólar, tornando essa modalidade de investimento uma excelente alternativa para diversificação com um cenário futuro de certa forma previsível.

Os COEs são tributados pela mesma tabela de Imposto de Renda dos produtos de Renda Fixa, com alíquotas que variam de 22,5% até 15% sobre o lucro da operação, a depender do prazo de investimento. Você poderá encontrar diversas opções no mercado por meio de bancos e corretoras, inclusive modalidades de COEs que protegem 100% do capital investido no caso de desvalorização ou ainda, que garanta uma rentabilidade mínima (ou máxima) no período.

Vale a pena fazer investimentos no exterior?

Assim como no Brasil, investir lá fora também tem seus riscos e ao responder a essa pergunta devemos levar em consideração o perfil do investidor e suas necessidades para aquele momento.

Quando falamos em um horizonte de longo prazo, a diversificação é fundamental e como vimos, os investimentos lá fora nos beneficiam neste sentido. Por conta da volatilidade das moedas de maneira geral, seja uma apreciação do dólar frente a nossa moeda – ou a depreciação do Real em relação ao dólar ou outras divisas – investir no exterior se torna uma estratégia a ser avaliada como forma de diversificar sua carteira de investimentos.

Por fim, sempre recomendo não se aventurar. Se não está familiarizado com o assunto, é importante buscar mais informações e escolher um banco ou corretora de sua confiança que possa te disponibilizar análises, recomendações e também o apoio de especialistas capazes de entender seu perfil e objetivos para a tomada de decisão.

Espero que essa pílula de conhecimento tenha trazido novos aprendizados e instigado a sua reflexão sobre este tema tão interessante e importante para quem quer utilizar novas formas de investir e diversificar.

Um abraço e um feliz 2022!